No Dia do Rio há pouco para se comemorar

Altos índices de poluição, resultantes do despejo de esgoto doméstico, ocupações irregulares, desmatamento e depósito de lixo. Por conta desse cenário em que se encontram os rios e afluentes que cortam Curitiba, amanhã, quando celebra-se o Dia do Rio, a cidade não tem muito o que comemorar. Apesar de diversas iniciativas para a recuperação das suas águas, o processo é lento, e os poucos resultados são muito pontuais.

É o caso do trecho do Rio Belém, entre o bairro Cachoeira e o Parque São Lourenço, que, em função de um trabalho concentrado no local, já mostra sinais positivos de recuperação. Quem afirma é a coordenadora técnica de Recursos Hídricos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente Cláudia Boscardin. “Nesse trecho existe uma parceria com a comunidade e associações do bairro”, comentou, acrescentando que esse envolvimento precisa acontecer para que os resultados sejam cada vez mais efetivos. O trabalho de conscientização das comunidades próximas aos rios de Curitiba tem sido uma das estratégias da prefeitura para tentar melhorar as condições dos mesmos. “A proposta é sensibilizar a população para que ela veja o rio com outros olhos”, comenta. Dentro desse trabalho, explica Cláudia, são distribuídos kits de monitoramento da qualidade da água para escolas e associação de moradores que fazem o controle nas suas regiões.

Mas é em uma iniciativa mais abrangente que a prefeitura está apostando todas as fichas. Lançado em 2007, o Viva Barigüi propõe uma união de todas as ações do município na bacia considerado piloto. “Ao contrário de um programa, o Viva Barigüi é uma estrutura de planejamento estratégico, que tem data para começar, mas não tem prazo para acabar”, diz a coordenadora. Segundo ela, o Barigüi foi escolhido por ser uma bacia eminentemente urbana – que sofre com todo tipo de poluição -que corta a cidade, nascendo em Almirante Tamandaré e entrando em Curitiba pela região norte, passando pelos Parques Tanguá, Tingüi e Barigüi, encontrando o Rio Iguaçu, onde faz divisa com Araucária.

Entre as propostas do Viva Barigüi, comenta Cláudia, estão a criação de outros parques ao longo do rio e a realocação das ocupações das margens. “A Cohab (Companhia de Habitação de Curitiba) já tem feito a transferência das famílias que moram nas margens do rio e, para evitar novas ocupações, serão construídas ciclovias e outros espaços de convivência”, adianta. As interferências mais significativas devem acontecer a partir de 2009, e as experiências positivas serão implantadas em outros rios da cidade.

Poluição predominantemente orgânica, gerada pela população

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) faz o monitoramento da qualidade da água dos rios que cortam a cidade desde 1992. O órgão aponta que a poluição dos rios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) é predominantemente orgânica e que, em raras situações, os rios apresentam toxicidade. Isso significa que os rios não estão comprometidos por cargas tóxicas, geradas por efluentes industriais, que causariam mortandade de peixes e poderiam afetar a saúde da população. Segundo o IAP, a densidade populacional e industrial são os principais fatores que geram a poluição.

No entanto, com base nesses monitoramentos, o IAP afirma que já foi possível observar melhora na qualidade da água dos rios Piraquara, Pequeno, Curralinho, Verde, Passaúna e Miringuava. Já os rios mais poluídos na RMC são Atuba, Belém e Barigüi. Ainda de acordo com o IAP, a maioria dos rios localizados na RMC tem apresentado estabilidade nas avaliações, principalmente nos últimos cinco anos, além de não apresentarem tendência de perda da qualidade de suas águas., (RO)

Sujeira provém ainda das ruas

Na avaliação do professor do curso de Engenharia Ambiental e do mestrado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Carlos Mello Garcias, um dos grandes problemas da poluição dos rios é a chamada poluição difusa. “É a sujeira levada pela água das chuvas das ruas, carros e telhados que acaba sufocando os rios”, explica.

Segundo Garcias, muitas pessoas não sabem que a Praça Osório, por exemplo, está sobre o Rio Belém, e que o papel que é jogado na rua vai poluir o rio. Em alguns países já existe a preocupação com a destinação da água das primeiras horas das chuvas, que levam a sujeira das ruas e dos carros para os rios.

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