Mulher raspa a cabeça e desfila de biquíni na rua

A capoeirista Kátia Tavares de Souza, de 29 anos, chamou a atenção de quem passava ontem pela XV de Novembro, centro de Curitiba. Com o cabelo “a la Ronaldinho” e trajando uma camiseta estampada sobre um pequeno biquíni branco e a bandeira do Brasil nas mãos, ela desafiou os próprios limites e desfilou até a Boca Maldita. Não faltaram olhares curiosos, nem comentários, mas Kátia estava satisfeita: acabara de cumprir a promessa que havia feito, de desfilar nesses trajes caso o Brasil conquistasse o pentacampeonato.

“Achei o corte (do Ronaldo) bonito e deu certo para o Brasil. Por isso, na sexta-feira passada, fiz a promessa de que rasparia a cabeça igual se o Brasil ganhasse”, comentou Kátia ontem, antes de ser submetida à máquina zero (em toda a cabeça) e um (na franja). No entanto, dez minutos depois – tempo que o cabeleireiro Ney Dias levou para fazer o corte audacioso -, a reação de Kátia foi bem diferente. Ao se olhar no espelho, não se conteve: “Senhor Pai, o que eu fiz com o meu cabelo? Me dêem um lenço”, disse em tom de surpresa. Minutos depois, porém, já estava conformada. “Ficou legal, gostei. Fiquei com a cara do Ronaldinho.”

Para ela, o pior ainda estava por vir: desfilar pela Quinze de Novembro de biquíni. “Tenho orgulho de ser brasileira e vou cumprir essa promessa”, afirmou convicta, antes de sair às ruas rumo à Boca Maldita. Segundo Kátia, essa foi a primeira vez que fez uma promessa em Copa do Mundo. “Foi um campeonato difícil para nós, brasileiros. No domingo, quando o Brasil venceu, eu chorei de emoção. Eles (jogadores) merecem tudo, até o meu sacrifício”, completou.

Para o cabeleireiro Ney Dias, da Garden Cabeleireiros, o resultado “ficou legal.” “Mas eu não teria coragem de fazer o mesmo”, confessou. Segundo ele, a iniciativa “valeu pela promessa, pela coragem de Kátia (sua cliente há dois anos e meio) e pelo pentacampeonato.” Depois da vitória da seleção brasileira no mundial, Ney espera que outros Ronaldinhos comecem a surgir. “No sábado, veio um menino querendo raspar a cabeça igual a do Ronaldo, mas o pai dele não deixou. Meu filho também pediu para eu raspar a dele. Vou levar a máquina para casa hoje (ontem)”, contou o cabeleireiro.

Poucos vestem a amarelinha

Rosângela Oliveira

O Brasil é pentacampeão, e muita gente comemorou a vitória da Seleção até de madrugada. Mas ontem pela manhã, nas ruas do centro de Curitiba, poucos torcedores usavam roupas com as cores da bandeira do Brasil. Quem optou por sair com a camisa verde-amarela quis fazer mais uma homenagem ao time campeão da Copa do Mundo.

O estudante André Luiz Moraes de Andrade passeava com a família pela Rua XVde Novembro, e resolveu usar a camisa da seleção. Ele confessa que nunca foi fanático por futebol, mas quis fazer a homenagem depois que assistiu à partida final e gostou do desempenho dos jogadores. André saiu às ruas para ver a comemoração dos torcedores, e disse que sonha em ver o mesmo entusiasmo da população para tratar de outros assuntos como política e social. “O Brasil tem que ganhar para unir mais a população”, comenta. Morador da Paraíba, o estudante está em Curitiba desde novembro, e afirma que gostou da atenção que os portadores de deficiência física, como ele, recebem aqui, e completou: “Espero que esse entusiasmo da vitória desperte a atenção de todos para outros assuntos, como os dos deficientes”.

Usar a camisa verde-amarela para o estudante Pablo Zanotti é uma rotina. “Uso a camisa do Brasil o ano todo porque acho o futebol brasileiro primoroso”, revela. Ele comemorou a vitória da seleção na rua e disse que a partida mais difícil que a seleção enfrentou foi contra a equipe da Bélgica. A vendedora Luciana Maria de Oliveira comprou a camisa da seleção no início da Copa do Mundo, e agora diz usar a peça com mais orgulho. “Agora será comemorar todos os dias”, diz. O office-boy Juliano Martins também quis homenagear os pentacampeões e foi trabalhar, ontem, com a camisa do Brasil. Depois da partida contra a Alemanha, considerada por ele a mais difícil da Copa, Jualiano foi festejar a vitória da Marechal Deodoro.

Na loja de calçados Donatella, no centro de Curitiba, todos os funcionários estavam usando camisas com a bandeira do Brasil. A gerente Elizabete Mazza disse que o uniforme começou a ser usado há duas semanas, e agora, depois da vitória, deverão usar por mais duas. Em casa, Elizabet conta que assistiu o primeiro tempo do jogo de pijamas, mas resolveu vestir a camisa verde amarela no segundo tempo para dar sorte, e ela acredita que deu.

Festa duplica acidentes

A Polícia Militar registrou, no domingo, um aumento de 100% nos acidentes de trânsito em Curitiba em virtude da comemoração do pentacampeonato da seleção brasileira. Duas mortes decorrentes de embriaguez dos motoristas foram as ocorrências mais graves. Simone Bueno, de 21 anos, morreu ao ser lançada para fora de uma Blazer que colidiu com outro veículo. Rosa Winsniewski, 80, foi atropelada na calçada por um Voyage desgovernado e não sobreviveu.

As outras ocorrências foram consideradas `normais e leves’ pelo policiamento.

A PM ainda registrou aumento nas ocorrências em vias de fato, perturbação do sossego e provocação de tumulto. O boletim completo de domingo, no entanto, só deve ser divulgado hoje. Segundo os cálculos da PM, cerca de nove mil pessoas assistiram os jogos e participaram da comemoração na Avenida Batel e na Rua Marechal Deodoro. O policiamento foi feito por 350 policiais.

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