Ouvidora negocia saída do MST da Fazenda Araupel

A carreata de produtores rurais que estava programada para acontecer ontem em Curitiba foi frustrada. Apenas três pessoas apareceram no Aeroporto Afonso Pena, de onde partiriam os manifestantes rumo ao Palácio Iguaçu. Dois dos produtores vieram de Manoel Ribas, região centro-sul do Paraná, com o objetivo de apanhar o presidente do Sindicato Nacional dos Produtores Rurais (Sinapro) – que estava organizando a carreata -, Narciso Rocha Clara, mas, ele não desembarcou.

Na quarta-feira, o governador Roberto Requião pediu a prisão de Clara, que já responde por diversos processos criminais no País. No último deles, em Carapicuíba (SP), foi condenado à prisão e conseguiu a liberdade provisória sob pagamento de fiança. A alegação de Requião é que o sindicalista estaria infringindo a legislação ao sair de São Paulo, e perderia a liberdade ao entrar no Paraná. A bronca maior do governador com o presidente do Sinapro foram declarações do sindicalista afirmando que Requião estaria dando cobertura e incentivando o movimento dos trabalhadores sem terra (MST) no Estado a invadir áreas.

Na manhã de ontem uma equipe do Cope (Centro de Operações Especiais Policiais) fez plantão no aeroporto. De acordo com o delegado- chefe do Cope, Luiz Carlos de Oliveira, a prisão do sindicalista foi pedida porque ela estaria inflamando uma categoria contra o governador e afrontando o mandatário do Estado.

O sindicalista ingressou com um pedido de habeas corpus preventivo no Tribunal de Justiça do Paraná, mas até o início da tarde a liminar não havia sido concedida. Segundo o delegado do Cope, se Clara conseguir o documento não poderá ser preso, mas suas ações serão acompanhada com atenção. “Se ele cometer algum abuso vai ser enquadrado”, disse.

O presidente do Sinapro confirmou que não veio para Curitiba em função das ameaças do governador. Porém, garantiu que assim que a liminar foi concedida, virá imediatamente ao Paraná.

Além do habeas corpus no Tribunal de Justiça do Paraná, a assessoria jurídica do Sinapro também solicitou um habeas corpus de salvo conduto junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo. Com isso, o sindicalista teria assegurado trânsito livre em todo o território nacional, por um período de oito dias conforme prevê o código de processo penal.

No final da tarde de ontem, o juiz Marcelo Ferreira, da Central de Inquéritos, negou pedido de prisão preventiva contra Clara.

Ouvidora leva proposta a sem-terra

A reforma agrária vai sair do papel no Paraná. Ao menos esta foi a promessa da ouvidora agrária nacional, Maria de Oliveira, feita ontem às lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) que ocupam desde sábado a Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu. Conforme o sem-terra Adélson Schwalemberg, a ouvidora se comprometeu através de um documento assinado por ela e lideres do MST, a desapropriar cerca de 40 mil hectares da Fazenda Araupel. Além disso, o governo federal teria se comprometido a fornecer sementes e insumos aos sem-terra já para próxima safra.

Schwalemberg destacou que pelo acordo os sem-terra sairiam da área onde estão agora, indo para outro local dentro da fazenda, onde não atrapalhem a retirada de madeira por parte da empresa. “Vamos sair assim que o governo nos forneça lonas e de infra-estrutura como luz e água no outro local. Quero reafirmar que o movimento luta por terra e não quer ocupar a indústria da Araupel”, ressaltou. O sem-terra lembrou ainda que pelo acordo firmado ontem, o governo irá garantir segurança ao MST. “Vão acabar com as ameaças da empresa. Além disso, pedimos que tanto o governo federal como o estadual vistoriem os silos da empresa. Suspeitamos que haja produção de soja transgênica”, revelou, lembrando que a produção de produtos transgênicos é uma condição para desapropriação de terras.

Reunião

Após se reunir com os sem-terra, a ouvidora, acompanhada do procurador-geral do Estado, Sérgio Botto de Lacerda e do diretor-geral da Secretaria de Segurança Pública, Marco Antônio Berberi, encontrou-se com diretores da Araupel. Segundo o gerente de recursos humanos da empresa, Alberto Pius, apenas a relocação dos sem-terra para outro local ficou definida. “Não queremos que eles se mudem para dentro da fazenda”, disse, destacando que a Araupel não tem interesse em se desfazer de suas terras. Mesmo assim, na tarde de hoje, representantes dos governos estadual e federal vão se reunir com a diretoria da empresa em Porto Alegre.

Desocupação

O governador Roberto Requião (PMDB) autorizou a desocupação, a partir da próxima segunda-feira, da Fazenda São José, no município de Campina da Lagoa. Cerca de 30 famílias ocupavam área de 500 hectares há mais de dois anos.

Voltar ao topo