Jovem do campo sofre com falta de opção

A falta de opções de lazer, de cursos profissionalizantes e trabalho é a principal causa da saída de jovens das áreas rurais para as grandes cidades. Ao contrário de quem vive em centros urbanos – que possui à disposição shoppings, cinemas, parques, danceterias e universidades – muitos dos que vivem no campo se sentem angustiados por não terem o que fazer e não conseguirem ver um futuro profissional compatível com aquele que desejam.

“O meio urbano e a mídia geram muita influência sobre os jovens que vivem em áreas rurais. Muitas vezes, eles se sentem inferiores aos que vivem nas cidades por não poderem, por exemplo, ir a shows de rock ou usar roupas da moda”, comenta a coordenadora estadual da juventude trabalhadora da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura no Estado do Paraná (Fetaep), Nerliane Fiore Murbach.

Em muitos pequenos municípios localizados no interior dos estados, a única diversão costuma ser oriunda de festas promovidas por igrejas – que geralmente acontecem esporadicamente e menos de uma vez por mês – e jogos de futebol, dos quais normalmente as meninas acabam excluídas. No que diz respeito à educação, em muitos municípios os adolescentes não possuem a chance sequer de concluir o ensino médio, quanto mais um curso superior.

“A falta de opções saudáveis também pode contribuir para que os jovens procurem formas inadequadas de diversão. Na tentativa de encontrar prazer e formas de extravasar energia, muitos acabam se envolvendo com álcool, drogas ou mesmo caindo na marginalidade. No caso das meninas, muitas vezes ocorre até prostituição. Diversas coisas precisam ser corrigidas e realizadas no meio rural.”

Segundo Nerliane, em muitos estados, inclusive no Paraná, há uma carência grande de políticas públicas voltadas à valorização do campo. A existência dessas poderia contribuir para que os jovens não precisassem abandonar suas origens, familiares e amigos para realizar sonhos, encontrar emprego, ter renda própria e buscar melhorias na condição de vida como um todo. “Deve haver um resgate cultural dos valores do campo e a capacitação de pessoas que possam desenvolver atividades artísticas, esportivas e educacionais junto a quem vive em meios rurais”, comenta.

A integrante da Fetaep acredita que o jovem deve ter a chance de escolher entre ficar no campo ou se deslocar para as grandes cidades. Se mesmo existindo opções de ficar em seu meio ele decidir que quer viver em um centro urbano, é necessário que ele esteja preparado para enfrentar as dificuldades e problemas com os quais irá se deparar em uma grande metrópole. “Hoje o que acontece é que a pessoa sai do campo, muitas vezes bastante iludida, e chega na cidade sem capacitação alguma para encontrar trabalho, enfrentando o desemprego e a falta de renda”, afirma.

Projeto reativado se torna opção

Com o objetivo de promover o desenvolvimento de áreas rurais e ao mesmo tempo evitar a migração dos jovens camponeses para as grandes cidades, a Secretaria de Estado da Cultura mantém o projeto Paraná da Gente. Criado em 1993, ele foi interrompido no final de 1994 e voltou a ser ativado em 2003. Atualmente, conta com 255 municípios participantes.

Segundo o coordenador do projeto, Renato Augusto Carneiro Júnior, são realizadas ações para que os município encontrem formas para desenvolver atividades artísticas e esportivas baseadas em seus patrimônios históricos e recursos naturais. “Queremos que os municípios sejam valorizados e descubram seus potenciais, buscando alternativas que possam gerar emprego e renda a suas populações”, explica Renato. “A intenção é incentivar atrações regionais e gerar atividades para os próprios moradores locais. Eles não devem ficar na dependência da instalação de indústrias, mas sim conhecer suas potencialidades através da união e organização próprias.” Valorizando atividades regionais, os municípios acabam incentivando o turismo. (CV)

Queixas de todos os tipos

Os jovens que vivem no campo se queixam da falta de opções de lazer e formação profissional. Os estudantes Rober Jamur Neto e Diego Lepinski, respectivamente com 17 e 16 anos, moram em locais próximos a área rurais do município de Colombo e dizem que, nos finais de semana, a principal atividade é “pegar o ônibus e ir para Curitiba”, que fica a cerca de quinze quilômetros.

“No verão, temos clube com piscina e campinho de futebol, mas no inverno não há muito o que fazer”, contam.

A estudante Adriana Cezelusnicieq, de 19 anos, mora no município de Campo Largo. Ela revela que nunca entrou em um cinema e que tem dificuldades para conhecer novos amigos e arrumar namorado. “Perto de minha casa não há nem uma pracinha na qual os jovens possam se reunir. Tem uma sorveteria que o pessoal costuma se encontrar, mas também é longe. Estou sem namorado há um ano”, revela.

Porém, o que mais incomoda Adriana é o fato de ela estar no último ano do ensino médio e não ter perspectivas de cursar uma faculdade. “Hoje, para ganhar um dinheiro, eu vendo lingerie e trabalho com plantação de cenoura e alface. Gostaria de fazer um curso superior e no futuro ter um bom emprego, mas para poder estudar eu teria que ir para Curitiba, o que acabaria saindo caro.” (CV)

Voltar ao topo