Índio não pode esquecer sua cultura

Mantendo as tradições, como a língua, cultura, religião e culinária, a grande maioria dos índios brasileiros não está mais afastada e isolada do mundo, e mostra que cada vez mais está em contato com qualquer novidade da vida moderna. Carros, casas, telefones públicos e celulares já fazem parte da vida desse povo há algum tempo. E pontos mais importantes, como o aprendizado da segunda língua, ou seja, o português, é realizado em todas as aldeias paranaenses.

“Absorver tudo o que vem de fora da tribo, sem perder as nossas raízes”. Esse discurso do cacique guarani caingangue Marcolino Silva, da tribo caruguá, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), representa bem o sentimento desse povo, que amanhã comemora o Dia Nacional do Índio.

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 345 mil indígenas, distribuídos em 215 sociedades, que fazem parte de cerca de 0,2% da população brasileira. É um número pequeno, que ao longo dos anos foi sendo reduzido por causa de invasões, contato com doenças desconhecidas de seus costumes, matanças e o rápido esquecimento de sua cultura por parte de algumas aldeias.

No Paraná, algumas ações estão sendo feitas pelo governo estadual para que as aldeias mantenham seus costumes, mas ao mesmo tempo possam ter novas oportunidades dentro da sociedade. O Estado, que conta com aldeias guarani e caingangue e uma pequena porcentagem de xetá, vem apresentando algumas alternativas. O incentivo à educação indígena, desde a sua base até a formação em uma universidade, o contato com a cultura brasileira, o aprendizado de novas tecnologias, a preservação do meio ambiente são apenas algumas dessas ações que vêm sendo realizadas.

No Paraná, no último levantamento feito, foram registrados 11.825 índios e 3.305 famílias nas tribos do Estado. São também 27 escolas indígenas em todas as regiões. Elas atendem uma demanda de cerca de 3 mil alunos do primeiro grau.

“Queremos manter o contato com a civilização, porque a cada dia, isso se torna inevitável. A questão maior é não se esquecer de seus costumes. Muitas tribos já se acabaram porque índios acabaram se mudando para as cidades e esqueceram de sua tradição. Isso não pode acontecer”, reforça Marcolino.

A tribo caruguá, em Piraquara, mantém todas as tradições de seus ancestrais guaranis. Mesmo morando em casas mais “modernas” do que há anos, os guaranis vivem distantes da cidade, realizam orações no centro de reza da aldeia, produzem artesanatos e se comunicam somente na língua indígena. “Somente quando alguém chega para visitar a tribo nós falamos em português. Isso reforça a nossa cultura, principalmente para os mais novos”, conta o índio Hortêncio da Silva.

Desafio

O assessor de assuntos indígenas do Paraná, Evídio Battistelli, afirma que o grande desafio é dar melhores condições de vida e permitir o acesso, àqueles que desejarem, à cultura nacional. “Permitindo a inclusão, para que eles plantem e criem interagindo com as tecnologias de outros povos para sobreviver. Isso está acontecendo, mas reforçamos que jamais esqueçam de suas tradições”, diz.

Battistelli, que já trabalhou na Funai, ressalta também a importância da cultura indígena. “Depois de todos esses anos, estamos começando a dar valor às tradições dos índios. Eles já estavam aqui antes das invasões, e logo após o descobrimento do País. É uma cultura muito rica, cheia de crenças e muito interessante. Para muitas aldeias é fácil perder seus costumes devido às grandes novidades do mundo moderno. Isso não pode acontecer, a sociedade tem que estar com olhos atentos para isso”, completa.

Participação na universidade

A interação e os avanços dos povos indígenas é cada vez maior. Um dos exemplos do crescimento dos índios na sociedade é a participação cada vez maior nas universidades paranaenses. “Apesar de ser um número pequeno, estamos representando nosso povo. Somos capazes e podemos melhorar ainda mais”, explica o indígena Ludovico Monconam, de 36 anos.

Ele é da tribo xoclengue, de Santa Catarina, e mora há oito anos em Curitiba. Está cursando o primeiro ano de Arquitetura na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e trabalha com serviços elétricos. “Com esforço é possível conseguir o que se deseja. Levando a sério os estudos, pude entrar em uma universidade, mas nunca me esqueci das tradições indígenas, o que é mais importante. Procuro passar a minha cultura para meu filho”, conclui.

Educação

A coordenadora do ensino indígena no Paraná, da Secretaria Estadual de Educação, Luli Miranda, ressaltou os pontos que serão reforçados nos próximos meses para que o número de freqüentadores do ensino aumente cada vez mais. Entre eles, curso de formação de professores indígenas com o programa de diretrizes, formatação do curso superior para titulação pedagógica para professor e várias áreas temáticas para professores indígenas.

Ela conta que, através de convênios com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com as universidades estaduais, foi possível observar o crescimento desse tipo de ensino no Estado. O último ponto relatado por Miranda é a estadualização das escolas municipais. Outro dado que chama destaque é a presença de jovens e adultos indígenas presentes nas universidades do Estado. No momento, são 45 indígenas fazendo o terceiro grau, de acordo com o registro da secretaria.

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