Nem todos sabiam do aumento do ônibus

Os 2,1 milhões de passageiros da Rede Integrada de Transporte (RIT), que abrange Curitiba e Região Metropolitana, enfrentaram ontem o primeiro dia últil do aumento da tarifa do ônibus. O valor de R$ 1,90 entrou em vigor no feriado de Sexta-feira Santa. A expectativa era de que alguns passageiros não tivessem conhecimento do reajuste, principalmente porque ele começou a ser colocado em prática em um dia sem movimento. E isso realmente aconteceu, mas a quantidade de usuários desinformados foi menor em relação aos outros aumentos, segundo alguns funcionários da Urbs nos pontos de ônibus.

A cobradora Rosilda Vichuate, que trabalha em uma estação-tubo no terminal do Guadalupe, conta que alguns passageiros não prestaram atenção no aviso da nova tarifa e deram somente R$ 1,70. “Mas eles tinham dinheiro para repor”, comenta. Foram poucos os que realmente estavam com o dinheiro contado. “Esses eu deixei passar porque é o primeiro dia”, explica.

A cobradora Carmelita do Nascimento, que também trabalha no Guadalupe, afirma que em seu turno (período da manhã) somente um passageiro não sabia do aumento de R$ 0,20. “Está todo mundo sabendo. Não estão acontecendo confusões por causa disso”, avalia.

A vendedora Josiane Oliveira não foi pega de surpresa ontem, porque trabalhou durante o feriado e utilizou o transporte coletivo. Ela utiliza quatro ônibus por dia para se deslocar entre a sua casa e o emprego. “Eu acho um cúmulo o valor de R$ 1,90. Eu vou começar a pagar para trabalhar. Nas minhas contas, mais da metade do meu salário vai ficar comprometido com as passagens. Não vai sobrar nada”, comenta. “Eles (empresas de ônibus e Urbs) querem só ganhar e a nossa despesa só aumenta”, justifica.

A doméstica Adelina Ribeiro também não concorda com o valor de R$ 1,90. Ela sabia do aumento do ônibus e só escutou reclamação dos amigos e familares. “Ninguém está gostando. Estão todos insatisfeitos”, conta. Adelina utiliza o transporte coletivo três vezes por dia e ainda não fez as contas para saber o impacto do reajuste no orçamento familiar.

O autônomo Jorge Medeiros afirma que, se a Urbs chegou no valor de R$ 1,90, foi o resultado de um somatório de custos, como combustível e manutenção, aliados com a inflação e a defasagem salarial de motoristas e cobradores. “Especificamente sobre as perdas salariais, nós não temos nada a ver com isso. Eles não podem prejudicar um serviço essencial, pois somos nós que alimentamos a rede. Os passageiros também estão com os salários defasados e ninguém liga para isso”, fala Medeiros.

Aprovado

Já a zeladora Maria Alice Diniz acredita que o valor corresponde aos padrões da atualidade. “Você pode ir para vários lugares com uma passagem só”, explica. Ela conta que esteve em Florianópolis (SC) no início do ano e que pagou R$ 2,65 para andar de ônibus. “O pessoal está reclamando muito, mas temos essa vantagem”, avalia.

Linha da madrugada está fazendo falta

O cancelamento da linha de ônibus que funciona durante a madrugada, no bairro Jardim Graziele, em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), está causando transtornos para os moradores da região. Além de serem obrigados a pegar outra linha para voltar para casa, a violência do local, após a meia-noite, se tornou uma das principais causas para desistência dos empregos na capital.

A maioria dos passageiros que trabalha na capital e fica até à noite nos empregos não tem outra opção para retornar para a cidade, a não ser voltar em outra linha de ônibus, com paradas próximas ao bairro. No entanto, a violência no local nesse horário está impedindo que os moradores da região continuem com a rotina de trabalho.

Segundo Luiz Piva, vereador da cidade, depois de várias reclamações dos moradores, ele encaminhou um requerimento para a Urbs, pedindo a volta da linha. Entretanto, ele afirma que até o momento ainda não recebeu qualquer resposta da entidade. “Estou com uma cópia do requerimento explicando que é necessária a volta da linha, usada por muitas pessoas. Isso está afetando muita gente, pois todos os dias os ônibus sempre vinham sempre lotados. Algo tem que ser feito”, diz.

O vereador ainda relata que o medo dos assaltos passou a atormentar os moradores, pois utilizando outra linha, os passageiros do Jardim Graziele descem em locais mais distantes, tendo que andar cerca de 4 quilômetros a caminho das residências, aumentando o perigo. “Muitas pessoas desistiram do emprego por causa do perigo da violência do local. Principalmente as mulheres optaram por parar de trabalhar para não correr riscos”, completa Piva.

De acordo com o vereador, a cada dia o problema está afetando mais moradores. Um dos exemplos é o irmão de Rosa Pereira, de 23 anos, que mora na região. Ela conta que o irmão, Damião Pereira, de 28 anos, está perdendo muitos serviços em Curitiba por causa do problema. “Como ele é gesseiro, trabalha bastante à noite, restaurando construções de shoppings e outros edifícios. Sem a linha, ele tem voltado para casa mais cedo, perdendo muitos trabalhos por causa disso”, explica.

A assessoria de imprensa da Urbs informou que a linha não está operando há dois meses, e que o número de passageiros que utiliza o ônibus nesse horário é muito pequeno. Outra questão apontada pela assessoria foi que os próprios motoristas da linha reclamavam muito da falta de segurança no local e que vinham sendo ameaçados na região.

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