Na Grande Área

Cobranças lá e cá

De modo geral, amistoso é mero passatempo. Hoje, porém, a coisa talvez seja um pouco diferente. Portugal está devendo satisfações a seu eleitorado, depois de ter levado uma boa sova dos finlandeses. Quatro a um, em casa, é um dano tal que só se repara com uma boa vitória. Por sua vez, a seleção brasileira também não vive um mar de rosas, com a implacável cobrança por Romário. Felipão só tem um jeito de aplacar o clamor popular: é descolar uma exibição convincente, hoje.

De cabeça fria, porém, há que reconhecer que a seleção não terá, na plenitude, nem Ronaldinho, nem Rivaldo, justamente, os dois mais conceituados jogadores da equipe. Ronaldinho, ainda, em recuperação, jogará só meio-tempo. Rivaldo, duplamente avariado, num joelho e num tornozelo, admitiu jogar, mas não garante nada. Pode, perfeitamente, pifar, a qualquer momento.

O jogo valeria, então, de teste pra França? Não creio. Mesmo que estraçalhe a bola, o atacante tricolor jamais desbancará Luizão. Tecnicamente, França está alguns furos acima de Luizão. Acontece que o estilo entrão do novo gremista vem a ser a única opção tática no plano de jogo do treinador. Pode chegar o momento em que a saída do time seja a bola centrada pra Luizão cabecear.

Enfim, é pena que o espetáculo de hoje, em Lisboa, possa ser comprometido por uma praga que anda vitimando grandes jogadores, mundo afora: as lesões. Rivaldo não está pior que Figo que levou uma traulitada no último jogo do Real e também desembarcou em Portugal de joelho inchado.

Os dois craques aumentam uma lista de vítimas que reúne o francês Pires, excelente volante, o zagueiro argentino Vivas, o italiano Maldini, o inglês Bechkam, os três já fora da Copa.

Para o bem do futebol, está na hora de bater três vezes na madeira…

O craque solidário

Meu personagem da semana poderia ser Parreira, que fez do jovem time do Corinthians um candidato respeitável a campeão do Rio-São Paulo. Ou, quem sabe, poderia ser o singelo cidadão Jair Picerni, cujo trabalho silencioso repôs o São Caetano na reta final de mais uma competição de realce no futebol brasileiro? Acontece, amigos, que o coração me manda ficar com Zinho, o coroa que encarna a jovialidade e o talento do time do Grêmio.

Zinho está com 36 anos. No futebol, já atingiu o que se chamaria a idade provecta. Raros, raríssimos chegam lá, imunes à voragem do tempo. Zinho não é um exemplo de milagre no futebol. É um belo exemplo de talento, de suor, de profissionalismo. Ele continua a fazer bem feito o que faz porque sempre fez com amor. Em cada um dos cinco gols que marcou, no domingo, Zinho nos deu em campo uma lição de altruísmo, e humildade, virtudes tão escassas no futebol marqueteiro de nossos dias. Futebol de narcisismos: cada um por si – e os outros que se danem. Em vez de tirar a camisa e sair correndo pelo campo, herói de si próprio; em vez de ir celebrar o gol pendurado no pescoço do ‘professor’, ele abraçava, agradecido, o colega que lhe passara a bola de cada gol que marcava. Infelizmente, a maioria dos jogadores, no mundo inteiro, não cultiva o espírito de equipe. Poucos, como Zinho, percebem o quanto de generosidade se encerra num passe que põe o colega na cara do gol. O passe é o gesto mais fraternal do jogo de futebol. “Sem a ajuda dos meus companheiros, eu não teria feito um só dos cinco que fiz” – diria Zinho, depois do jogo, ao microfone do Sportv, com a santa franqueza dos eleitos.

Excelente jogador, admirável criatura humana esse Zinho.

Rápidas e rasteiras

Ronaldo volta a jogar e, pra surpresa geral, joga bem. É, sem dúvida, um fato promissor. Não porque tenha feito gol, mas, sobretudo, porque suportou o ritmo da partida, empenhou-se o tempo todo, topou o corpo-a-corpo e acabou sendo o nome do triunfo. O testemunho é do próprio treinador do Inter, Hector Cúper. Benza-te Deus, rapaz. *** Depois de tanto exaltar a classe do goleiro brasileiro, sou obrigado a confessar que mordi minha língua: dos quatro goleiros da família Scolari, dois caíram do cavalo, no domingo passado: Rogério Ceni e Júlio César. A maior pixotada, sem dúvida, fica por conta de Rogério. Mais que frango, o dele foi um senhor tender. Marcos, por sua vez escapou, mas quase aceitou, uma bola parecida com a que descadeirou Júlio César. *** Gol bonito, mesmo, foi o que deu a classificação ao São Caetano, contra o Fluminense. E não me falem em chute ocasional ou lotérico, como quis fazer crer o técnico Oswaldo de Oliveira, no vestiário. Não foi, não. Foi deliberado, consciente. O autor, Marcos Sena, já tinha disparado duas vezes, da mesma distância, com a mesma precisão, dois torpedos de rara potência, ainda no primeiro tempo. Uma delas chegou a triscar a trave superior de Murilo, incandescente. *** A cartolagem do Botafogo abriu mão de um profissional da envergadura de Bebeto de Freitas. Imperdoável. Volta, agora, como salvador da pátria alvinegra, o banqueiro de bicho Luizinho Drumond, que promete cercar o clube pelos sete lados: da dezena ao milhar. *** O São Paulo FC faz eleição presidencial, nos próximos dias. Minha fonte garante: será uma parada duríssima entre o atual presidente Paulo Amaral e o candidato de oposição, o conselheiro Marcelo Figueiredo Portugal Gouveia. Quem ganhar, ganha por dois ou três votos de diferença. / *** Colaboração do leitor Aurélio de Oliveira, de São Paulo, pra cruzada do Mausoléu do Cartola Corrupto: “Aqui jaz um corrupto que se foi pro além/ Agora, ele descansa em paz e eu também…”

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