Garis enfrentam rotina com bom humor e alegria

Limpar o mato alto ou coletar lixo, de casa em casa, durante pelo menos sete horas diárias tendo de enfrentar o mau cheiro e, muitas vezes, o preconceito das pessoas. Essa é a rotina dos cerca de 1.700 garis da Cavo, empresa que cuida da coleta e gerenciamento do lixo em Curitiba. A receita para vencer as dificuldades do dia-a-dia é dada pelos próprios trabalhadores: bom humor e alegria. Afinal, alguém já viu caminhão de coleta de lixo com garis trabalhando carrancudos e mal-humorados. “Não dá, né? A lida já é dura. Do que adianta fechar a cara?”, diz José das Neves Lotero, de 22 anos, que há dois anos e meio trabalha na Cavo.

A equipe de coleta é constituída, normalmente, por quatro ou cinco pessoas, contando com o motorista do veículo. As equipes são fixas, sem mudança dos componentes, o que facilita o convívio entre os companheiros. “Viramos amigos, sabemos quando é hora de brincar um pouco mais e sabemos quando o colega está chateado e não vai aceitar as brincadeiras”, diz Lotero. A afirmação procede, ainda mais quando é o motorista é que não está para brincadeira. “Tem horas que eles aceleram um pouco mais. Fica difícil de acompanhar. Eu mesmo já tomei uns tombos. Mas acontece, faz parte”, conta.

Pizza

Em qualquer profissão, a experiência é importante. Mas, para os garis, a diferença entre veteranos e novatos vai além da autoridade para fazer piadinhas. Os recém-contratados se incomodam com o cheiro, demoram para pegar os sacos e muitas vezes acabam tendo de correr atrás do caminhão, garantem os mais experientes. Mas, com o passar do tempo e a vivência das rotas, gari que é gari passa a conhecer até alguns hábitos e particularidades dos moradores. “Tem casa que sempre tem muito resto de comida, tem casa em que a gente só recolhe caixa de pizza. A gente vai manjando cada um”, explica Antônio Carlos dos Santos, há 5 anos na empresa.

A “manha” torna-se também fundamental para identificar as casas onde os moradores, ao invés de facilitar, dificultam o trabalho dos garis. As histórias de cortes e lesões provocadas por pedaços de vidro e outros objetos são muitas. “Conheço gente que não consegue nem mais trabalhar”, diz Antônio Carlos.

Do caminhão para a escola

A jornada de trabalho é de sete horas mas Nélton César Bielik passa, em pelo menos três dias da semana, mais duas horas na empresa. O esforço adicional tem um motivo nobre. Depois de 20 anos, Bielik voltou para a sala de aula. Ele e mais cinqüenta funcionários da Cavo estão estudando em uma escola montada na própria empresa, com professores que, na verdade, são colegas de trabalho. “É um projeto que temos junto ao pessoal do escritório e da administração”, explica o supervisor operacional da Cavo, Ricardo Cortez de Souza. Uma psicóloga e mais uma assistente social também auxiliam nas aulas.

Bielik está estudando há seis meses e diz ter aprendido muita coisa nesse tempo. Na quinta-feira passada ele chegou mais cedo na sala a e aproveitou para colocar em dia as tarefas. “Estou escrevendo uma redação sobre o novo aterro sanitário”, diz.

A escola, destaca Cortez é um dos benefícios oferecidos pela empresa. Segundo eles todos os funcionários também contam com convênio médico, odontológico, serviço farmácia e previdência privada. (GV)

A conquista do banheiro móvel

Um banheiro. Esse foi o grande benefício que os cerca de 350 funcionários da Cavo que trabalham com limpeza especial conquistaram nas últimas semanas.

Pode parecer estranho, mas o pequeno sanitário montado em cima de uma carreta móvel, que acompanha as equipes durante a limpeza de grandes áreas de matagal, mudou a rotina de trabalho dos garis.

“Antes tínhamos de pedir para usar banheiro de restaurantes e de comércios. Mas tem gente que não gosta, que prefere que a gente não use”, diz Pedro do Carmo, 42 anos, seis anos dedicados à Cavo. A solução encontrada por Pedro e seus colegas não era lá das mais higiênicas. “O jeito era se enfiar no meio do mato. Agora não. Dá para trabalhar mais tranqüilo”, explica.

A Cavo deve disponibilizar mais unidades do banheiro móvel, caso tenha seu contrato de serviço renovado com a Prefeitura. (GV)

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