Traumas de hospital

Ganhar um filho na maternidade Victor Ferreira do Amaral é “um parto”

Gestantes, familiares e mulheres que tiveram filhos na maternidade Victor Ferreira do Amaral, a mais antiga do Paraná, localizada na Avenida Iguaçu, em Curitiba, reclamam do atendimento recebido na instituição. O principal ponto relatado pelas pacientes ao Paraná Online, é que o hospital adia muito a data do parto, dificultando a vidas das futuras mães, que sentem muitas dores e acabam indo várias vezes ao hospital na esperança de serem internadas. Só que na maioria das vezes são orientadas a voltar para casa e esperar mais um pouco.

Um desses casos é o de Daiane Luiza Pereira, 23. Segundo o relato de sua mãe, Angelina Cordeiro Pereira, passaram-se onze dias entre a data prevista para o parto e a realização dele. “Estava marcado para dia 17 de junho, quem marcou foi a ginecologista que o fez pré-natal da minha filha no posto de saúde, só que o parto foi feito dia 28 de junho”. Conforme a mãe de Daiane, a justificativa do hospital foi de que não estava na hora da criança nascer. “A gravidez tinha chegado em 41 semanas e seis dias, a médica da maternidade ficou com dó da minha filha e resolveu fazer cesariana”, conta Angelina. Ela informa que, no papel fornecido pela maternidade, foi colocado que a gestação durou 40 semanas.

Após o sofrimento, Daiane teve que levar o bebê no pediatra, pois a criança chorava muito mais que o normal. O médico constatou que o recém-nascido havia engolido o líquido amniótico quando estourou a bolsa e, por isso, tinha dois ferimentos na garganta.

Incertezas

Situação parecida na mesma maternidade, só que dez anos atrás, viveu a empregada doméstica Conceição Aparecida Miranda. Ela recorda que ia e voltava do hospital, sempre com o parto adiado, até que um dia o médico foi escutar o coração do filho dela e não ouviu batimento algum. “Nessa hora eu grudei no pescoço do médico e exigi que o parto fosse feito. Foi cesariana de emergência. O problema é que ele evacuou ainda antes de nascer e as fezes foram engolidas e também foram parar no pulmão”, relata.

Como consequência desse fato, o filho de Conceição teve vários problemas. “Corri muito por ele nesses dez anos. Ele demorou a andar, falar, teve que fazer tratamento de fonoaudiologia, psicologia e tem dificuldade de aprendizado até hoje”, lamenta a mãe, que não sabe se o filho terá condições de passar em um vestibular, por exemplo.

Procedimento padrão é parto normal, defende diretora

Questionada sobre as reclamações recebidas pelo Paraná Online, a diretora da maternidade Victor Ferreira do Amaral, Solange Borba Gildemeister, informa que o procedimento padrão da casa é a realização do parto normal. “Quando chega em 40 semanas a mãe é examinada no hospital e eles vão monitorar para ver como está o bebê. Se está tudo bem dizemos para a mãe ir para casa e que volte em três dias. O médico examina novamente, espera mais três dias. Passado esse tempo ela é internada para iniciar a indução do parto”, explica.

De acordo com a diretora, a gestante só é internada antes das 40 semanas em casos como descolamento de placenta, convulsão ou hemorragia uterina. “Todo neném pode vir antes ou um pouquinho depois, eu sei que é desconfortável, sou mãe de dois filhos”, comenta, enfatizando que não é qualquer dor ou incômodo que leva à internação imediata da gestante.

Após ficar mais de uma década fechada, a maternidade foi reativada em 2001, graças a uma parceria entre a administração municipal e a Universidade Federal do Paraná. Hoje é administrada pela UFPR em conjunto com o governo do Estado e a prefeitura de Curitiba. A maternidade possui 40 leitos para parto e seis de pré-parto. Toda gestante no trabalho de pa,rto tem direito a um acompanhante. Já a menor de idade tem direito ao acompanhamento antes mesmo do trabalho de parto.

Há muito desencontro de informações

Segundo Kelly da Silva de Oliveira, “as obstetras são boas, mas o atendimento na frente é ruim e as informações devem melhorar”.  Ela está com a irmã Rafaelli Porcina da Silva internada na maternidade. “Minha irmã estava com perda de líquido desde o começo do mês de junho e o pessoal do hospital dizia que era normal, só internaram porque chegamos lá de ambulância”. Ela acha que existe desencontro  de informações na recepção. “Um dia a moça disse que poderia levar roupa no quarto,no outro dia a atendente disse que minha irmã só ficaria com a camisola do hospital”, cita.

Terceirização e atraso salarial pioram situação

O presidente em exercício do Simepar, Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná, Murilo Schaefer, defende o procedimento do parto normal como padrão. “Cesariana gera maior risco para a mãe e o bebê. É mais arriscado por ser uma intervenção cirúrgica”, considera. Ele conta que a situação no atendimento da maternidade Victor Ferreira do Amaral está comprometida pelo atraso no pagamento dos profissionais. “Uma situação que está ocorrendo lá é o serviço médico terceirizado e com os salários não sendo pagos em dia”. Schaefer informa que esta situação foi passada ao Ministério Público.

Gerson Klaina
Instituição conta com 40 leitos para parto e seis de pré-parto.