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No Pinheirinho, famílias não querem deixar suas casas

Cerca de setenta famílias que vivem em área de risco na Vila Ulisses Guimarães, perto do córrego Ribeirão dos Padilha, no Pinheirinho, travam uma batalha com a Companhia de Habitação Popular (Cohab) para só deixarem suas casas se forem recompensadas de maneira mais atraente. A proposta, segundo os moradores, é uma troca das residências que eles construíram nos últimos 15 a 20 anos, para outras de até 45 metros quadrados, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) ou Vila Osternack, dependendo do tamanho da família.

A diarista Beatriz Rodrigues dos Santos, 30 anos, já aceitou a troca de local, mas está em desespero por ter de encontrar uma forma de acomodar 14 pessoas numa casa de 45 metros quadrados. “Moramos em duas casas. Como vamos colocar todo mundo numa casa só, de três quartos? Nossa casa realmente alaga quando chove, mas queria ao menos a minha casinha, não colocar todo mundo junto no mesmo espaço”, reclama a moradora, que hoje divide o terreno com a casa da mãe.

A preocupação maior do comerciante Antonio Fortunato, 43, é com a esposa, Viviane Mendes da Silva, 38, que tem sequelas de poliomielite. A casa ofertada a eles é na CIC, com subidas que podem prejudicar a locomoção da mulher. O casal tentou com que a Cohab os mudasse para a Vila Osternack, mas sem sucesso, sob alegação de que a família é pequena. “Ela é deficiente, eu também sou, mas para ela é mais complicado e para chegar ao ponto de ônibus tem uma subida muito forte. Ela usa aparelho e uma bengala de apoio. Mas a Cohab não nos ouve. Onde está nosso direito?”, questiona Antonio.

Já os moradores que permanecerão na vila reclamam que terão de pagar pela regularização dos terrenos. “Moro aqui há 18 anos. Estão querendo me vender um terreno que é meu por direito. Não tinha escritura, estou pagando tudo, mas eles não deveriam fazer isso”, opina o aposentado Ocales Fuzinatto, 73.

A reportagem não conseguiu contato com representantes da Cohab.

Marco André Lima

Futuro incerto

Os comerciantes que terão de deixar a vila também estão bastante preocupados com o sustento de suas famílias. Com a obrigação de deixarem os imóveis atuais para ocuparem casas bem menores, ficarão sem espaço para qualquer item além dos móveis básicos. “Meu sustento sai deste pequeno bar. O que vou fazer sem isso aqui? E tem tantos outros comerciantes na mesma situação, sem saber o que será o futuro”, reclama Antonio Fortunato.

Valdirene Cristina da Silva, 40 anos, que ajuda o marido na administração de uma loja de calçados, também teme pelo que terão de enfrentar nos próximos meses, depois da mudança. “Meu marido levava arroz e ovo frito na marmita para construirmos isso aqui. A tia dele ainda mandou dinheiro da Inglaterra para terminarmos e agora temos que deixar tudo”, conta.

Só lamentações

Marco André Lima

Além do transtorno de mudar de bairro e trocar a escola dos filhos, se desfazer de um projeto de vida é o que mais machuca as famílias. “Não tenha forças para lutar contra isso, então decidi sair. Mas é um sonho que fica para trás. Construí esta casa com sacrifício, trabalhando como cozinheira e na nova casa nem minha geladeira deve passar pela porta”, conta a aposentada Odete Mattos da Rocha, 65, que vai levar uma filha e quatro netos para a casa na Vila Osternack.

Não ter possibilidade de negociação deixa os moradores ainda mais chateados. “N&o,acute;s não queremos sair e querem nos tirar à força. Já tentamos negociar, mas está difícil. Sofre quem tem que sair e quem vai ficar. Estamos juntos aqui desde 1992”, lamenta o eletricista Mauro Neiva.

Confira o vídeo com depoimento de moradores.

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