Livro relembra fatos dos 46 anos da Boca Maldita

A Boca Maldita, em Curitiba, comemora hoje 46 anos de existência. Ao longo do tempo, o local abrigou gente de todas as camadas sociais e as discussões no local eram capazes de influenciar os rumos da política do Estado. Na época da ditadura militar, muitos membros chegaram a ser presos, acusados de estar fomentando ações contra o governo. A intenção era “calar a Boca”. Mas isso não aconteceu. Depois que saiam da prisão, eles voltavam para a rua. Hoje, apesar de não ter a mesma conotação política, o lugar ainda é palco de comícios e eventos culturais, educação e saúde.

O presidente da Boca Maldita, Anfrísio Cerqueira, ajudou a fundar a associação em 13 de dezembro de 1956. Ele conta que a Boca tinha tanta influência que muitos deles passaram vários dias detidos. Em 1964, teve que fugir do Exército. Estava em casa quando cercaram o prédio. Só conseguiu escapar porque se escondeu no apartamento de um vizinho. Depois seguiu para Guaratuba. Os militares foram atrás e lá também não conseguiram prendê-lo. No entanto, mais tarde, acabou sendo detido e passou quatro dias fechado. Como nada foi provado contra ele, foi solto. Com outros colegas a história se repetiu.

Um livro será lançado hoje no jantar anual de confraternização, Os Cavalheiros da Boca. Anfrísio, que está com 82 anos, costuma ir aos à Boca, e quando chega sempre é cercado de gente. Recebe os pedidos mais inusitados: emprego, mais bancos na praça e até banheiros. “A Boca Maldita fez Curitiba ser reconhecida no resto do País e no mundo”, conta.

José Bartholomeu de Souza é um dos primeiros freqüentadores do lugar. Ele diz que hoje as coisas mudaram muito e a Boca perdeu todo aquele poder de influência. “A Cidade cresceu, as pessoas não precisam vir para o centro para conversar. Os bairros têm vida própria”, diz.

Mas as conversas na Boca Maldita ainda continuam e devem ganhar mais força com a implantação de uma rádio comunitária, instalada no Edifício Tijucas. A concessão já foi obtida, agora eles estão à espera dos equipamentos.

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