Indígenas vão desafiar autoridades

Os 54 índios avá-guarani que se instalaram no Parque Nacional do Iguaçu, há doze dias, devem desafiar as autoridades para tentar resgatar um pouco daquilo que consideram a base de sua cultura. Usufruindo da floresta – inclusive com caça e extração de madeira e plantas – o cacique Simão Tupã Retã Vilialva afirma que a comunidade indígena deseja obter da Funai um local maior para a prática da agricultura, uma vez que a reserva do Ocoí não comporta mais a produção necessária à subsistência.

"Não vamos mais sair do parque. Não é que a gente está invadindo. A gente está voltando para a nossa terra, temos que manter nossa cultura, nossa língua, comida", enfatiza o cacique. Mesmo cansado de lutar pela retomada da mata para o índio, Simão Tupã ainda acredita que é possível uma resposta que agrade a seu povo. "Queremos que o parque seja liberado", afirma.

Os índios estão construindo 30 casas para morarem no parque, mas garantem que toda a madeira extraída e a caça e pesca praticadas são somente para suprir suas necessidades. Simão Tupã acredita haver evidências de que no parque já existiu ação de caçadores e relata que foram encontradas trilhas na mata. "Tem muito caçador, achamos couro e osso de bicho. E tem muita trilha também, vamos mostrar para a guarda florestal por onde passam."

Parque

O Parque Nacional do Iguaçu é ameaçado pela Unesco de perder o título de Patrimônio Natural da Humanidade com a intervenção humana na área. "A gente conhece o título, mas a realidade é que é a nossa identificação. E no Paraná não tem mais floresta, para onde vamos voltar?", contrapõe o cacique.

De acordo com a assessoria de comunicação do Parque Nacional do Iguaçu, na última terça-feira, uma equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) esteve no local onde os índios estão instalados e verificou consideráveis impactos ambientais.

Foram constatados alargamento e corte de árvores e arbustos, inclusive palmitos jovens, peroba e xaxins, todos ameaçados de extinção e protegidos por lei. "Os técnicos calculam que a área já desmatada atinge cerca de dois hectares de floresta com o corte de 600 árvores, utilizadas na confecção das barracas. Também chamou a atenção da equipe a compactação do solo, presença de animais domésticos, perigo de incêndios, assoreamento de um córrego, grande quantidade de lixo e o corte do palmito-juçara para alimentação", segundo divulgou a assessoria.

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