Com a queda generalizada no consumo decorrente da crise por que passa a economia, os comerciantes que atuam na rodoviária de Curitiba estão começando a sentir o peso de manter uma loja no terminal. A situação complicada já fez com que três lojas fechassem as portas. Além da queda no número de passageiros nos últimos meses, o alto custo com o aluguel e o “condomínio” estão fazendo com que ninguém se interesse nas licitações e que alguns espaços permaneçam desocupados.

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Atualmente, a rodoviária conta com 20 lojas em funcionamento. Com o recente fechamento das lojas, agora são nove espaços desocupados. Desses, seis já estão em processo de licitação e os outros três são referentes às lojas que pediram o rompimento do contrato e aguardam análise do departamento jurídico da Urbs. Mas pras lojas que sobrevivem, o momento não está fácil.

Faz um ano e dois meses desde a conclusão da reforma da rodoviária, que contou com uma repaginada completa no antigo terminal, incluindo a abertura de novas licitações pra exploração do comércio.

Gasto só com o necessário

Com as novas licitações, grande parte dos antigos lojistas perderam os pontos pra propostas mais interessantes que surgiram na época. Com a atual crise, o peso dessas licitações passou a preocupar os novos permissionários. Quem já trabalhava na rodoviária lembra que, apesar da nova cara, os dias pro comércio eram melhores no passado.

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“Em geral, desde o final do ano passado, apesar do grande movimento por causa da época, o número de passageiros já havia diminuído em relação ao ano anterior, mas ainda tinha clientes. Depois de janeiro tivemos uma queda grande. Hoje, chego a atender em média duas pessoas a cada hora. Pra uma lanchonete acho muito pouco”, relata a balconista do Cybercafé, Tânia Prohmann.

Há 15 anos trabalhando em lojas na rodoviária, Tânia conta que os clientes questionam a baixa de variedade entre os comércios. “Muitas pessoas perguntam por que não existem outras lojas ao verem os pontos desocupados. Acho que a situação está difícil pra todos. No caso, as lanchonetes ainda vendem, pois as pessoas têm que comer, mas elas deixaram de gastar com lembrancinhas”, argumenta.

Driblando as dificuldades

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Enquanto algumas lojas avaliam como enfrentar o momento de dificuldade, outras optam por diversificar os negócios. É o caso da mais nova loja da rodoviária, especialista em canecas personalizadas. “Estamos na rodoviária há pouco mais de dois meses, mas já atuamos em muitos outros pontos, incluindo shoppings e até o aeroporto. No caso da loja da rodoviária, por conta do baixo movimento, a opção pra atrair mais clientes foi diversificar a oferta de lembranças. Apesar de trabalharmos exclusivamente com canecas pra lembranças e presentes, neste ponto também trabalhamos com outros itens”, afirma a lojista Jaqueline Maciel (foto).

Os comerciantes criticam as mudanças na distribuição dos espaços na rodoviária e dizem que o contato entre clientes e lojas mudou. “Antes, os passageiros não ficavam ‘presos’ no salão de embarque e passeavam livremente. Agora, eles preferem ficar preparados pra quando o ônibus vier, pois caso eles deem uma volta pelo terminal podem pegar fila pra entrar na área de embarque e perder a viagem”, explica a empresária Gracieli Scarpini.

Local tem 9 lojas vazias, dessas 3 fecharam e 6 estão em licitação.

Pedido pra renegociar

Há um ano na rodoviária, a empresária Gracieli Scarpini revela que a mudança na economia afetou drasticamente o contrato ,de uso do local. “Não sou apenas eu que estou sentido a crise. Qualquer comerciante está sofrendo com a queda do consumo. Fui aconselhada a tentar renegociar o valor do aluguel, pois seria a única possibilidade viável”, diz. Pra manter a loja de bolsas e bagagens funcionando, a empresária arca com cerca de R$ 6 mil por mês apenas pro aluguel e o condomínio.

“Em comparação ao aluguel em um shopping, que é um ponto muito mais atrativo pra venda de produtos, o aluguel de uma sala do mesmo tamanho sairia quase pela metade. O valor cobrado não está condizendo com a realidade da economia nem com a do ponto. Na semana passada a única farmácia que havia aqui chegou a fechar. Até então estava conseguindo equilibrar bem as contas, mas nos últimos dois meses não teve jeito e fechamos abaixo do necessário pra manter. Temos que ver ainda como seguirá nos próximos meses e o que pode ser feito, porque não tá fácil”, comenta.

Urbs é “sensível”

De acordo com um lojista que preferiu não se identificar, após a reforma os valores do aluguel mais que dobraram. “Os valores são irreais, parece que foram calculados pensando em rodoviárias de outros estados, ou outro lugar. O valor está tão inflacionado que, apesar de existir várias lojas disponíveis, não aparecem interessados. Antes, não chegava a R$ 900 o custo da loja. Depois, pra um espaço um pouco menor, passei a pagar quase R$ 2.600”, compara.

Segundo a Urbs, todos os contratos estão sendo respeitados e as propostas vencedoras foram apresentadas pelos próprios lojistas. O órgão diz que é sensível à situação e que atualmente as negociações envolvendo os permissionários são tratadas pelo departamento jurídico.

Eventos na rodô

Diariamente, a rodoviária registra uma média de 10 mil embarques e desembarques. Mas, segundo a Urbs, este número é ainda maior, podendo chegar a 30 mil pessoas por dia, já que não é contabilizada a passagem de acompanhantes e familiares que também utilizam os serviços do local, além da viagem.

De acordo com a empresa que administra a rodoviária, “a intenção é divulgar cada vez mais festivais e feiras que estão ocorrendo no interior do Estado e até mesmo criar eventos no espaço da rodoviária pra ampliar o movimento de pessoas. A rodoviária é localizada em um ponto estratégico da cidade, numa área central com fácil acesso tanto pra ônibus quanto pra carros. Queremos criar uma agenda para este espaço”.