Grupo de apoio liberta jogadores compulsivos

Marcos, de 44 anos, perdeu um emprego importante em uma agência curitibana de um banco federal. Foi demitido por justa causa por tomar emprestado dinheiro de clientes para sustentar seu vício. Foi internado e a mulher, cansada da rotina de jogo do marido, o abandonou. “Colocou minhas roupas em um saco de lixo, levou para a casa do meu pai e partiu”, conta. Edu, 58, chegou a passar três dias inteiros jogando, sem comer, retornando para casa só para dormir. “Vendi dois apartamentos para jogar”, confessa. “Meus amigos se afastaram.” Sílvio, 61, perdeu casa e carro ao apostar milhares de reais diariamente no jogo do bicho. “Tenho sorte de ainda estar com minha mulher”, comemora. Os nomes são fictícios, mas é real a história de três jogadores compulsivos curitibanos que só conseguiram se livrar do vício graças aos Jogadores Anônimos (JA).

A entidade, que funciona nos moldes dos Alcoólicos Anônimos (AA), existe há seis anos em Curitiba.

Entre jogadores que vão e que vêm, aparecendo em uma ou duas sessões e depois retornando para as máquinas caça-níqueis, quinze pessoas integram os dois grupos que se reúnem terças e sextas-feiras. Os doze passos e as doze lições da cartilha dos JA “salvaram” os três jogadores, nas palavras deles próprios. “Tentei parar outras vezes mas só consegui me livrar depois de entrar de cabeça no grupo”, explica Marcos. “Depois dos três dias de jogo, acordei em um hotel de terceira categoria e pedi a Deus uma ajuda. Perambulando pela rua, encontrei uma faixa na Praça Rui Barbosa. Liguei e uma das voluntárias do grupo me pagou o almoço e me internou. Hoje estou salvo”, lembra Edu.

Os três são unânimes em afirmar que a vontade de jogar não foi embora. O prazer do jogo, contam, é inigualável e sempre dá uma coceirinha ao passar em frente a uma das casas de bingo da cidade. “Aprendemos a resistir”, diz Sílvio. Para Edu, o tratamento nos JA foi combinado com uma medida de choque. “Meu filho é o responsável pelo meu dinheiro. Ele administra minha vida financeiramente”, explica. A medida não é exagero, complementa Marcos. “O dinheiro é o combustível do vício”, afirma, com experiência de quem chegou ao bingo com R$ 600,00, ganhou R$ 2.400,00, apostou novamente, voltou a perder e saiu de lá com a passagem de ônibus. “Perdemos todos os referenciais”, diz.

Dez anos do grupo no Brasil

Guilherme Voitch

Completando 10 anos de existência no Brasil no próximo domingo, os JA promoverão reuniões abertas ao público. O objetivo é conscientizar a população sobre os perigos do jogo e a importância da família na recuperação e tratamento do jogador compulsivo. Atualmente são onze cidades no Brasil com sedes dos JA.

Em Curitiba, as reuniões acontecem na Rua Trajano Reis, 457, às terças e sextas-feiras. O telefone para contato é (41) 9113-1093 ou 354-4020. Os JA promovem em também reuniões para amigos e familiares dos jogadores. É a reunião do Jog-Anon.

Segundo o grupo dos JA de Curitiba, no Brasil, não existe literatura médica e tratamento específico para os jogadores, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificar o jogo compulsivo como doença.

Impasse mantém bingos funcionando

Guilherme Voitch

Os 33 bingos que funcionam no Paraná permanecem funcionando com base na resolução 27, promulgada no ano passado pelo governo estadual. Os bingos são autorizados a funcionar pelo Serviço de Loterias do Paraná (Serlopar), que faz o papel de fiscalizador das casas. Segundo o vice-presidente do Sindicato das Casas de Bingos (Sindibingos), Luiz Eduardo Dibbi, a legislação estadual é suficiente para garantir a legalidade das casas. “Depois da Lei Pelé houve um vácuo das leis federais sobre o assunto. Os estados estão legislando por conta própria e por isso estamos amparados por determinação governamental para funcionar”, diz.

Apesar da resolução, o governador Roberto Requião (PMDB) já declarou a intenção de fechar os bingos. Mas, por enquanto, a iniciativa esbarra no acordo assinado no governo passado. Atualmente, a ação do Ministério Público que pede o fechamento das casas está em mãos da Procuradoria Geral do Estado.

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