IAP prepara blitze em cemitérios do Paraná

cemiterio230105.jpg

No Cemitério do Barro Preto os corpos são enterrados diretamente na terra.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) vai iniciar uma blitz pelos cemitérios de todo o Paraná. Motivo: a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) estabeleceu uma nova resolução, em maio passado, alterando os requisitos básicos e condições técnicas necessárias para funcionamento de cemitérios. O prazo para que os cemitérios já existentes se adequassem à norma foi de seis meses. No entanto, até agora, o IAP informa que poucos cemitérios procuraram o instituto para estabelecer um processo de adequação.

De acordo com Rasca Rodrigues, presidente do IAP, será feito um levantamento em todo o Estado para verificar se os cemitérios estão adequados ou não à norma. "Não tivemos resposta dentro do prazo esperado. Isso é um descaso geral?, disse.

As blitze devem se estender até o fim de março. Os cemitérios que não estiverem obedecendo ao que determina a resolução serão notificados e orientados. Caso não haja adequação, os locais serão autuados pelo IAP.

O problema é generalizado. Um exemplo disso é o Cemitério do Barro Preto, em São José dos Pinhais. Lá, os corpos são enterrados diretamente no chão e o cemitério está localizado num terreno bem mais alto que o nível da rua. Dessa forma, pelo lado de fora, é possível enxergar diversos canos que saem de baixo da terra onde estão enterrados os corpos. Toda a água que escorre dali cai numa fossa comum.

A situação fica ainda mais complicada quando se sabe que a três quilômetros do cemitério passa o Rio Miringuava. Além disso, os moradores das redondezas usam água de poço para consumo e também para irrigação das plantações.

O mestre de obras Valdeci José da Silva trabalha na região e disse ficar assustado com a condição do cemitério. "A gente que trabalha com construção sabe que ali deveria ter uma drenagem apropriada. Como não tem, contamina tudo ao redor e as pessoas daqui usam água de poço artesiano", afirma.

De acordo com Alvino Buhrer Machado, chefe da divisão de serviços urbanos da Prefeitura de São José dos Pinhais, não há motivo para receio. Segundo ele, o Cemitério do Barro Preto está dentro das condições e normas exigidas para evitar contaminação. "O muro lateral é feito de concreto e tem uma camada de pedra preta, que funciona como uma barreira natural para o chorume e também tem uma camada de bedin, um tecido especial que impede o chorume de vazar", explica Machado. Ele diz que não vaza chorume dos corpos enterrados no local e, caso isso ocorresse, tudo ficaria parado na barreira de pedra ou de bedin. "A água que sai daqueles canos que ficam visíveis é da chuva. Não há porque se preocupar", disse.

Adequação

Também em São José dos Pinhais, o Cemitério Parque Senhor do Bonfim, no bairro do Guatupê, enterra os mortos diretamente na terra. O local não estava cumprindo as normas de funcionamento e por isso, em 1999, o Ministério Público entrou com um processo de embargo do local.

De acordo com o administrador do cemitério, Robson Posnek, o problema principal encontrado no Bonfim foi a falta de um sistema de drenagem da água da chuva. "O cemitério estava abandonado. Tinham valetas abertas perto dos lotes para levar a água da chuva. Isso estava provocando erosão e o cemitério fica perto de uma área de fundo de vale", disse.

População ainda desconfia do tratamento da água

Depois do problema, o Cemitério Parque Senhor do Bonfim começou as reformas para se adequar às exigências dos órgãos ambientais. De acordo com administrador do cemitério, Robson Posnek, foi feito um sistema de canalização que capta a água da chuva na superfície e devolve para a natureza, evitando a erosão. Foi criada também uma estação de tratamento da água que escorre dos túmulos. "Além dessas mudanças, nos adequamos às exigências da Sema e aguardamos a visita do IAP para verificação", disse Posnek.

Apesar das obras no Bonfim, a população local continua apreensiva. Nos fundos do cemitério passa o Rio Pequeno. É ali onde desemboca a água de chuva que vem do Bonfim e também a água que vem dos túmulos, só que agora devidamente tratada de acordo com a administração.

O agricultor Milton Persicoti tem uma chácara próxima ao cemitério. Ali ele planta verduras e legumes que são vendidos na Ceasa. Persicoti conta que usava a água do Rio Pequeno para irrigar a plantação. "Mas não dá. O esgoto das vilas Jussara e Fátima, que ficam aqui por perto, caem direto no rio. E tem também a água do cemitério que vem sem tratamento", diz. Para tentar solucionar o problema, o agricultor está construindo um tanque que será abastecido por uma vertente que passa por ali. (SR)

Opiniões divergentes geram polêmica sobre chorume

É grande a polêmica em torno da poluição causada pelos cemitérios. Robson Posnek, que além de administrar o Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais, é tesoureiro do Sindicato dos Cemitérios Particulares do Paraná, afirma que não existe estudos comprovados que a água da chuva que lava os túmulos dos cemitérios causa contaminação. "Fazemos análise da água todo o ano e não há problemas. O líquido resultante da liquefação dos corpos é mínimo. Mesmo assim ele nem chega à terra porque embaixo dos túmulos fazemos uma proteção de pedra brita e cal. Não passa nada dali. Então não há como contaminar o lençol freático", diz.

No entanto, a agrônoma e mestre em ciências do solo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elma Nery de Lima Romanó, o necro-chorume causa sim contaminação do solo. "Quando o cadáver se decompõe, forma-se o necro-chorume. Quando o corpo é enterrado diretamente no solo, se não houver uma impermeabilização embaixo do túmulo, esse chorume vai direto para o lençol freático", afirma.

Já naqueles onde há jazigos, o problema é a água da chuva, que lava os túmulos. Quando não há um sistema adequado de drenagem dessa água, os rios onde a água da chuva desemboca acabam contaminados pelo necro-chorume. "Quem mora nas redondezas de cemitérios precisa pedir para que seja feita uma análise da água que está sendo consumida. E essa análise, que vai verificar se existe ou não contaminação, precisa ser feita durante um ano. Mas independente do tipo de cemitério, o que se sabe é que todos eles são poluentes, de certa forma. A melhor forma para evitar contaminações é a cremação", diz Elma. (SR)

Voltar ao topo