Pacientes conveniados ao Sistema de Assistência à Saúde (SAS), que atende os servidores estaduais do Paraná, estão se “acostumando” com a triste rotina de recorrer ao sistema de saúde particular, e em alguns casos mais extremos, até ao Sistema Único de Saúde (SUS). O convênio, que apenas em 8 meses recebeu R$ 6,5 milhões em repasses do governo, além de não atender aos servidores, tem contribuído para aumentar as já enormes filas do SUS.

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Como aconteceu com Fábio Nunes, servidor do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que aguardava receber o 13.º salário para pagar uma cirurgia de emergência para retirada de uma pedra na vesícula de sua esposa. Nunes viajou de Morretes a Curitiba, na última segunda-feira, e devido a um atraso de dez minutos para chegar à consulta, em função de um acidente que ocorreu na estrada, teve que aguardar três horas para ouvir da médica que o clínico geral já havia ido embora e ela apenas poderia recomendar um remédio para aliviar as dores.

“Apresentamos exames e mesmo a médica vendo que ela estava com fortes dores abdominais, apenas orientou para marcarmos nova consulta com o clínico geral”, relata Nunes. Pelo procedimento do SAS, Nunes e sua esposa, Rosemari Borba Nunes, deveriam aguardar a avaliação do clínico geral, para depois agendar uma nova avaliação com um especialista, para só então entrar na fila de espera para a cirurgia. O servidor conta que Rosemari sofre todos os dias com fortes dores no abdômen “como se a barriga fosse explodir”. No final da tarde de ontem, após cinco dias de espera, ele informou que a esposa estava fazendo uma ecografia para depois passar pela cirurgia. “Só depois que fizemos a denúncia e procuramos a imprensa, a situação foi resolvida”, comentou.

Segundo a Secretaria de Estado da Administração e Previdência (Seap), gestora do SAS, “por não se tratar de caso clínico de internamento imediato e para evitar deslocamentos desnecessários, visto que se trata de beneficiário de fora do município, o hospital programou fazer em um mesmo dia a avaliação por parte da equipe cirúrgica, o internamento e a programação da intervenção, o que está ocorrendo no dia de hoje (ontem). Não há necessidade de o servidor custear despesas com qualquer procedimento médico”.

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Pacientes buscam clínica particular

O descaso não acontece apenas com Nunes. O professor Jaime Tadeu da Silva, assessor da secretaria de Políticas Sociais da APP-Sindicato, também se queixa da demora em marcar consultas e teme pela própria saúde. “Independente da gravidade, o SAS leva no mínimo três meses para marcar um atendimento, e ainda assim parece que eles te atendem com pressa”, conta. De acordo com ele, o sistema já apresentava deficiências quando era operado pelo Hospital da Polícia Militar. “O corporativismo da PM causava constrangimento porque eles tinham prioridade no atendimento. Achamos que com o Hospital da Cruz Vermelha fosse melhorar”, diz.

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A lentidão do atendimento levou o servidor Caleb Garcia a pagar do seu próprio bolso um exame de ultrassonografia, que pelo SAS só sairia em março de 2014. “Mesmo em caráter de urgência ia ficar para o ano que vem. Então, para agilizar meu tratamento de tireoide paguei o exame em uma clínica particular mesmo”, conta. Segundo o servidor, colegas que possuem quadros mais graves encontram maior facilidade pelo SUS. “É comum, que mesmo com o convênio, servidores procurem o SUS, porque se precisar de internação ou de uma cirurgia pelo SAS, esquece!”, afirma.

Custo de R$ 147 mi por ano

Em nota, a Seap informou que os casos clínicos que dão entrada no hospital são analisados por médicos, “que têm autonomia e responsabilidade para definir as prioridades e a melhor conduta, a ser seguida, não cabendo ao Departamento de Assistência à Saúde (DAS) da secretaria interferir nessa decisão, e sim avaliar a qualidade da prestação de serviço”. Médico auditor e equipe técnica avaliam as ocorrências registradas pelo canal de atendimento ao usuário (fale conosco na sasweb e telefones (41) 3313-9882/3313-6160).

A Seap afirma que o Sistema de Assistência à Saúde do Servidor (SAS) é um benefício custeado integralmente pelo governo do Estado, sem qualquer contrapartida do servidor, e oferece gratuitamente, sem limites de utilização, consultas médicas, exames e internações hospitalares, inclusive em UTI. Para este ano, o orçamento foi de R$ 147 milhões. São 433 mil beneficiários – 223 mil servidores e 210 mil dependentes.

O Hospital da Cruz Vermelha começou a atender o SAS no dia 20 de agosto e vem recebendo mensalmente, em média, R$ 3,3 milhões para prestar gestão de saúde a 114 mil beneficiários civis. O hospital vem atendendo, em média, 12 mil usuários por mês.