Reconhecendo na semana passada que na região da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai, não há qualquer foco terrorista, o embaixador americano J. Cofer Black, coordenador de contraterrorismo do Departamento de Estado americano, confirmou o que todos já sabiam e a Polícia Federal sempre afirmou. Agora a esperança em Foz do Iguaçu, o lado brasileiro das três fronteiras, é que a cidade se recupere dos prejuízos acumulados por causa das informações negativas sobre a região.

Depois dos atentados de 11 de setembro do ano passado, suspeitas começaram a ser lançadas sobre a colônia árabe de Foz, calculada em cerca de 12 mil pessoas, acusada de financiar grupos como o Hezbollah, de lavar dinheiro obtido em operações ilícitas, de esconder terroristas e até mesmo de manter campos de treinamento para o terrorismo islâmico.

Depois que uma notícia com estas denúncias foi veiculada há cerca de dois meses pela rede de TV CNN, o promotor Francisco Marchiorato, de Foz, decidiu reagir. “Ajuizamos uma ação contra a CNN para que a emissora seja responsabilizada pelas informações falsas. Eles vão ter que desmentir o que disseram ou pagar uma indenização pelos prejuízos sofridos pela cidade”, diz Marchiorato.

Para o comerciante Mohamed Ismail, presidente da Associação Árabe Brasil de Foz, a região é vigiada com rigor há mais de dez anos por serviços de inteligência de vários países. Se houvesse algum fato importante no que diz respeito a atividades terroristas, segundo ele, já teria sido descoberto.

Muitas vezes, observa o comerciante Fouad Mohamad Fakih, Foz acaba levando a fama por fatos negativos que não aconteceram na cidade. Ele dá um exemplo: “A droga sai do Paraguai para São Paulo e é apreendida na fronteira. As manchetes dizem: presos traficantes em Foz. A droga não era de Foz, não vinha para Foz, mas quem leva o rótulo das mazelas é Foz.”

Com a precariedade material da polícia paraguaia, que circula na vizinha Ciudad del Leste com picapes velhas ? com plástico substituindo o pára-brisa quebrado ? acaba havendo pressão para que os americanos continuem na região. Como a prioridade do governo do presidente George W. Bush é o combate ao terrorismo, algumas fontes acreditam que continuar levantando suspeitas sobre a possibilidade de atividades de grupos radicais seja uma forma de sobrevivência daquela corporação.

Embora já tenham sido feitas algumas prisões, sempre de membros da colônia árabe, nunca se provou o envolvimento de ninguém com o terrorismo. Acompanhando os americanos da comitiva de Cofer Black que estiveram nas três fronteiras na quarta-feira, o chefe da Delegacia da Polícia Federal em Foz, delegado Joaquim Mesquita, que é também presidente do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira, disse que agora haverá uma força-tarefa com técnicos dos EUA para investigar possíveis remessas de dinheiro para o terror internacional.

Muito marcada pelas notícias negativas, Foz teve este ano uma queda de 20% no número de turistas. A cidade foi afetada também pela crise econômica na Argentina, que responde por 60% dos visitantes.

Mulher denuncia perseguição

Foz do Iguaçu

(AG) ? Preso em junho deste ano acusado de ter ligação com o Hezbollah, o comerciante libanês naturalizado paraguaio Assad Ahmad Barakat teve o pedido de extradição requerido pelo governo do Paraguai aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira. Barakat, cuja prisão foi a de maior repercussão até hoje nas três fronteiras, teve derrubadas no STF as acusações de associação criminosa e apologia ao crime e será extraditado apenas por evasão fiscal. Ao saber da aprovação da extradição, a mulher de Barakat, Marlene, disse que seu marido é um bode expiatório e mais uma vítima do estigma de “ninho de terroristas” que existe na região. “Meu marido está sendo perseguido porque é muçulmano”, disse Marlene, que é brasileira e mora em Foz do Iguaçu.

Passando por dificuldades financeiras depois que o marido foi preso, Marlene está recebendo a ajuda de parentes, que colaboram na manutenção da casa e na criação dos três filhos, Ahmad, de 13 anos, Ali, 5, e Hassam, 1. “Ele tem filhos para sustentar, não sustentaria um grupo terrorista que vai matar filhos como os nossos”, argumenta.

Revoltada com a decisão do STF, Marlene Barakat assegura que o marido, que era dono de uma loja de eletroeletrônicos em Ciudad del Este, no Paraguai, não deve nenhum imposto. Como ele trabalhava com importação, todos os impostos das mercadorias que recebia eram cobrados na entrega dos produtos.

O advogado de Barakat, Amauri Serralvo, de Brasília, considerou uma vitória ter sido negada pelo STF a acusação de apologia ao crime, pois isso impedirá que os paraguaios liguem Barakat ao Hezbollah.

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