Nossos juízes, vossas vidas

Não há mais tempo para calar. E será da somatória do exercício do falar, e de posturas firmes, que a tristeza e a indignação farão voltar os tempos de alegria. Em espaço de poucos dias, dois magistrados brasileiros foram assassinados. Mortes anunciadas. Ameaças concretizadas porque eles não macularam a honra ou a justiça, e fizeram do trabalho diário a bússola necessária para aqueles que atuam na garantia da paz social. Os juízes Antonio José Machado Dias e Alexandre Martins de Castro foram mortos, tiveram suas vidas brutalmente interrompidas. Vidas que se vão. Luzes que orientam. Não há mais tempo para calar. Rostos que até ontem viviam no anonimato da função-juízes dignos e honestos -, a exigir o cumprimento da lei, encontram-se agora, involuntariamente, nos meios de comunicação a denunciar o estágio a que chegamos.

Ano passado estive na Colômbia, e, caminhando pelas ruas e praças de Santa Fé de Bogotá, pude ver pessoas, famílias inteiras vivendo ao relento, todas fugitivas de pequenos vilarejos em face da violência. O mal de lá é gêmeo do de cá. E do encontro de olhares, a confirmação de que não é este o tipo de vida que desejamos. Vivemos em uma sociedade pluralista, com vocação democrática e eminentemente pacifista, e não será o jogo de alguns que imporá a dor e a insegurança. Verte da consciência de cada cidadão que nossos sonhos com o amanhã não podem ser subtraídos por figuras do mundo paralelo.

E somos tantos. E o sofrimento de um atinge aos demais, e da vinculação nos fortaleceremos em elo afetivo. Vidas que se encontram. Vidas que se somam em poder de mudança, a depositar na lápide dos valorosos o reconhecimento de uma nação.

(*) Vicente Del Prete Misurelli, juiz de Direito Substituto em Segundo Grau.

O posicionamento oficial do Tribunal de Justiça do Paraná ante aos fatos recentes, se traduzem na sensibilidade das palavras do juiz Vicente Del Prete Misurelli, que em visita recente à presidência, deixou registrado seu pensamento através do texto acima.

Temos que estar atentos com esta preocupante situação pela qual passam os magistrados, buscando também o respaldo das demais autoridades constituídas, para que possamos dar um basta à atividade do crime organizado.

Quando um dos poderes do Estado é atingido de forma tão covarde, todos os demais alicerces da democracia restam abalados. Se o regime democrático não é perfeito, é o melhor dentre os existentes e como tal, sua preservação é tarefa de todos e de cada um, individualmente.

O Tribunal de Justiça se solidariza com a magistratura brasileira e, especialmente, com os tribunais de São Paulo e do Espírito Santo, pela perda de dois de seus integrantes.

Tenho certeza de que a nação brasileira, através de seus poderes, haverá de vencer a luta que ora se inicia com rigor, em todos os níveis, contra a delinqüência criminosa organizada.

(**) Desembargador Oto Luiz Sponholz, presidente do Tribunal de Justiça.

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