Fórum sobre drogas mostra falta de tratamento

Crianças e adolescentes estão desassistidos, no Brasil, quando o assunto é tratamento de dependências em drogas. A afirmação foi um consenso, ontem, durante a mesa-redonda “Atenção psiquiátrica da infância e adolescência”, promovida pelo II Fórum Paranaense de Saúde Mental, que está sendo realizado desde a última sexta-feira (12) e termina hoje, em Curitiba. O evento é promovido pela Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

“É um setor que tem poucos serviços”, diz o especialista Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), que estava ontem na mesa-redonda. “E os adolescentes são ainda mais desassistidos do que a população adulta”, completa, explicando que o tratamento deveria ser muito mais específico, integrado, entre outras coisas, com a parte escolar.

“Não pode deixar o adolescente internado sem escola”, alerta. “Nos Estados Unidos, os mais problemáticos vão para um tipo de colégio interno que é, ao mesmo tempo, clínica. No Brasil, isso não existe. Se você tem um parente adolescente que está usando crack, não tem o que fazer. Se precisar internar, vai ser junto com adultos. É uma situação completamente inadequada”, ressalta.

A opinião é compartilhada pelo presidente do SPP, Marco Antônio Bessa: “É uma área onde temos um grande deserto, não só de atendimento mas de falta de política pública”, diz. “E o problema principal é que é de longo prazo. Essas crianças que sobreviverem ao uso e tráfico de drogas terão problemas permanentes de saúde”. Isso, segundo ele, já gera e vai gerar um custo cada vez maior para a sociedade, seja na segurança pública, assistência médica ou seguro social. “É um dos problemas principais do Brasil, que a sociedade em geral não tem percebido.”

A observação dos especialistas mostra que a situação é ainda mais grave, se for levado em consideração o aumento no consumo de álcool e drogas na adolescência. “O consumo de álcool está sendo mais precoce. E quando o adolescente bebe, não é um copo de cerveja. Bebe 20 copos, cinco vodcas”, afirma Laranjeira. Para ele, este padrão de consumo predispõe ao uso de outras drogas. “Quanto mais precocemente o adolescente experimentar o álcool, maior a chance de passar para a maconha e também o crack.”

Orientação

Uma pesquisa da ABP, em parceria com o Datafolha, divulgada recentemente, indicou que 9% da população já enfrentou pelo menos um problema de doença psiquiátrica na família, no período de um ano. Por conta disso, além dos seminários, o fórum promoveu também orientações à população a respeito dos transtornos mentais, como parte do programa “ABP Comunidade: Psiquiatria vai à população”.

O objetivo era aproximar o público leigo do tema, com informações sobre os transtornos mais comuns e suas formas de tratamento. “Estamos tentando desmistificar os transtornos mentais, que é uma área em que ainda existe muita desinformação e preconceito”, observa Bessa. Para isso, os organizadores montaram até uma barraca na Boca Maldita, no Centro, onde médicos residentes de psiquiatria davam informações a interessados.