Procuram-se pais

Maioria dos casais prefere adotar crianças pequenas

Mesmo havendo muito mais pretendentes à adoção do que crianças e adolescentes aptos a serem acolhidos por essas famílias, o Brasil ainda está longe de conseguir que todos esses meninos e meninas sejam adotados. A principal dificuldade ainda é a adoção tardia e de grupos de irmãos. Em Curitiba, a situação não é diferente. De acordo com a 2ª Vara da Infância e da Juventude, somente 52 dos 361 processos em andamento incluem a possibilidade de adoção de crianças com mais de cinco anos e 23 aceitam irmãos. Celebrado nesta sexta-feira (25), o Dia Nacional da Adoção é um momento de reflexão sobre essa realidade.

Para a juíza Maria Lucia de Paula Espíndola, ainda há falta de informação em relação à adoção tardia. “Muitas famílias vêm com a ideia de que precisam adotar criança com menos de dois anos porque só assim vão conseguir se apegar a elas, mas é preciso desmistificar isso porque existe vínculo com crianças maiores também”, comenta. Este foi, inclusive, o motivo de uma mudança no curso preparatório ministrado para os pretendentes. “Mudamos o perfil do curso para que todos eles tenham bastante informação sobre a adoção tardia e se libertem desse sonho. Já estamos notando alguma diferença. É sutil, mas está ocorrendo”, comenta.

Um dos principais parceiros da 2ª Vara no trabalho de conscientização dos pretendentes a respeito da possibilidade de adoção tardia e grupos de irmãos é o Grupo de Apoio à Adoção Consciente (Gaaco). “Adotar uma criança com mais de cinco anos é mais difícil, pois ela já chega com uma história de vida e isso exige muita dedicação, mas não é impossível. Existem muitos casos que tiveram êxito, principalmente quando o pretendente entende que essa criança também precisa de uma família”, comenta a presidente da instituição, Halia Pualiv de Souza.

Para ela, apesar de ainda haver preconceito e falta de informação em relação à adoção tardia e dificuldade financeiro no caso de adoção de grupos de irmãos, a realidade está mudando. Halia ainda lembra que é recomendável que os pretendentes façam o pedido de adoção por meio da Vara da Infância e da Juventude. “Há uma segurança muito maior na adoção pela via jurídica, pois quando a adoção é clandestina, a família biológica pode requerer a criança de volta”, explica.

Com Jackson, a família ficou completa

Foi exatamente às 18h45 do dia 28 de abril de 2011 que a vida de Telma e Celso Correia mudou para sempre. A data e o horário ficaram marcados para sempre na lembrança do casal porque foi neste momento que eles tiveram conhecimento de que sua família ficaria completa, com a chegada de Jackson. “Fizemos o pedido em maio de 2010 e em dezembro daquele ano, saiu a nossa habilitação para a adoção, mas foi só nesse dia, quase um ano depois, que tivemos o retorno da técnica que acompanhava o nosso pedido, dizendo que havia um menino de sete anos para adoção. Naquele momento, já sentimos que ele seria o nosso filho”, conta.

O casal, entretanto, é exceção entre os pretendentes à adoção, que preferem, em sua grande maioria, adotar apenas crianças com menos de cinco anos. Ela conta que já ouviu de muita gente que era um absurdo adotar uma criança mais velha porque ela chegaria cheia de manias e depois ainda se tornaria marginal. “Como já tive experiência com bebês devido ao contato com os meus sobrinhos, sempre quis adotar uma que fosse mais velha e não me arrependo. A impressão que tenho é de que ele sempre esteve conosco”, afirma.

Telma e Celso até tentaram ter um filho biol&o,acute;gico, mas foi justamente durante o tratamento que amadureceram a ideia da adoção e viram que este era o melhor caminho para realizarem o sonho de serem pais. Na casa deles, Jackson encontrou tudo o que precisava. “Na escola pública onde ele estudava antes, ele tinha muita dificuldade em aprender a ler e escrever. Aos poucos, o convencemos de que seria melhor ir para uma escola particular pequena e com apenas 15 dias lá, ele aprendeu tudo isso. O que faltava para ele era o estímulo de uma mãe”, garante. O casal já pensa até em adotar mais uma criança, mas a decisão ainda depende da aprovação de Jackson.

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