Omissão mata em Piraquara e Ribeirão do Pinhal

O descaso com a vida humana chegou ao extremo no município de Piraquara. Vizinhos do catador de papel Marco Antônio Domingos, 43 anos, fizeram uma verdadeira ?via sacra? em busca de socorro médico, na tentativa de salvar a vida dele. Tudo em vão. Ele morreu no início da manhã de ontem, mas seu corpo só foi levado pelo Instituto Médico Legal (IML) no final da tarde. Segundo Martinho Alves do Prado, vizinho que costumava ajudá-lo, ele foi vítima de omissão de socorro.

Marco Antônio morreu em cima de sua cama, no casebre em que vivia, num terreno baldio, próximo a Avenida São José, no bairro Guarituba. Portador de hepatite e cirrose, o catador de papel estava muito doente há dez dias, e desde então não conseguia mais andar e falar. Na manhã de terça-feira, Martinho e seu irmão foram até a casa do vizinho levar comida, quando perceberam a gravidade do seu estado de saúde.

Ele e outros vizinhos então ligaram para o número 190 em busca de socorro, mas tanto a Polícia Militar quanto o Siate disseram que nada poderiam fazer. Martinho resolveu chamar a assistência social do município e pediu que uma ambulância fosse até o local, buscar Marco Antônio. ?Eles ficaram de me ligar, mas não retornaram. Então, fui até o pronto-socorro do Hospital de Piraquara e pedi ajuda. Lá eles falaram que o atenderiam desde que nós o levássemos até o hospital, pois no momento eles não tinha ambulância disponível para buscá-lo?, conta, indignado, o amigo da vítima. Os vizinhos do catador reuniram-se e conseguiram uma Kombi para transportá-lo. ?A gente arrancou a tábua do banheiro dele, que fica do lado de fora da casa, e improvisou uma maca. Quando conseguimos interná-lo, já era final da tarde?, contou Martinho.

Por volta das 22h Marco Antônio recebeu alta e foi levado por uma ambulância até sua casa. No hospital, foi medicado e recebeu a guia de internamento para ser levado na manhã de ontem ao Hospital San Julian, em Piraquara, especializado em tratamento de dependentes químicos. Porém, o homem não resistiu e morreu às 6h da manhã de ontem. ?Ele deveria ter ficado internado e não ter voltado para casa daquele jeito. É uma vergonha, só porque ele é pobre. Nós fizemos tudo o que podíamos, mas nada adiantou. Um verdadeiro descaso com a vida humana?, conclui Martinho.

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