Mata Atlântica encarece preço da área da Araupel

Quedas do Iguaçu – O governo decidiu dar a partida em seu projeto de reforma agrária comprando, por R$ 132 milhões, uma área de 25 mil hectares da fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, no Sudoeste do Paraná, onde pretende assentar 1.558 famílias de sem-terra. O investimento surpreende não apenas pelo valor, mas também porque a área a ser desapropriada se divide entre terra para agricultura, reflorestamento e preservação ambiental de Mata Atlântica.

O valor que o governo pagará pela área é o triplo do gasto pelo governo Fernando Henrique para adquirir uma propriedade no mesmo local, no município vizinho de Rio Bonito de Iguaçu.

Entre 1995 e 1999, o governo Fernando Henrique desembolsou R$ 40 milhões no processo de desapropriação de 26 mil hectares para assentar 1.404 famílias na região. A negociação para a compra de parte da fazenda Araupel está em processo acelerado. No Paraná, as autoridades esperam apenas a chegada da documentação, ainda em análise na superintendência do Incra, em Brasília.

A área negociada já foi invadida por integrantes do MST em julho deste ano ? um sem-terra morreu nos conflitos ? duas semanas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar intervenção no Paraná para que uma outra parte da fazenda, também invadida, fosse devolvida à Araupel. A reintegração não ocorreu. Pressionada pela quarta invasão (dois assentamentos, um acampamento que se estende por cinco anos e o que ocorreu recentemente), a empresa decidiu vender a área de 25 mil hectares. O Incra desembolsará R$ 70 milhões em dinheiro vivo. O restante será pago com Títulos da Dívida Agrária (TDA), incluindo o abatimento de parte da dívida que a Araupel tem com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

“O valor é devido e a área de floresta, também incluída, que continuará intocável” diz o superintendente do Incra no Paraná, Celso Lisboa Lacerda, justificando os R$ 132 milhões que serão gastos na desapropriação.

“O governo anterior pagou menos, mas por terras nuas, sem qualquer benfeitoria. Nós estamos comprando uma área com estrada, área de reflorestamento e toda a infra-estrutura”, afirmou o superintendente do Incra.

Só pela área de reflorestamento o governo Lula pagará R$ 67.338.928,29, segundo documentos obtidos pela Agência Globo. A presença dos sem-terra na região, segundo a própria direção da Araupel, resultou no desmatamento de 17 mil hectares nos últimos oito anos, incluindo áreas de Mata Atlântica, que deveriam ter sido preservadas. Famílias que ocuparam os assentamentos Ireno Alves e Marcos Freire, na gestão Fernando Henrique, admitem o desmatamento, mas culpam o Incra por tê-los colocados em área considerada improdutiva e de preservação ambiental.

“O Incra jogou a gente no meio do mato. Tinha que arrancar a árvore para poder plantar”, afirma Claudelei Torrentes, hoje um dos líderes do MST no acampamento da Bacia, cujas 650 famílias devem ser incluídas na área que está sendo desapropriada pelo governo Lula.

Organizações não governamentais estão preocupadas com novos desmatamentos nos assentamentos que serão criados na área.

? As florestas do Paraná estão desaparecendo ? afirma a diretora de projetos do SOS Mata Atlântica, Márcio Hirota. (Flávio Freire -Agência Globo)

Voltar ao topo