Notificação de casos de Aids em idosos tem aumentado

A notificação de casos de aids entre os idosos só tem aumentado. Dados do último Boletim Epidemiológico Aids e DST, do Ministério da Saúde, indicam que desde 1980 foram 18.712 casos em pessoas acima dos 60 anos.

Somente no ano passado, o Ministério da Saúde teve 1.620 notificações em homens e mulheres nesta faixa etária – contra 682 registros em 2000. No Paraná, o número de casos em pessoas acima dos 50 anos representa 11,24% do total, enquanto as ocorrências entre jovens (entre 20 e 34 anos) somam 40,13% dos casos.

O aumento da expectativa de vida da população e o comportamento social dos idosos, bem mais ativo do que em décadas anteriores, são dois motivos que explicam este cenário. “O boom aconteceu mesmo a partir dos remédios para a disfunção erétil. Com isto, os idosos conseguiram manter relações por mais tempo. Além disto, o idoso encara a camisinha apenas como um método anticoncepcional. E existe também a dificuldade para colocar o preservativo, de manusear mesmo, além do medo de perder a ereção”, explica Clóvis Cechinel, geriatra do Laboratório Frischmann Aisengart.

O comportamento da mulher idosa também mudou ao longo dos anos e incentivou mais relacionamentos na terceira idade, mesmo os casuais. A mulher com mais de 60 anos trabalha, vai na academia e tem mais independência. “A mulher tem uma independência econômica, cultural, viaja mais. Os valores culturais para os idosos mudaram e, com isto, veio uma situação de vulnerabilidade. A mulher já admite ter outros parceiros e ter uma vida sexual ativa, mas muitas vezes sem o uso do preservativo”, analisa Elisete Maria Ribeiro, coordenadora do programa estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e Aids da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Idade avançada dificulta diagnóstico

Os idosos têm mais dificuldade de conversar sobre a vida sexual e os perigos em torno disto com os médicos e com a família. Até mesmo não se vê nas campanhas educativas, mais voltadas para os jovens, na opinião do geriatra Clóvis Cechinel. “A aids ainda é uma doença estigmatizada e este diagnóstico para o idoso é uma situação difícil para ele trabalhar”, alerta. Ele ressalta que os médicos que receitam os comprimidos para a disfunção erétil devem fazer toda a orientação para os homens sobre a aids e as DSTs.

O Ministério da Saúde avisa que, diante da fragilidade do sistema imunológico de quem tem mais 60 anos, o diagnóstico de infecção por HIV pode ser mais difícil. Alguns sintomas da aids podem ser confundidos com outras doenças. Com isto, há um risco grande de diagnóstico tardio. “Muitos não sabem que têm e, quando sabem, logo morrem. Em um caso de pneumonia que não reage ao tratamento, por exemplo, somente depois é feito um exame para diagnosticar a aids. Quando sabe, já existem outras infecções e, por isto, a mortalidade é maior”, esclarece Elisete Ribeiro, da Secretaria de Estado da Saúde. Não existe outra recomendação a não ser usar os preservativos e fazer o teste que detecta o HIV. A Sesa está lançando o programa Fique Sabendo, que já tem a adesão de 220 municípios, no qual será possível fazer os testes nas unidades básicas de saúde.

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