Para índios, céu funciona como “espelho” da Terra

Os astrônomos conseguem observar um máximo de 88 constelações no céu do Hemisfério Sul, enquanto os indíos contam mais de cem. Para os índios, é possível determinar pelas estrelas desde a chegada do ano- novo até a quantidade de peixes disponível em determinada época. Segundo o professor Germano Afonso, titular da cadeira de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em astronomia pela Universidade de Paris, para ver as constelações ocidentais é preciso muita imaginação – não para os indígenas. Para eles, está tudo desenhado de forma bem clara. O professor Afonso profere, hoje, palestra sobre o assunto no Teatro da Reitoria da UFPR.

Segundo o professor, os índios costumam dizer que a Terra é o espelho do céu, e tudo o que acontece aqui tem algo representado também por lá. São mitos, cantos, rezas, pontos cardeais, estações do ano, clima. Enfim, existe uma relação com a vida da tribo pode ser visto lá no céu. Um bom exemplo, é a forma de perceber a passagem do ano. No primeiro dia em que as sete estrelas chamadas de Plêiades aparecem no céu, antes do sol nascer, sabe-se que um novo ano está começando.

Os índios também contam histórias para explicar os fenômenos. A constelação do Homem Velho marca a chegada do verão. Conta-se que uma mulher estava interessada em se casar com seu cunhado. Para obter sucesso, ela corta uma perna do marido, que acaba morrendo. Os deuses ficaram com pena e transformaram o homem em três constelações. Quando elas estão no céu sabe-se que é verão. “É muito fácil visualizar. Dá para ver bem, a perna cortada é uma estrela vermelha”, diz.

Existem diferenças nas constelações indígenas, dependendo da região do país onde moram. Mas as mais significativas são comuns a todos. Uma delas é a constelação de Ema. Índios de toda a América do Sul e aborígenes da Austrália a conhecem. “Não houve comunicação entre eles. O sinal no céu é muito evidente. Ela marca o início do inverno”, diz.

O professor reconhece que muitas vezes tem dificuldades para ver as constelações ocidentais lá no céu, mas afirma que mesmo uma criança é capaz de enxergar com clareza as constelações indígenas. Muitas tribos, por influência de outros povos, têm deixado de lado o hábito de observar o céu e não está mais transmitindo o conhecimento às novas gerações. O professor Afonso deve iniciar, em breve, um estudo sobre o assunto, que inclui visitas a aldeias para ensinar o conhecimento perdido.

A palestra na Federal é promovida pela ONG Novo Encanto Ecológico, que tem o objetivo de resgatar o lado sagrado e espiritual do ser humano, por meio de um conhecimento aprofundado da natureza. Além da palestra, haverá dois dias de encontro em uma área de preservação ambiental em Antonina, onde será observado o céu, serão percorridas trilhas ecológicas e haverá informações sobre a vida indígena. A palestra começa às 19h30. A entrada é 1 kg de alimento. O encontro em Antonina será nos dias 22 e 23 a um custo de R$ 100,00 incluindo transporte, alimentação e hospedagem. Os interessados podem ligar para (41) 369-2021 ou (41) 9996-5502.

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