Enganado na umbanda pode recorrer ao Procon

Pai-de-santo que faz ?trabalho? mal feito pode acabar no Procon. Quem garante é o coordenador-regional do órgão, Naim Akel Filho. O consumidor que ouvir do umbandista que o amor perdido voltaria em questão de dias, ou que a aprovação em um concurso estava garantido depois de um milagroso trabalho, pode exigir seus direitos de consumidor, caso a previsão não tenha dado certo.

Basta que a pessoa tenha um comprovante da transação. “Tendo a prova de que o cliente pagou por um serviço não-realizado, um recibo, por exemplo, está tudo perfeitamente legal”, explica Naim Akel. “São duas pessoas físicas, que estabeleceram uma relação de prestação de serviço e uma das partes não cumpriu o acordo.” A sugestão para que o consumidor cobre a nota, no entanto, não partiu do Procon e sim de um babalorixá, que há mais de trinta anos joga búzios e estuda a cultura afro. Ademir Antônio dos Santos é delegado do Superior Órgão Internacional das Religiões de Umbanda e Candomblé (SOE) e há sete meses está atuando em Curitiba. Segundo ele, cadastrar os terreiros junto às Federações de Umbanda e Candomblé e obrigá-los a fornecer recibo pelo serviço é uma forma de prestigiar os bons umbandistas e afastar os charlatães. “Tem muita gente por aí se aproveitando da humildade do povo, ganhando dinheiro sem prestar serviço nenhum”, denuncia. A medida, no entendimento de Ademir, acabaria com as falsas promessas de enriquecimento instantâneo e de amores eternos. O cliente que não estivesse satisfeito com o resultado do trabalho feito pelo pai-de-santo procuraria o Procon, munido do recibo. “O pai-de-santo pede RS 1 mil para fazer um trabalho”, exemplifica. “O cliente compra todo material e paga o valor estipulado. Passa o tempo determinado e nada acontece. É uma prestação de serviço. Munida da nota, a pessoa vai no Procon e faz a reclamação.”

Contra

A idéia, no entanto, não agrada a todos. Para Dorival Simões, presidente do Cebras, Centro Mediúnico do Brasil e Federação Paranaense de Umbanda, a emissão de notas acabaria com uma exigência básica de quem procura as casa de umbanda para a realização de um trabalho: a privacidade. “A pessoa não vai querer ter um recibo dizendo que fez um trabalho pedindo para voltar com a noiva ou com a namorada”, argumenta. O cadastramento, no entanto, é defendido por Simões. Segundo ele, a Cebras, conta com mais de 1.200 terreiros cadastrados em Curitiba e Região, dos quais seiscentos possuem alvarás da Prefeitura para funcionamento. “Estamos trabalhando para que todos os associados busquem o alvará”, garante.

O culto continua “na sombra”

Para Ademir, apesar de Curitiba contar com um grande número de adeptos dos cultos afro, a umbanda permanece “nas sombras” na capital paranaense. “Vim para Curitiba por esse motivo. As pessoas estão com vergonha ou com medo de assumir sua crença. Isso está errado”, explica. Para reverte a situação, o babalorixá pretende desenvolver um trabalho parecido com o que ele fez em Caxias do Sul (RS). O trabalho, no caso, consiste em promover o lado social da umbanda. Uma das primeiras medida para isso é a criação da juventude umbandista na cidade. “Vamos reunir o pessoal e promover a ação social e caridade, auxiliando a comunidade pobre”, promete.

A aproximação com a polícia e com a igreja também é um desejo do pai-de-santo. “Em Caxias, padres e pais-de-santo celebravam juntos e os policiais eram convidados nos nossos jantares.” (GV)

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