Minha Kombi, minha vida

Homem mora há 2 anos dentro de Kombi no Portão

Uma Kombi branca, ano 1977, estacionada junto ao número 41 da Travessa Osmar Razzolini, no bairro Portão, em Curitiba. Há mais de dois anos, este é o endereço de Valdomiro Ferreira de Castro. Ex-operário e catador de papel, ele fez do velho carro sua casa, a única que conseguiu comprar em 63 anos de vida.

Sem família, Valdomiro mora apenas com o vira-lata Rex, companheiro dos últimos 12 anos. “Aqui tenho cama, fogão, pia, televisão… A vizinhança é boa, todos me tratam bem e ajudam. É bom, mas eu gostaria de uma casa melhor”, avalia. Apesar da lataria bastante danificada, o motor da Kombi funciona bem. Mas ela fica quase o tempo todo parada. “Só saio para ir ao posto de saúde”, afirma.

Marco André Lima
Valdomiro mora apenas com Rex, seu companheiro há 12 anos. Veja na galeria de fotos a situação.

Para sobreviver, conta com a ajuda dos vizinhos e com o dinheiro que consegue cuidando de carros durante a noite. Antes de comprar a Kombi, Valdomiro vivia na rua. Durante os últimos 15 anos, no mesmo endereço em que deixa estacionada sua atual residência. “Ele dormia no carrinho de papel, em cima dos papelões. Eram uns 12 catadores que moravam aqui, mas só sobrou ele. Todos os outros morreram”, conta Fábio, gerente da oficina mecânica vizinha à Kombi. Foi o pessoal da oficina quem deixou o motor do carro em ordem. “Todos na vizinhança gostam dele. Não bebe, é simpático e nunca arrumou confusão”, relata.

Natural de Pinhão, no Centro-Sul do Paraná, Valdomiro é o caçula e único sobrevivente entre sete irmãos. É viúvo desde 1999, quando a esposa Claudete faleceu em um acidente de automóvel. “No dia em que ela morreu, tive que tirar meu filho, que era menor, da delegacia”, conta. O envolvimento com o crime afastou Alexandre, 30 anos, da convivência com o pai. “Ele vive preso, nem sei onde está”, diz Valdomiro.

Com o valor recebido após o falecimento da esposa, ele comprou a Kombi. “Dividi o dinheiro do seguro com minha enteada. Gastei R$ 2,5 mil na Kombi, para morar mesmo, já que nunca consegui comprar uma casa”, lamenta.

Valdomiro já foi sequestrado e assaltado

A habitação precária não evitou que Valdomiro fosse vítima da violência urbana. “Há alguns meses, uns sujeitos apareceram dizendo que eram policiais, me botaram em um carro e me soltaram lá no Pinheirinho. Enquanto eu estava longe, levaram minha televisão e um botijão de gás”. Para repor os bens perdidos, ele teve que contar com o auxílio dos vizinhos. “Já corri atrás de aposentadoria, mas como trabalhei quase sempre sem carteira assinada, não consegui”, revela. Essa é, além da saúde já precária, a única preocupação que Valdomiro traz aos moradores da região. “Seria muito bom se alguém ajudasse ele com a aposentadoria. Mas não queremos que ele saia daqui. É um patrimônio da rua”, diz Fábio, o gerente da oficina.

Veja na galeria de fotos a situação.

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