Violência

“Exército do PCC” cresce 3,5 vezes no Paraná em apenas cinco anos

Arquivo / Gazeta do Povo

O Paraná vem assumindo, cada vez mais, um papel central na estratégia do Primeiro Comando da Capital (PCC)facção nascida há 25 anos em celas de presídios paulistas. O estado lidera o plano de expansão da organização e há cinco anos o número de faccionados só faz aumentar: de 2013 pra cá, o “exército” do PCC cresceu três vezes e meia em terras paranaenses. Hoje, são mais de 2,8 mil integrantes no estado, segundo investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

O mapeamento revela que o Paraná detém 14% dos 20,4 mil membros arrebanhados pelo PCC fora de São Paulo. O avanço está diretamente ligado à posição geográfica paranaense, considerada privilegiada para a consolidação do projeto mais ousado da facção: sua expansão internacional, a partir do Paraguai. É principalmente por esta rota que a organização “importa” maconha, cocaína e armas, até a região Sudeste.

“O Paraná é estratégico pra eles [PCC] por causa disso: por estar entre o Paraguai e São Paulo. A dificuldade é grande, por causa do tamanho da fronteira, mas posso te dizer que estamos numa boa posição, monitorando isso de perto”, afirmou um agente que integra o serviço de inteligência das forças de segurança do estado.

O episódio mais recente que evidencia o foco internacional do PCC se deu em abril do ano passado, quando a facção levantou US$ 20 milhões em um mega-assalto a uma transportadora de valores, em Ciudad del Este, e que parou a cidade. A ação transcorreu sob demonstração ostensiva de poder de fogo – com direito a explosões, fuzis e metralhadoras. Parte dos assaltantes fugiu para o Paraná, onde a polícia do estado promoveu uma caçada que envolveu mais de 400 agentes – e que terminou com três suspeitos mortos e dez presos.

Um dos acusados de envolvimento no roubo é José Roberto Alves Monteiro, de 28 anos. Ele esteve preso na Penitenciária Estadual de Piraquara I (PEP-I), de onde havia sido resgatado por faccionados em 2015, em uma ação cinematográfica. Na ocasião, um grupo de bandidos do PCC explodiu um muro do complexo penitenciário, por onde Monteiro e outros 25 detentos escaparam.

Evidências

Apesar de haver evidências de ramificações do PCC no Paraná desde a década passada, o governo do estado só passou a reconhecer publicamente a presença da organização criminosa em dezembro de 2013. Desde então, “os mais graduados” na hierarquia do bando que são presos ficam mantidos na PEP-I.

É lá que está detido Sergio Aparecido Silva, conhecido como “Zé Neguinho”, apontado como uma das principais lideranças da facção no Paraná. Ele planejou a explosão de um trecho da BR-116, às vésperas da Copa do Mundo de 2014, como forma de isolar Curitiba. O plano, no entanto, foi descoberto pelo serviço de inteligência das forças de segurança.

Em 2013, a reportagem revelou elementos que demonstravam o poder do PCC dentro dos presídios: uma série de fotos de celas com inscrições das siglas da facção e vídeos gravados que mostravam faccionados bradando o grito de guerra do bando, em uma espécie de ritual. De acordo com quem trabalha nos presídios, de lá pra cá, a sanha de marcar território aumentou entre os homens do PCC.

“Quando saiu aquela reportagem, as direções pediram pra eles [os presos] segurarem a onda. Parou por um tempo, mas hoje está pior. São eles que mandam. Na verdade, é assim: o Estado finge que tem poder e os presos fingem que obedecem”, apontou um agente penitenciário, sob condição de anonimato. “Grito de guerra tem todo dia. As pichações aumentaram”, exemplificou.

“Na verdade, eles não ‘viram’ a cadeia porque não querem. Eles conseguiram muita coisa, como facilidades em visitas, mais tempo na visita íntima, maior liberação da ‘sacola’ [produtos enviados por familiares, com autorização da direção do presídio]. Isso também ajuda a acomodar o sistema”, ponderou outro funcionário de penitenciária.

Segundo agentes e policiais ouvidos pela reprotagem, no entanto, os braços do PCC se estendem por praticamente todas as unidades do estado. Além do complexo de Piraquara, a organização também manifesta bastante força na região de Londrina e no Oeste. Em Cascavel, por exemplo, foram pelo menos duas rebeliões graves em menos de cinco anos – em uma delas, cinco detentos foram executados (dois deles, decapitados) e 25 ficaram feridos.

“A única que não tem PCC é a Casa de Custódia de Curitiba. É pra lá que vão os opositores à facção. É a unidade que mais tem morte de presos”, assinalou um agente.

Voltar ao topo