Campo do Santana

Obras na BR-116 ameaçam deixar família presa

Em 1982, seu Normelio Bertolozzo comprou um terreno no bairro Campo do Santana, bem na beira da BR-116.

Lá, ele construiu sua casa e a fábrica de tijolos e telhas que serve de sustento para sua família.

Na época, Normelio jamais poderia imaginar que a rodovia, que ajudou a impulsionar seu negócio durante três décadas, pudesse se transformar em um grande problema, que ameaça até o seu direito de ir e vir.

As obras de duplicação da BR-116, no trecho entre Curitiba e Fazenda Rio Grande, se tornaram um verdadeiro transtorno para o comerciante e sua família.

A concessionária que administra a estrada está ameaçando fechar o único acesso de sua casa e de seu negócio à rodovia se ele não construir e pavimentar uma pista lateral, nos moldes exigidos pela empresa pedageira.

“Um funcionário veio aqui e disse que eu preciso contratar um engenheiro e construir a pista marginal, com área de escape. Tudo por minha conta. Deram um prazo de 90 dias dias para que eu providencie tudo, ou vão fechar o meu acesso”, conta Normelio. “Disseram que é uma lei dos anos 1950, mas quando eu fiz a minha casa e durante todos esses anos ninguém falou que era irregular”, protesta.

O único acesso à propriedade do comerciante é uma rua de terra que começa na beira da BR. “Não tenho nenhuma condição de fazer o que eles pedem, nem fui atrás. Se fecharem, não vou poder sair de casa. Vamos ficar presos, pois não tem nenhuma outra entrada para a rodovia nem rua que chegue aqui”, constata Normelio, que se diz desesperado com a situação.

Ele conta que as obras de duplicação, que começaram em outubro de 2011, já obrigaram seu filho Norberto a mudar sua loja, que vende os produtos fabricados pelo pai.

“Ele perdeu um monte de vendas e teve de alugar quatro terrenos no centro de Fazenda Rio Grande, porque os clientes não conseguem mais chegar mais aqui”, afirma.

Os problemas causados pelas obras são tantos que Normelio diz que preferia a velha BR não duplicada, com todos os seus defeitos. “Eu pago pedágio, IPVA, IPTU, um monte de impostos e ainda preciso pagar do meu bolso a construção de um acesso desses? A rodovia duplicada vai ficar boa para quem transita, mas para quem mora aqui é só dor de cabeça”, conclui.

Para pedageira, falta projeto

A Autopista Litoral Sul informou que a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que é o órgão regulador da concessão, determina que todos os acessos – particulares ou do município – irregulares sejam fechados, porque são carentes de sinalização e apresentam perigo aos motoristas e pedestres.

Porém não haverá nenhum bloqueio até que haja uma definição do Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e da Coordenação da Região Metropolitana (Comec) sobre a questão.

Em nota, a concessionária alegou que “o acesso do senhor Normélio é essencialmente irregular”. Segundo a pedageira, técnicos foram até a propriedade dele e disseram que se ele deixar a marginal em condições de trafegar, o acesso continua aberto e a concessionária sinaliza.

“A Autopista ainda ofereceu ajuda, porque ele tem que apresentar um projeto simples, sem a necessidade de asfalto, e os técnicos levam até a ANTT. Mas, nada pode ser feito sem a autorização da ANTT. Se a ANTT não autorizar, o acesso será fechado. Mas, se ele apresentar um projeto justificando a necessidade dele de ter o acesso, tem grandes possibilidades de ganhar”, diz o comunicado.

Comunidade cobra retornos e trincheiras

Gerson Klaina
Jadir apela ao Ministério Público.

Além das pessoas que têm casas ou comércios na beira da estrada, a duplicação da BR-116 está dificultando a vida de toda a comunidade dos bairros Campo do Santana e Caximba.

A principal queixa é em relação à falta de retornos e trincheiras, o que vai obrigar os moradores a dar longas voltas quando precisam ir em direção ao centro de Curitiba ou para Fazenda Rio Grande.

“Estão instalando um muro para impedir a travessia da pista. As pessoas não poderão passar de um lado para o outro. As trincheiras que estão previstas ainda nem começaram a ser construídas. Quem está aqui e precisa fazer um retorno vai ter que andar mais de dez quilômetros até o Tatuquara ou até o centro de Fazenda Rio Grande”, diz o comerciante Jadir Silva de Lima, presidente da Aliança para o Desenvolvimento Comunitário da Caximba (Adecom), entidade que representa os moradores da região.

A Adecom está pedindo a intervenção do Ministério Público para resolver o problema. “Protocolamos um ofício na Promotoria de Urbanismo. Queremos que eles identifiquem os responsáveis e recomendem a construção imediata das trincheiras, que são uma necessidade urgente da população”, explica Jadir.

Uma das trincheiras necessárias, na Rua Jorge Tortato, está com sua execução ameaçada. “Ela fazia parte do Corredor Metropolitano, obra que foi excluída do PAC da Copa. Estamos com esperança de que façam alguma coisa porque a Copa está aí e vai ser muito feio o pessoal protestando, para toda imprensa internacional ver”, afirma Jadir.