Alto custo e sem retorno financeiro aparente. Num primeiro momento, assim, é possível descrever o investimento em tecnologias para dar o destino correto aos resíduos industriais. Mas, apesar de ser uma tecnologia cara, muitas empresas estão buscando se adeqüar ambientalmente, tornando-se ?ecológicas? e visando benefícios futuros. Além da consciência ecológica, evitar multas ambientais, conseguir certificações e até novos clientes, que exigem uma atitude ambiental correta, são os principais motivos desse investimento.

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?Muitos empresários nos procuram para pedir ajuda na elaboração de projetos ambientais. Muitos querem também consultoria para conseguir a ISO 14.000, que é dada às empresas que têm boa gestão ambiental?, explicou o gerente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)/Unidade CIC, órgão ligado à Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Humberto Eissako Oshima. O Senai mantém o Centro de Tecnologia em Meio Ambiente para dar apoio às indústrias que querem investir na área.

Além de auxiliar nos projetos, o centro criou uma bolsa de reciclagem para que os empresários cadastrem o tipo de resíduo que geram, deixando a informação disponível para as indústrias que usam esse material como matéria-prima. ?Essa é uma forma de otimizar a vida útil dos produtos?, explicou Oshima. A bolsa tem hoje 4,5 mil empresas cadastradas em todo o Brasil e conta com cerca de 5 mil acessos por mês.

O Centro de Tecnologia, além de auxiliar as indústrias na elaboração de projetos, firmou um convênio com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) para intermediar a regularização ambiental. Oshima explicou que muitas não colocam a questão ambiental em dia porque têm medo de chamar a Sema para fiscalizar e se auto-denunciar. ?Nós indicamos quais os passos necessários e emitimos um laudo para que a empresa possa se regularizar?, explicou.

Preocupação crescente

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A preocupação com o meio ambiente entre os empresários é cada vez maior. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita pelo professor da Fundação Dom Cabral (escola especializada no de- desenvolvimento de executivos, empresários e empresas), Cláudio Boechat. ?Nossa pesquisa procurou ver como as empresas estão se posicionando diante de 31 temas que preocupam a sociedade brasileira e que são chamados de desafios de sustentabilidade?, explicou o professor.

Os temas ligados à área ambiental pesquisados pelo professor são a água, a energia, serviços ambientais (capacidade da natureza processar as conseqüências da atividade humana, reciclagem e biodiversidade) e mudanças climáticas. ?Verificamos que as empresas estão se dizendo muito comprometidas, principalmente com a energia, que é o que mais impacta, principalmente nas indústrias?, explicou Boechat.

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Segundo o professor, o tema mudanças climáticas apareceu em 18.º na lista, o que ?é preocupante?. ?Isso significa que estas empresas não conseguem fazer relação disso com seus negócios. É um problema porque as mudanças climáticas vão afetar a vida da sociedade e isso quer dizer risco e impacta os negócios?, afirmou. ?E as empresas podem ser parte da causa das mudanças climáticas, assim como pode ser a solução do problema?, completou.

Reaproveitamento do começo ao fim

Foto: João de Noronha

Empresário Marcos Antônio Dalcini: ?Precisamos encontrar uma destinação para este material?.

O empresário Marcos Antônio Dalcini, da Ambiental Santos, utiliza o óleo vegetal, que na maioria das vezes, depois de usado, vai para o meio ambiente como matéria-prima. Depois de reciclar todo esse material, Dalcini revende para indústrias gráficas, madeireiras e até empreiteiras. No procedimento destas empresas o óleo se dissolve e migra com o processo produtivo. Entretanto, apesar de estar dando destino a um resíduo poluente, Dalcini se deparou com as sobras da reciclagem e teve que buscar uma solução para isso.

?O óleo vem contaminado com resíduos de alimentos e água. Por isso precisamos encontrar e uma destinação para esse material?, contou. E a solução dada por Dalcini não foi barata, mas compensadora para o meio ambiente. O empresário montou uma estação de tratamento de água e com isso reaproveita toda água misturada ao óleo na sua produção. ?Nós usamos para lavar o óleo quando ele chega aqui?, contou. Além da economia de água, Dalcini destina os resíduos de alimentos aos suinocultores.

A empresa ainda fica com o lodo, que é utilizado como adubo orgânico, e com as cinzas das caldeiras, que é usada como adubo orgânico para os vinicultores. ?Nós incineramos também os suportes de madeira da Cimento Rio Branco. Com isso resolvemos o problema de resíduos deles e o nosso de geração de energia. E os pregos devolvemos para que uma indústria do ramo aproveite?, contou. ?Temos tudo encaixado porque é muito importante destinar os resíduos?, ponderou Dalcini.

A Ambiental Santos existe há dez anos e Dalcini prevê lucro pela primeira vez somente no ano que vem. ?Trabalhava fora para colocar dinheiro aqui. Não tem como crescer sem investir?, explicou.

O empresário montou também uma pequena indústria de detergentes e compra materiais de limpeza de terceiros para incentivar os pequenos comércios a doar o óleo usado. ?Em vez de comprar o óleo nós trocamos pelos produtos?, contou. Buscando otimizar os custos, a empresa também fabrica os caminhões que usa para buscar o óleo no comércio.

Negócio para atrair clientes

Tratar a água antes de mandá-la para a rede fluvial e dar o destino correto aos resíduos. Os dois procedimentos não são baratos, mas a indústria de insumos para gráficas Quimagraf optou pela regularização para, além de proteger o meio ambiente, atrair grandes clientes. ?Os clientes de grande porte exigem nosso projeto de destinação de resíduos ambientais antes de pedir o orçamento?, contou o proprietário, Nelson Pessuti Júnior.

A empresa de produtos químicos montou a estação de tratamento de água e repassa o lodo para uma empresa que dá o destino correto há dois anos. ?Antes nosso sistema não era tão eficiente?, contou. Segundo o proprietário, estes são requisitos também para a renovação de licença ambiental. Mas Pessuti Júnior explica que é caro implantar o processo. ?Para as empresas menores é mais difícil?, salientou. O empresário investiu cerca de R$ 25 mil só na estação de tratamento de água.

Agora a empresa está construindo uma estação de captação de água da chuva para evitar o gasto com a lavagem dos equipamentos.

Iniciativas ajudam a despoluir meio ambiente

?Colocamos a estação de tratamento de água para funcionar em outubro de 2004 e fomos aprendendo com os erros até março de 2005?, contou o proprietário da transportadora Transtupi, Luiz Ben-Hur. O empresário montou uma estação para reaproveitar os cerca de 20 mil litros de água que gasta por dia com a lavagem dos ônibus da empresa e dos equipamentos internos dos veículos. Esta água é usada por uma semana. Cálculos do empresário mostram que com a estação já foi possível economizar 6 milhões de litros, só em 2006.

Na Transtupi toda água usada para a lavagem dos veículos e da lavanderia volta para o circuito interno de captação e é tratada para ser usada no dia seguinte. Este processo vai de segunda-feira a sexta-feira. ?No começo tentamos reutilizar a água por um mês. Mas daí, por causa do excesso de resíduos começou a comprometer os vidros e a pintura dos ônibus?, explicou a técnica em segurança do trabalho da empresa, Eliete Aparecida Stabach.

No último dia da semana, a empresa trata a água novamente e joga no córrego que passa ao lado. Como a água descartada é limpa, a iniciativa ajuda a despoluir o pequeno rio. ?Como não há rede de esgoto, as residências da região despejam no córrego. Então a nossa água ajuda a eliminar estes resíduos?, explica o empresário. ?Nós sempre fazemos testes para ver se a água está adequada para ir para o meio ambiente?, garantiu Eliete.

Um sistema de captação da água da chuva também ajuda na economia do uso de água tratada. ?Com tudo isso deixamos de usar 70% da água da Sanepar?, contou a técnica. O custo-benefício do sistema é apenas não poluir o meio ambiente porque, explicou Eliete, a economia com o gasto de água não cobre o custo do sistema. ?A proporção de gasto é a mesma porque os produtos que usamos no tratamento da água cobrem o que economizamos com as contas de água?, afirmou.

A empresa também precisa dar destinação ao lodo e ao óleo que o tratamento da água gera. ?Enviamos o lodo para uma central de tratamento de resíduos industriais e o óleo para o refino?, afirmou Eliete. O investimento da empresa na estação foi de R$ 75 mil e o custo para enviar o restante do material também é alto.

?Implantar um sistema assim ainda não é diferencial no mercado, mas achamos que um dia vai ser. Mas nós realizamos um serviço em benefício da sociedade e minimizamos os efeitos que são intrínsecos da nossa atividade?, afirmou o empresário.