Na Páscoa, é preciso fortalecer a fé

Hoje é domingo de Páscoa. Para os católicos significa a passagem de Deus pela Terra. Neste dia o arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto, pede que os fiéis fortaleçam ainda mais a sua fé e acreditem na ressurreição de Jesus Cristo. Mas ele lembra também que só isso não basta: é preciso ajudar os mais necessitados. No mundo todo estima-se que há 185 milhões de pessoas sem emprego, passando todo tipo de privações.

Para os cristãos existem quatro páscoas. Fedalto explica que a primeira delas era comemorada pelo povo judeu, lembrando a libertação da escravidão do Egito. Eles celebravam com um cordeiro assado, ervas amargas e pão ázimo (sem fermento). Hoje esse povo ainda mantém a tradição e comemora com dois jantares: um com a família e o outro com a comunidade.

A segunda Páscoa é a de Jesus. Na Quinta-Feira Santa, é celebrada a Santa Ceia com os 12 apóstolos, instituindo a Eucaristia e o sacerdócio ministerial. Também lava os pés dos apóstolos mostrando humildade de caridade. Na Sexta-feira Santa morre pregado na cruz, mas ressuscita no terceiro dia. Essa Páscoa substitui a do povo judeu entre os cristãos.

A terceira acontece todos os domingos, quando é celebrada a missa. Nela é lembrado o sacrifício de Jesus, através da Eucaristia. Já a quarta é a Páscoa Escatológica, que trata do destino de toda a humanidade para uma vida nova. No dia do juízo final há dois destinos: o paraíso ou o inferno.

Para Fedalto, o verdadeiro sentido da Páscoa não cedeu lugar para o comércio desenfreado com a venda de chocolates. Segundo ele, os católicos buscam a igreja nesse período para refletir e fortalecer a fé. O arcebispo pede aos cristão que lembrem do sacrifico de Jesus na Sexta-Feira Santa, mas que vivam a alegria da ressurreição, no domingo de Páscoa. Segundo ele, também é preciso refletir sobre os problemas sociais que o País enfrenta, criando um Brasil solidário. O arcebispo também destaca a campanha da fraternidade deste ano, onde a água é o tema central. “Precisamos preservá-la. É a fonte da vida”, comenta.

Significado especial

Na Páscoa cristã, o ovo e o coelho têm um significado especial. “Os dois simbolizam a fecundidade e a vida”, explica Fedalto. A tradição de presentear as pessoas com ovos é antiga e há registros de que surgiu entre o povo ucraniano e polonês, com as tradicionais pêssankas ou pisanki. Já a tradição do coelho da Páscoa foi trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1700. O coelhinho visitava as crianças, escondendo os ovos coloridos que elas teriam de encontrar na manhã de Páscoa.

Cada povo tem um jeito especial de comemorar a Páscoa. Para os poloneses, durante a Quaresma, tudo deve ser renovado. As paredes das casas recebem pintura nova, em cores claras e alegres. A casa é impecavelmente limpa e a alma é renovada através da confissão. Na Sexta-Feira Santa jejuam e não consomem qualquer tipo de carne. No sábado a família polonesa se reúne para pintar os ovos chamados de pisanki e preparar a cesta de Páscoa que vai ser levada até a igreja para a bênção dos alimentos. Nela é colocado tudo o que é tradicionalmente consumido pelos poloneses: broa, presunto, lingüiça, manteiga, carne assada, creme de raiz forte e também as pisanki. Além de um carneirinho de manteiga -simbolizando o sacrifício de Jesus.

Esse e outros costumes ainda são mantidos pelos descendentes que moram no Paraná. Em Curitiba, a benção ocorre há 24 anos no Bosque Papa João Paulo II, reunindo dezenas de famílias. Num palco é colocada uma cruz enfeitada com flores, numa alusão à vitória de Jesus sobre a morte. Aos seus pés são colocadas as cestas e são realizadas diversas orações.

No domingo, prepara-se uma ceia farta e os alimentos bentos ganham destaque na mesa. Um dos momentos mais importantes é a divisão entre os membros da família dos ovos cozidos e pintados, benzidos no dia anterior. Cada pisanki pode transmitir uma mensagem diferente, conforme os seus desenhos. Flores significam beleza e humildade, escadas – oração; trigo -saúde e colheita; peixe – Cristo; pássaros – fertilidade. Na Polônia a comemoração continua ainda na segunda-feira com o Lany Poniedzialek, que quer dizer jogar água nos outros. A tradição ainda é muito forte em diversas aldeias polonesas.

Antes do exagero pense na balança

Na Páscoa é comum as pessoas se empolgarem e exagerar no consumo de chocolates. Mas depois de uma consulta rápida à balança, aparece o arrependimento. A nutricionista, Juliane Marques, explica que a substância contém grande quantidade de açúcar e gordura, em excesso no organismo provocam o aumento de peso. Por outro lado, consumir chocolate na medida certa é saudável, causa sensação de prazer e bom humor.

Na época de Páscoa as pessoas costumam achar que têm licença para exagerar no consumo de chocolates. Mas segundo a nutricionista Juliane é preciso ter em mente que tudo o que for ingerido a mais que o recomendável fica acumulado no corpo. Só atividade física para eliminar esse sobrepeso. Segundo ela, 30 gramas é a quantidade que pode ser ingerida diariamente. Mas as calorias devem estar distribuídas entre as 2.500 recomendadas para uma pessoa com o peso ideal. É bom lembrar que um ovo normal de páscoa de 100 gramas tem em média 550 Kcal.

O alerta também serve para as crianças. Nesta época, os pequenos ganham chocolate dos pais, avós e tios. É necessário cuidar para que consumam com moderação, tendo cuidado especial com as refeições.

Se por um lado o consumo de chocolate em excesso faz mal, a ingestão moderada só faz bem. Ele transmite uma sensação de prazer devido à liberação do hormônio serotonina, produzido pela glândula chamada hipófise, que fica no cérebro. O chocolate também tem cafeína, causando bom humor. As mulheres depois das crianças são as que mais consomem chocolates. Ficam com 40% do que é produzido e os homens com 15%.

Lojas lotaram no último dia

Como era de se esperar, as lojas e feiras que vendem artigos de Páscoa estavam lotadas ontem, em Curitiba. Por falta de tempo e até de dinheiro no bolso, muita gente deixou para a última a hora a compra dos presentes. Os feirantes estavam animados e pretendiam acabar com todo o estoque. Segundo eles, as vendas este ano cresceram 15% em relação ao ano passado.

Aparecida Vilas Boas já tinha comprado os presentes de toda a família. Mas ainda faltava da sua netinha. “Ela queria um ovo especial. Eu trabalho e não deu tempo para procurar antes”, fala. Para evitar as enormes filas, saiu de casa bem cedo e às 9h, praticamente já tinha comprado tudo.

Michele Vieira estava aproveitando o dia para conhecer as novidades da feira de Páscoa no centro da capital. Ela também faz chocolates. Inclusive, fez os presentes de toda a família. Mesmo assim, aproveitou a oportunidade para levar bolachas enfeitadas. “Tem bastante coisa diferente aqui e os preços estão dentro do esperado”, justifica.

Já Flávia Perazzoli estava à procura do presente para os pais. Ela mora em Santa Catarina e por falta de tempo deixou para comprá-los em Curitiba. Mas a decisão sobre o que levar, só viria depois de muita pesquisa. “Os artigos estão bons e os preços razoáveis”, fala. Fabíola Gervert tinha a missão de encontrar um presente para o namorado. Conta que não teve tempo antes porque estuda o dia todo. Também saiu cedo de casa para evitar tumulto. Mas na avaliação dela os preços não estavam muito bons. “Os enfeites são bonitos, mas vem pouco chocolate”, argumenta.

Entre os artesãos a expectativa de vendas era grande. Nair Ramires não sabe precisar quanto faturou nesta Páscoa, mas diz que foi mais do que no ano passado. Ela estava desanimada até a semana passada. Mas movimento ficou intenso nos dias próximos à comemoração. “Acho que foi porque as pessoas receberam e também porque muita gente deixa tudo para a última hora”, explica. A expectativa era de vender todo o estoque. “Vamos ficar aqui até acabar as mercadorias e ter gente para comprá-los”, afirma.

Malhação de Judas está perdendo a força

Sábado de Aleluia é dia de malhar Judas. Entretanto, em Curitiba, a tradição já não é tão forte quanto a anos passados. A reportagem de O Estado percorreu vários bairros da cidade na manhã de ontem e encontrou poucos bonecos representando o discípulo que traiu Jesus Cristo.

Normalmente se vincula o boneco a alguém ou algum fato da atualidade. Políticos, personalidades, times de futebol, entre outros são temas costumeiros. Com a disputa da final do campeonato paranaense entre a dupla Atletiba, os bonecos com as cores dos clubes também foram malhados, acirrando ainda mais a rivalidade. A política internacional também não ficou de fora. A ocupação norte-americana ao Iraque e o conflito entre Israel e Palestina fez com que o presidente norte-americano George W. Bush não fosse polpado pelos curitibanos.

Na Rua Guilherme Marcosin, no Uberaba, a tradição da malhação se repetiu. Um dos organizadores foi Fernando Piloni, 22 anos. “Malho Judas desde os sete anos. É algo que veio da família, da tradição do bairro. Agora estamos fazendo os bonecos e incentivando as crianças a malharem e seguirem a tradição”, contou.

A preocupação com a malhação é justificada por Fernando, que confidenciou que viu poucos bonecos nas ruas. “Este ano fizemos sete bonecos e escolhemos o tema do antiamericanismo. Todos eles estão de terno e gravata colocados numa mesa, como se estivessem jogando sem dar a mínima para população mundial”, revelou.

A dona-de-casa Rosalina da Silva Carmo, moradora do Boa Vista, foi quem fez o boneco e pendurou no poste em frente à sua casa. “É a primeira vez que resolvi fazer para que a criançada brinque”, disse, lembrando que quando criança malhou vários Judas. Embora não tenha qualquer caracterização específica, o boneco tem um nome. “É o Lula. Nosso presidente fez todo mundo de bobo”, criticou. (Lawrence Manoel)

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