Fiéis se arriscam para assistir missa no Anhangava

Mesmo com garoa e muito barro centenas de fiéis subiram ontem o morro do Anhangava, em Quatro Barras, para a tradicional missa de 1.º de maio que celebra o Dia do Trabalhador. A cerimônia, que acontece há 54 anos, enfocou a paz e a bênção dos trabalhadores. Cerca de 1,2 mil pessoas participaram do evento da missa.

A celebração estava marcada para as 10h30, mas só começou por volta do meio-dia. A subida do morro, que deveria começar às 7h30, só foi liberada por volta das 10h, quando a garoa deu uma trégua. A trilha que dá acesso ao cume estava escorregadia e oferecia risco de acidentes. Mesmo assim os fiéis quiseram enfrentar a caminhada, que durou cerca de uma hora e meia.

Júlia Camargo e a irmã Rosa Camargo estavam ansiosas para subir o morro. Era a primeira vez que iam rezar no alto da montanha. Apesar do mau tempo, resolveram sair de casa para conferir se haveria a celebração. Ela tinha um motivo especial: queria começar uma novena para pedir graças e melhorar a saúde. “Vou começar uma novena hoje e vou terminar na missa do próximo ano”, comenta.

Dorotéia e Júlio Maciocha também estavam animados com a caminhada. Eles já participaram de várias missas no morro e não abrem mão da aventura. “A celebração é muito bonita. Quando a gente desce, está renovado e mais jovem”, explica Júlio. Mesmo com certa idade, Dorotéia (63 anos) afirma que o caminho não é cansativo. “Vou subindo devagarinho, sem pressa”, diz.

Trilha escorregadia

Segundo o segundo-tenente do Batalhão da Polícia Florestal, Daniel Piculski, a recomendação era para que a missa fosse celebrada no pé do morro. A trilha estava escorregadia e poderia ocorrer desde simples luxações até um acidente mais grave, já que havia muitas crianças e idosos. A opinião do Corpo de Bombeiros era a mesma. O fato de muita gente usar a trilha, acaba deixando a estrada muito lisa. “Mas a decisão de subir ou não é de quem organiza o evento”, disse Daniel. Enquanto os fiéis subiam, uma pessoa que havia passado a noite lá em cima se acidentou e foi atendida pelo Corpo de Bombeiros. Ela estava alcoolizada.

Meio ambiente

Ambientalistas aproveitaram para fazer uma manifestação pedindo a criação de um parque no local. Segundo um dos manifestantes, que não quis se identificar, desde a década de 1990 a criação da área de preservação está no papel. Enquanto isso, muita gente tem subido o morro provocando sérios problemas natureza. Com o passar do tempo, as trilhas foram ficando mais largas, há erosão e muita gente joga lixo. “Tem até pilha aqui em cima. O risco de poluir nascentes é muito grande”, comenta. O ambientalista disse ainda que, com a criação do parque, as subidas seriam organizadas e teria uma infra-estrutura para evitar a degradação.

Esta semana houve várias reuniões entre a igreja e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que quer impedir a realização das missas. Mas uma liminar obtida através do Ministério Público de Campina Grande do Sul garantiu a realização do evento. “As pessoas vêm para rezar. Nós fazemos um trabalho de orientação para que cuidem da natureza. O problema são os outros”, argumentou o padre Getúlio Pereira da Silva, que realiza a celebração há oito anos. Segundo ele, se a missa não fosse realizada este ano, seriam abertos precedentes para que elas fossem interrompidas.

Manifestação enfoca trabalho e moradia

Trabalho e moradia foram os temas enfocados em uma manifestação realizada ontem, no Dia do Trabalho, na Praça Renato Russo, no Jardim Centauro, em Curitiba. O evento reuniu cerca de quinhentas pessoas e teve como objetivo exigir mudanças no modelo econômico, que segundo os participantes, prioriza o pagamento da dívida externa e não a geração de emprego e renda.

No decorrer da atividade, foram citadas questões ligadas aos trabalhos infantil e escravo e à situação dos cerca de quatro mil habitantes da região das moradias União, localizada nas proximidades da praça. Os manifestantes utilizaram um caminhão de som para emitir suas opiniões, além de faixas e cartazes.

“A região é um grande exemplo da exclusão social. Seus habitantes convivem com o desemprego, não possuem acesso à educação e vivem em situação de total miséria”, declarou o integrante do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região Metropolitana, Gustavo Erwin.

O coordenador do movimento Pastoral do Imigrante, padre Mário Geremia, destacou o problema da migração da população do campo para as cidades, o que acaba comprometendo a qualidade de vida nas regiões urbanas. “Temos que conhecer a realidade em que vivemos e dar apoio a quem enfrenta dificuldades. Todos devem se comprometer com a geração de trabalho, pão e dignidade”.

A manifestação foi promovida pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que engloba a pastoral operária, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), entre outras entidades.

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