Ocupação convive com risco de alagamento em São José dos Pinhais

Grandes enchentes são rotina para quem vive em áreas de ocupação irregular em São José dos Pinhais, que se concentram à beira dos rios Ressaca e Itaqui. Ao contrário das ocupações dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba já mostradas pela série de reportagens de O Estado, as de São José são mais antigas. Algumas datam do final dos anos 1950.

Pela proximidade com os rios, alagamentos sempre aconteceram e a população está cansada. Muitos querem reiniciar a vida em outro lugar, sem saber muito bem onde. Uma das moradoras mais antigas da Vila Idalina, às margens do Ressaca, é Maria Isabel de Lima, que passou mais da metade da vida ali. ?Já são 33 anos aqui, com o mesmo problema, que só aumenta. Agora, é só o tempo começar a fechar e a gente já coloca tudo em cima dos móveis, aguardando a água?, contou.

É o que também faz o casal Teófila e Geniplo do Nascimento, há oito anos na Vila, vindos de outra ocupação, a Riacho Doce. ?Nosso presente de Natal, todo ano, é a enchente?, lamentou Nascimento, enquanto mostra as perdas que já teve. ?Estragou nossa máquina de lavar roupa, a máquina de costura. O assoalho, de tão úmido, não seca mais?, completou.

Para tentar viver com um pouco mais de tranqüilidade, a solução é ser criativo. No caso de Iraci Fernandes, de 66 anos, a alternativa foi construir uma casa num nível acima do chão, com palafitas. É uma das únicas casas que não alaga quando o rio transborda.

Como se não bastasse o desastre causado por cada nova enchente, os moradores convivem com os assaltos. ?Quando o Corpo de Bombeiros chega e querem nos levar para o ginásio de esportes, muitos preferem ficar e cuidar dos pertences?, disse Maria Isabel.

Sem resposta

Há exatamente um ano, aconteceu uma das piores enchentes na Vila Idalina. Depois de mais esse alagamento, funcionários da Prefeitura chegaram a dizer aos moradores que iriam retirar as famílias que moram a até 30 metros do rio. Depois disso, nunca mais tiveram notícias das autoridades. ?Não acreditamos em mais nada?, disse a dona de casa Solange Martins, resignada.

Mas agora a Secretaria Municipal de Habitação diz que vai agir. Nesta semana, o município recebeu R$ 4 milhões do Ministério das Cidades. ?Esse valor será utilizado para a remoção de 179 famílias que vivem às margens do rio Ressaca, que inclui a Vila Idalina, além de obras de limpeza do rio?, afirmou o secretário de Habitação, Miguel Ferreira de Paula.

Além disso, para o Jardim Modelo, que tem 200 famílias, ainda para este ano está prevista a instalação da rede de esgoto. Outra grande ocupação é a do Jardim Independência, propriedade do governo estadual, com cerca de 500 famílias. ?Na criação do Parque Iguaçu, 100% das famílias foram retiradas, mas voltaram para lá?. A secretaria de Habitação espera que o governo estadual defina os limites da área para estudar uma solução.

Problema antigo

Como os moradores da beira dos rios estão lá há décadas, não existe só o problema de ocupação irregular. ?Muitos lotes estão regularizados, pois a 40 anos não havia a legislação federal que prevê distância do rio para preservação ambiental?, explicou o secretário.

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