IAP embarga ferrovia na Serra do Mar

A via férrea na Serra do Mar será embargada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A informação foi repassada ontem pelo presidente do instituto, Rasca Rodrigues, que disse que a medida visa a proteger o patrimônio ambiental e cultural do Paraná. A decisão foi tomada em virtude do acidente ocorrido na segunda-feira, quando 35 vagões de um trem da América Latina Logística (ALL) descarrilaram na ponte do Rio São João, espalhando a carga de açúcar, milho e farelo de soja.

Nos próximos dias, o IAP e a empresa deverão assinar um termo de ajuste, ambiental e operacional, para que o trecho volte a ser operado – tanto para cargas como para transporte de passageiros. De acordo com Rasca Rodrigues, os pontos do termo de ajuste ambiental serão definidos a partir de uma auditoria ambiental, que contará com a participação de órgãos como o Ibama e Ministério Público Estadual. Já o termo de ajuste operacional será formulado com a participação de entidades como o Sindicato dos Engenheiros (Senge), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) e Sindicato dos Maquinistas.

Os dois termos devem ficar prontos em até 15 dias. “Até a assinatura desse termo, toda a atividade na Serra fica paralisada”, afirmou Rasca. O presidente do IAP esclareceu que o embargo dos trilhos serve tanto para a ALL, que opera o transporte de cargas, como para a Serra Verde Express, que faz o transporte de passageiros. Para o presidente do Conselho do Litoral, José Álvaro Carneiro, o termo de ajuste também dever conter uma medida compensatória, como, por exemplo, a restauração das estações que ficam ao longo da via, que estão abandonadas. “Em 120 anos de operação, nunca havia acontecido um acidente. Agora, por mais que se conserte a ponte, ela não será mais a mesma. Por isso é preciso compensar”, ressaltou.

Agravante

O acidente, segundo a própria ALL, aconteceu por volta da 0h05 de segunda-feira. Porém, o IAP só foi avisado por volta das 8h, pela Defesa Civil. Para Rasca Rodrigues, isso é um agravante, pois o instituto mantém equipes operacionais de plantão 24h, que podem entrar em ação o mais rápido possível. O diretor de relações corporativas da ALL, Pedro Almeida, disse que nesse acidente era indiferente o IAP ser comunicado antes ou depois. Ele explicou que com a ocorrência provocou falha no sistema de comunicação, e que a própria ALL só teve conhecimento total sobre o local e a gravidade do acidente por volta de 6h.

Outro problema destacado por Rasca Rodrigues é que este é o segundo acidente ocorrido na Serra do Mar neste ano. Em março, durante o descarrilamento de um vagão, 350 toneladas de soja, farelo de soja e milho a granel atingiram o Córrego Caninana, afluente do Rio Nhundiaquara. A ALL foi multada em R$ 1,5 milhão. Além disso, a empresa ficou obrigada a apresentar uma auditoria ambiental sobre os maiores problemas ocorridos na época. Mas até hoje esse documento não foi entregue.

ANTT

Uma equipe de técnicos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está desde segunda-feira no Paraná. Ela deve apurar as causas do acidente e, se for o caso, recomendar a instalação de uma comissão de apuração. A empresa Roca, que foi contratada para fazer a recuperação da ponte, informou que está tendo dificuldade para encontrar as peças para repor no trecho. Será preciso recompor um vão de 12 metros de comprimento, atingido no acidente.

São 28 multas em cinco anos

A Diretoria de Controle de Recursos Ambientais (Diram), órgão ligado ao IAP, informou que de dezembro de 1999 até junho de 2004, a América Latina Logística (ALL) recebeu 28 autos de infração. Desse total, 10 já foram pagos e outros 18 ainda estão em andamento.

As infrações lavradas somam R$ 6.349.500. Desse total, ainda estão em andamento R$ 6.120.000. O IAP ainda não definiu o valor da multa relativo ao 29.º acidente, ocorrido anteontem, na Serra do Mar. Segundo o diretor de relações corporativas da ALL, Pedro Almeida, as multas aplicadas pelo IAP incomodam, mas não preocupam a empresa: “Ninguém gosta de pagar multa, mas estamos trabalhando para resolver os problemas”, comentou. (RO e LM)

ALL nega que haja defeito na ponte

A ALL informou ontem que 80% das 1,7 mil toneladas da carga de milho, açúcar e farelo que estavam nos vagões descarrilados no acidente da última segunda-feira, caíram no Rio São João, em Morretes. Mesmo assim, o diretor de relações corporativas da ALL, Pedro Almeida, afirmou que de maneira alguma aconteceu um desastre ambiental. No máximo, a ALL reconhece que pela fermentação da carga, pode ter causado uma dano ambiental, mas muito menor do que o registrado no acidente envolvendo óleo combustível no ano passado.

Almeida afirmou que existem duas possibilidades para a causa do acidente: “A primeira hipótese é a falha humana, e a segunda é um descarrilamento, mas que não foi causado de maneira alguma por defeito na ponte”, disse, lembrando que o trem possui um aparelho que registrava o seu desempenho, o que vai facilitar as investigações.

O diretor de commodities agrícolas da ALL, Eduardo Pelleissone, afirmou que os clientes da empresa não terão prejuízo com a interdição da ferrovia. Diariamente são transportadas 30 mil toneladas de carga pela via férrea. “Nossos clientes não sairão prejudicados. Alguns já tinham estoque no porto. Outros estão levando de trem até um ponto e dali para frente a carga vai de caminhão, de responsabilidade da ALL. Um terceiro caso são aqueles que vão levar suas cargas para os portos de Rio Grande e São Franscisco”, explicou. A empresa ainda não tem o cálculo dos prejuízos. “O impacto para o Estado com certeza não é maior do que a greve no porto”, emendou.

Embargo

Quanto ao embargo do IAP, Almeida disse que ainda não havia tomado conhecimento sobre o termo de ajuste de conduta. Contudo, ressaltou que a competência da licença ambiental da ALL é do Ibama, já que a empresa opera em quatro estados.

Almeida disse que a empresa investiu R$ 600 milhões em segurança desde 1997 e que, em números absolutos, os acidentes caíram 78%, se comparados com a administração da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). Ele negou que os acidentes em pátios não venham sendo colocados nas estatísticas, como acusou o Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR).

Tecnologia

Almeida defendeu a condução das composições por apenas um maquinista, utilizando a tecnologia como argumento. Ele também criticou a postura do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-PR), que disse que os técnicos da ALL não são seus filiados. “Eles querem é conseguir o poder de fiscalização sobre a empresa”, acusou. (LM)

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