Em Antonina e Matinhos as escamas e a pele dos peixes, que antes iam para o lixo, estão sendo encaradas pelas pescadoras como uma fonte de renda. A este material, elas juntam sementes locais e fibras de bananeira, criando colares e outros acessórios, capazes de agradar aos gostos mais exigentes. O próximo passo será comercializar os produtos através de uma co-operativa.
Todo esse material que era abandonado, agora é considerado precioso para as pescadoras. Os cordões dos colares são feitos de fibras de bananeira. Eles ficam expostos ao sol por dois dias, e depois são tingidos com as mais variadas cores. Os enfeites são feitos de pele de peixe, que passa por um processo de cura até que vire couro e as escamas são lavadas com cloro. Também são usadas sementes locais e fibras de coco. Depois de confeccionadas as matérias-primas, é só usar a imaginação para elaborar as peças.
As pescadoras ainda não sabem o quanto vão lucrar com a venda dos produtos, mas já conseguem vislumbrar a melhoria de vida. Jurema Andrade, 40 anos, estranhou quando disseram para ela que iria usar os restos do peixe para fazer os colares. Depois que viu a transformação ficou entusiasmada com a idéia e a chance de melhorar a renda da família, que hoje gira perto de R$ 500,00. "Se chove muito ou dá tempestade não dá para sair de barco. O mesmo acontece quando há acidentes ambientais e há as épocas em que é proibida a pesca. A renda fica menor ainda", comenta.
O mesmo ocorre com a família de Luísa Helena Ribeiro, 39 anos, onde a renda mensal não chega a um salário mínimo. Para ajudar a sustentar a casa, ela vai com o marido para o alto-mar. Há dias em que levanta às 4h e só volta para casa à noite. "Mas nem sempre a pescaria é boa", fala. Já a marisqueira Leila da Silva, 20 anos, vê no negócio uma atividade mais leve. "É menos cansativo e vai dar mais lucro", fala.
A possibilidade de melhorar de vida só foi possível devido a um projeto do governo federal que destina verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para a capacitação. Nas duas cidades, 55 pessoas passaram pelos cursos ministrados pela ONG Associação Gerações e Talentos (AGT).
O próximo passo para as artesãs será a criação de uma cooperativa.
A coordenadora-geral da AGT, Nelsi Neves, diz que existe até a possibilidade de exportar o produto. Aqui no Brasil cada peça poderia alcançar preços que variam entre R$ 30,00 e R$ 50,00. "Fizemos pesquisa e há público", diz.
Existe ainda uma grande expectativa em relação à exposição que as pescadoras vão fazer durante os encontros da Organização das Nações Unidas (ONU), em março, em Curitiba. "Esse evento poderá abrir muitas portas", fala a coordenadora. A AGT também está capacitando a população dos municípios de Guaraqueçaba, Guaratuba, Paranaguá e Pontal do Paraná. Mas nestas cidades são desenvolvidos outros projetos. Em Guaraqueçaba, por exemplo, o pescado vira hambúrguer, lingüiça e almôndega.
