O Estado, 53 anos de olho no futuro

Caldeiras de chumbo, linotipos, máquinas de escrever, Phótons, paginação, fotolito, internet, rotativas de última geração. As evoluções tecnológicas calcaram o desenvolvimento de um dos maiores jornais da comunicação brasileira. Em 17 de julho de 1951, circulava pela primeira vez o matutino O Estado do Paraná, o primeiro veículo do Grupo Paulo Pimentel (GPP).

O jornal comemora hoje 53 anos, visando manter a tradição e seguir o destino de acompanhar a inovação, sempre fazendo um jornalismo compromissado com a verdade. Desde a primeira manchete, “Demite-se o gabinete de Gaspari”, o jornal nunca abandonou a linha editorial baseada na liberdade de expressão.

No começo de O Estado, as notícias do cenário internacional eram captadas na Rua Mateus Leme e levadas de bicicleta até a redação, a primeira da história do jornal, localizada em um velho casarão na esquina da Rua Vicente Machado com a Praça Osório. As informações vinham por meio da radiotelegrafia, descritas em código morse e castelhano. Depois disso, vieram o hallschreiber (tecnologia em que um sinal de rádio era traduzido e passado para uma fita), o telex, o fax e a internet, o que facilitou ainda mais a cobertura jornalística do Brasil e do mundo. “A evolução dos meios de comunicação foi tão violenta nos últimos anos que mudou tudo. Até 15 anos atrás era impossível atingir as fontes. Hoje, de Curitiba, temos contato com a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York quase instantaneamente”, conta Mussa José Assis, diretor-geral de O Estado. “Os jornais trabalhavam com agências e não podiam checar e complementar as informações. Hoje é mais fácil, pois com facilidade você obtém até decisões de tribunais pela internet. O grande progresso da informática deu ao meio impresso mais rapidez e mais universalidade.”

O jornalista Raphael Munhoz da Rocha, 77 anos, está em O Estado desde a sua fundação, sempre levando até o leitor as notícias do turfe, dentro da Editoria de Esportes. Ele acredita que não conseguiria produzir hoje um jornal da mesma forma que era feito antigamente. “Foi difícil aprender a mexer no computador, principalmente depois de certa idade. Mas é muito mais fácil trabalhar assim”, reconhece. “Até mesmo no turfe as notícias chegam pelo e-mail. Eu, porém, nunca vou deixar de ir às corridas para colher as informações.”

Surpresa

Assis explica que a tecnologia vivida atualmente pelos meios de comunicação impressos é uma surpresa. “Ficamos 600 anos parados a partir de Gutemberg, que inventou os tipos móveis, permanecendo até a década de 1950 exatamente da mesma maneira. O progresso foi violento entre os anos 50 e 80. Depois dessa data até agora, praticamente virou de ponta-cabeça”, conclui.

“O jornal é o veículo-mãe”

O diretor de O Estado conta que existiram muitas projeções alarmistas sobre o futuro do jornal, que não se confirmaram. Quando apareceu o rádio, disseram que o veículo impresso sumiria. Os dois desapareceriam com a expansão da televisão. E, por último, a internet (com suas informações sintetizadas) faria com que todos os meios criados anteriormente fossem desprezados. “Nada disso aconteceu, e ainda foram invertidos os papéis. Quem tem a maior capacidade de publicar matérias completas é a internet. O jornal e a televisão não têm espaço. O que emperrou o meio eletrônico foi o alto custo da impressão. O jornal continua sendo o veículo-mãe, e o meio eletrônico nunca terá o peso do meio impresso”, avalia Mussa.

Na opinião dele, o jornal deve mudar a sua linguagem para acompanhar esse cenário: “Os meios impressos precisam se adequar. A notícia tem que ser mais explorada, com grandes reportagens. Cada vez mais o jornalismo está específico. O jornalista necessita ser especializado no assunto para traduzir ao leitor o que a notícia representa, e a sua repercussão”, observa.

A evolução tecnológica continua e nunca vai parar. “Não tem como pensar em projetar o futuro sem acompanhar a evolução e ir se adaptando. O grande segredo de O Estado do Paraná, desde a fundação, é nunca ficar atrasado quanto à inovação. E, nos próximos 53 anos, continuaremos fazendo isso. Nunca poderemos fechar os olhos, para não sermos atropelados”, acrescenta Mussa.

A história de O Estado se confunde com a história paranaense e brasileira. O compromisso de deixar o Paraná informado é renovado a cada dia, e ficou claro em diversas coberturas, como na morte de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, quando o jornal circulou com uma edição extra; na invasão do mar em Guaratuba; no desmoronamento do Edifício Atlântico, na mesma cidade; na explosão de um caminhão com 1,5 tonelada de dinamite no Cabral; no inverno de 1975, quando nevou em Curitiba; na visita do papa João Paulo II, também em Curitiba; na elaboração e aprovação da Constituição de 1988; no impeachment de Fernando Collor de Mello; na eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva; entre outros fatos marcantes.

Outro exemplo da interação entre as histórias de O Estado e do Brasil foi a censura na redação durante a ditadura militar – a primeira no País a sofrer com o Ato Institucional n.º 5, que em 1968 instituiu a censura prévia. Depois de os espaços em branco aparecerem no lugar das reportagens vetadas, o jornal usava metáforas, trabalhava mais as manchetes e publicava fotos em situações inusitadas. Esta foi uma das fases mais difíceis do jornal.

Prêmio Esso

Apesar das dificuldades que acompanharam o seu desenvolvimento, O Estado ganhou três edições do Prêmio Esso de Jornalismo, um dos mais importantes do Brasil. O primeiro veio com Percival Charquetti, em 1956, pela série de reportagens “Garimpo, Terra de Canaã”. Doze anos depois, foi a vez de Edison Jansen ganhar o prêmio na categoria fotografia com a imagem de um estudante enfrentando a polícia montada com um pequeno estilingue. O mais recente foi conquistado por Mauri König, em 2001, com uma matéria que denunciava o recrutamento irregular de jovens brasileiros para o serviço militar das forças armadas do Paraguai. (JC)

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