Se o sobrenome Escher é conhecido no mundo inteiro por causa do artista gráfico holandês, mestre do ilusionismo, na Grande Curitiba ele é referência em agricultura orgânica. De origem alemã, a família Escher deixou a cidade de Eneas Marques, no sudoeste do Paraná e a cerca de 20 quilômetros de Francisco Beltrão, para se estabelecer em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. No sítio de 20 hectares, a 35 quilômetros da capital, eles produzem hortifrutigranjeiros orgânicos, além de outros produtos, como pães, geleias, leite, iogurte e molhos. A comercialização é feita em três feiras da capital.
No ano passado, a família inaugurou o barracão de 200 metros quadrados voltado ao beneficiamento de leite e à fabricação de pães, geleias e molhos de tomate. Segundo Luciano, o galpão só começou a funcionar depois de muita espera para regularizar o espaço e obter a licença do governo. “As regras para o pequeno produtor são as mesmas que valem para o grande produtor”, lamenta. O maquinário foi adquirido através de financiamento junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Hoje, ele, o irmão Juliano, 24, e o pai, 58, cuidam principalmente do plantio e da colheita dos vegetais.
Felipe Rosa |
---|
Há 13 anos, eles decidiram migrar para Campo Magro para cultivar hortaliças e frutas. |
Enquanto a mãe, de 54 anos, administra a produção de leite e derivados, as geleias e os molhos. O casal ainda tem uma filha, que mora na capital.
Orgânicos acessíveis
Os alimentos são embalados com o rótulo Escher Orgânicos, já que são livres de produtos químicos, como agrotóxicos e hormônios. “Os alimentos orgânicos são comercializados há mais de 20 anos, mas há cinco o número de consumidores vem aumentando. A movimentação nas feiras cresceu 40%”, afirma Luciano.
O agricultor atribui essa expansão à maior conscientização dos consumidores quanto à preservação do meio ambiente e à busca por qualidade de vida. “Quando viemos para cá eram apenas três feiras especializadas, hoje são mais de 15”, conta Luciano, que desmistifica a diferença de preço entre os alimentos tradicionais.
“Caros são aqueles produtos vendidos em mercado. Mas nas feiras, quando não existe o atravessador, são tão acessíveis ou até mais baratos que os comuns. Eu chego a vender um pé de alface grande a R$ 1,20. Não acho que é mais difícil trabalhar com orgânico. Eu penso nos benefícios que isso traz para o solo, para o meio ambiente, a água e a saúde da população”, defende Luciano, que se formou em Desenvolvimento Rural e Gestão de Agroindústria, no Rio Grande do Sul. Sua noiva é de Cascavel e cursa Nutrição. Depois do casamento, ele planeja abrir um café para vender os alimentos.
Rotina começa cedo
Três dias da semana, a rotina é a mesma para a família Escher. O dia começ,a cedo: às 4h30, eles levantam da cama e passam a encher o caminhão com os alimentos, todos certificados. Às terças e quartas, seguem para a feira na Praça do Expedicionário e aossábados, participam da feira do Passeio Público e no Jardim Botânico.
Nessa mais de uma década de trabalho árduo, a família já passou por inconvenientes. “No começo, tínhamos uma Kombi. Certo dia, ela já estava cheia e quebrou no meio do caminho. Felizmente um vizinho emprestou um caminhão e nos cobrou o frete depois”, lembra. O trabalho braçal do campo já pôs em risco a saúde de três membros da família. Maria Salete teve que operar da coluna. Luciano e o pai tiveram problema no joelho.
Uma das piores adversidades é trazida pelo frio intenso e as geadas, que assolam as plantações e põem todo o trabalho a perder. Na semana da neve, as alfaces queimaram todas, mas a produção não foi perdida. “Nós tivemos que cortar as folhas queimadas e vendê-las mais barato. Foi a pior geada que já peguei na vida”, disse Luciano. Os transtornos, porém, não são nada perto do sossego e da qualidade de vida do campo, como o silêncio e a bela vista para o Morro da Palha.
Felipe Rosa |
---|
Luciano: quando não existe atravessador, são até mais baratos que produtos comuns. |