Índios ocupam prédio da Funai em Curitiba

Cerca de trinta índios, inclusive crianças, ocuparam ontem pela manhã o prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai), no Alto São Francisco, em Curitiba. Eles pedem o afastamento do administrador da entidade, Getúlio Gomes da Silva, e de seu assessor, Brasílio Pripra, e prometem ficar no local por tempo indeterminado. Ontem, o presidente da Funai, Mércio Gomes, estava no Mato Grosso tentando resolver um conflito indígena. Segundo sua assessoria em Brasília, tão logo retornasse, analisaria as reivindicações dos índios paranaenses.

De acordo com o advogado Carlos de Paula, presidente do Grupo de Apoio aos Povos Oprimidos (Gapo), a atual administração estaria sendo acusada por atos de improbidade administrativa, discriminatórios e hostilidades, além de outras irregularidades, como desvio de verbas e comercialização ilegal de palmito. O caso, segundo ele, já vem sendo investigado pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal.

Os índios chegaram ao prédio por volta das 7h. Uma das funcionárias da entidade, Maria Vitória Alves, assinou declaração afirmando que durante a tomada do prédio não houve qualquer depredação. Carlos de Paula denunciou ter sido vítima de ameaça de morte por parte do administrador da Funai, Getúlio Gomes da Silva.

“A Funai não vem cumprindo as suas atribuições de oferecer proteção aos índios, educação, estabelecer ordem nas aldeias”, acusa Carlos de Paula. “Os índios estão sendo hostilizados e sofrendo agressões.” Durante toda a tarde, ele tentou contato com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na tentativa de solucionar o impasse.

Segundo o advogado, a informação de que a Polícia Federal e o Ministério Público estariam investigando a direção da Funai teria vazado no dia 24 de outubro. No dia 3 de novembro, conta, três computadores teriam sido roubados do prédio. “Provavelmente havia informações importantes nesses equipamentos”, acredita de Paula.

A Comissão das Comunidades Indígenas do Paraná enviou ontem uma carta à procuradora Antonia Lélia Neves Sanches Krueger, solicitando apuração rigorosa das denúncias e o afastamento do administrador e de seu assessor. Pediu ainda que a Funai de Curitiba ficasse temporariamente sob a administração da comissão indígena.

Por volta das 14h30, dois carros da Polícia Militar estiveram no prédio da Funai, na Rua Clotário Portugal, 222. A presença da PM foi pedida pelos próprios indígenas, que temiam a entrada de pessoas estranhas ao local e possíveis atritos. Segundo o tenente Rogério, sub-oficial de operações da 2.ª Companhia do 12.º Batalhão, uma viatura estaria passando esporadicamente pelo local para garantir a segurança dos índios.

“Nunca visitou”

De acordo com a vice-presidente do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas, Cuulumg Wetxa Téie, 45, o atual administrador da Funai não conhece os problemas dos índios. “Ele nunca visitou as aldeias, não conhece nossos problemas, não recebe os índios daqui que precisam de ajuda”, reclama. Cuulumg viajou durante cinco horas e meia para chegar a Curitiba. Ela veio de Ibirama (SC), da aldeia dos chokrens. “Estamos aqui para colocar a casa em ordem, para o bem da comunidade indígena”, disse. Segundo ela, os principais problemas dos índios são relativos à saúde, educação e desnutrição.

Na Região Metropolitana de Curitiba vivem cerca de duzentos índios. Em todo o Paraná, são cerca de 15 mil, espalhados em dezessete aldeias, especialmente das tribos guarani, tupi-guarani, caigangue e chokrem.

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