Estar na faculdade é bom, duro é pagar

Para a maioria dos estudantes passar no vestibular é a realização de um sonho, a compensação pelas horas e horas de estudos, onde amigos e família ficaram de lado. Mas, para muitos, a pergunta “Como vou pagar?” não deixa a alegria ser completa. A solução é apelar para os créditos educativos e agüentar a incerteza de arranjar um emprego para pagar a dívida depois.

Luciana Bueno Franco, de 27 anos, tentou duas vezes entrar na Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas não conseguiu. Restou, então, as particulares. Hoje, ela está cursando o primeiro período de Odontologia no Unicenp. Só está lá porque conseguiu um financiamento junto ao governo federal, por meio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies), e o curso é a noite. A estudante lembra que sentiu um misto de alegria e preocupação quando soube do resultado. Nem curtiu a notícia e já tratou de pensar em como pagar. Quando ela soube que havia conseguido a bolsa, pôde comemorar. “Chorei muito, pois acreditei que havia passado”, diz.

As batalhas de Luciana, contudo, ainda não terminaram: ela precisa trabalhar durante o dia para quitar o restante do financiamento e ainda conseguir tempo para estudar e cuidar da filha de seis anos. “Aproveito os horários vagos. Estudo dentro do ônibus, indo para a faculdade”, exemplifica. Para a filha, que reclama muito da ausência da mãe, restam os fins de semana. A estudante também enfrenta uma barra na hora de fazer mimos para a menina, já que o dinheiro é contado. “Falo a verdade para ela e explico que no futuro as coisas serão melhores”, relata.

Família é a solução

Na hora de pagar a mensalidade a família é o porto seguro. Um dia é o tio. Outro o irmão. Até os avós entram nessa. É o caso de Polyana Leme Lorbieski, 22, que estuda informática também no Unicenp. A avó dela ajudou nos dois primeiros anos, entretanto, agora, ela está se virando sozinha. Este ano está conseguindo deixar em dia as parcelas, já que ficou em dependência e a mensalidade se refere a apenas algumas matérias. Para o próximo ano, conseguiu financiamento junto ao Fies. “Se não fosse o crédito, eu não teria como continuar o curso. No meu estágio ganho R$ 280,00”, explica.

Polyana também se sente um pouco prejudicada quanto as horas livres para estudar, já que o curso é difícil e o trabalho consome muito tempo. Talvez, por isso, ela tenha ficado em dependência. Outro problema de quem precisa se virar para pagar os estudos é que a vida social fica sacrificada. As saídas com os amigos são raras. “As condições financeiras não permitem”, completa.

Depois de os estudantes se formarem, é hora de devolver o dinheiro do financiamento. Durante o curso, é preciso apostar que vai estar empregado para pagar a dívida depois. Polyana diz que, como todo acadêmico, sonha em estar empregada, mas por enquanto prefere não pensar nisso.

Cleverson Luís Ferreira, 19 anos, estuda análise de sistemas na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Ele teve mais sorte que as outras estudantes, pois é filho de um funcionário da instituição. Com isso, tem um desconto de 50% na mensalidade. Além disso, é estagiário na universidade. Com o que ganha consegue pagar o restante dos gastos com o estudo. Ele, porém, diz que a ajuda dos pais para vale-transporte, comida, e outras despesas continua sendo fundamental.

Programa aquém da demanda

O Programa de Financiamento Estudantil do governo federal ainda está muito aquém da demanda existente. No segundo semestre de 2001, foram oferecidas 30 mil bolsas, mas havia 97 mil candidatos. No primeiro semestre de 2002, a situação se repetiu: foram 40 mil para 192 mil pessoas.

Mas os números ainda são melhores que os apresentados pelo antigo sistema de crédito, que vigorou até 1998, onde apenas 20 mil acadêmicos eram beneficiados anualmente. De acordo com o diretor do programa, Aurélio Hauschild, está se estudando medidas para aumentar o número de vagas. Em três meses, algumas alternativas devem ser apresentadas. Uma delas pode ser o incentivo para as próprias universidades criarem programas.

Em Curitiba, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná já possui um sistema de crédito. Dos cerca de 18 mil estudantes, 1.892 participam e têm um ano de carência para pagar o financiamento depois de formado, que corresponde a 50% da mensalidade. (EW)

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