A primavera traz não apenas flores, mas também a temporada das tempestades. E por que algumas parecem tão mais intensas que outras? Não é apenas impressão: sistemas meteorológicos específicos determinam o volume de chuva, duração, possibilidade de granizo e até mesmo a intensidade das rajadas de vento e descargas elétricas, segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).
Entre estes sistemas estão as supercélulas, verdadeiras “máquinas de tempestade” que se formam em ambientes com forte instabilidade e intenso cisalhamento vertical do vento – basicamente, uma grande diferença na velocidade dos ventos em diferentes alturas da troposfera. O que torna estas tempestades especiais é uma corrente de ar em espiral, chamada mesociclone, que gira dentro da nuvem, geralmente nos níveis médios da atmosfera.
“O forte cisalhamento do vento nos baixos e médios níveis, permite que as correntes ascendente e descendente da tempestade permaneçam separadas, o que aumenta a longevidade da tempestade. Por isso, as supercélulas são tempestades que podem durar até 6 horas e, percorrer dezenas a centenas de quilômetros”, explica Diulio Patrick, meteorologista do Simepar que atua na Defesa Civil do Paraná.
Segundo ele, a corrente ascendente transporta ar quente e úmido para o interior da tempestade, enquanto o mesociclone organiza a convecção de forma rotacional e verticalmente estruturada. As supercélulas podem provocar diferentes fenômenos meteorológicos de grande impacto, como tornados, granizo de grande tamanho, rajadas de vento muito fortes em superfície e até mesmo downbursts ou microexplosões (ventos intensos que descendem da nuvem de tempestade), além de intensa atividade elétrica.
Em muitos casos, essas ocorrências vêm acompanhadas de chuva torrencial em curto espaço de tempo — mas a presença apenas da chuva intensa não caracteriza, por si só, uma supercélula.
Foi exatamente o que aconteceu no primeiro fim de semana de novembro em algumas localidades entre o Centro-Oeste e a faixa norte do Paraná. Granizo de diversos tamanhos caiu em vários municípios, como Cianorte, Jandaia do Sul, Entre Rios do Oeste e Juranda. Já em Cornélio Procópio e Santo Antônio da Platina, o destaque foram as rajadas de vento acima dos 90 km/h.
“Em algumas regiões as ocorrências foram associadas a supercélulas e microexplosões, num ambiente atmosférico com grande instabilidade e formação de uma área de baixa pressão atmosférica e fortes ventos em altitude”, ressalta Leonardo Furlan, meteorologista do Simepar.
Tornados
Nem toda supercélula tem um tornado. “Os tornados mais intensos, em geral, são formados a partir do mesociclone que gira no interior de uma supercélula. Trata-se de uma coluna de ar em rotação que se estende da base da nuvem até o solo, com forte movimento helicoidal, ou seja, a corrente de ar sobe enquanto gira, e ventos extremamente intensos em torno do centro do vórtice, numa estreita faixa (dezenas a centenas de metros), causando danos severos ao longo da sua trajetória. Eles possuem duração curta, entre alguns segundos ou minutos”, afirma Diulio.
Para confirmar um tornado, os meteorologistas precisam analisar imagens aéreas da região atingida junto com imagens do radar meteorológico, cruzando informações sobre estrutura e formato da tempestade com os danos associados. Observando os impactos, os profissionais classificam a ocorrência dentro da escala Fujita, que delimita níveis das rajadas de vento e prejuízos causados.
Já as microexplosões são formadas pela corrente de ar descendente e frio da tempestade em alta velocidade e toca o solo, provocando danos divergentes do local de impacto e em uma área um pouco mais ampla do que comparado ao tornado. Também são fenômenos de curta duração, geralmente abaixo de cinco minutos. Do mesmo modo, como nos tornados, para confirmar o fenômeno são analisadas imagens aéreas e de radar.
Fique preparado
Sempre que a previsão do tempo indicar um ambiente favorável à ocorrência de tempestades severas, a população deve estar preparada para a possibilidade de que algum desses fenômenos de grande impacto aconteça.
O Simepar elabora os boletins e a Defesa Civil emite alertas com antecedência para a população, indicando no mapa do Estado as áreas que possuem risco de tempestades, em uma escala de cores que facilita a compreensão: as áreas em amarelo estão em observação para tempestades; em laranja estão em estado de atenção; em vermelho estão em situação de alerta; e em roxo estão em alerta máximo.
Os alertas vigentes podem ser acessados em www.defesacivil.pr.gov.br/alertas-vigentes. Os paranaenses também podem receber no próprio celular alertas e informações da Defesa Civil do Paraná sobre risco de mau tempo na sua região: basta enviar um SMS com o CEP da região para o número 40199. A Defesa Civil responde com mensagem de confirmação do cadastro e a partir deste momento a pessoa passa a receber alertas periódicos sobre as situações de maior gravidade no local indicado.
