Um cigarro na boca de um boneco de plástico foi a maneira encontrada pela psicóloga Gilka Correia, do Programa de Dependência Química do Hospital de Clínicas (HC), em Curitiba, de chamar a atenção de quem passava ontem – no Dia Mundial de Combate às Drogas – pelos corredores do hospital. Na demonstração, Gilka levou dois bonecos: um, sem o cigarro e com o “pulmão” limpo, e outro com o cigarro na boca e o “pulmão” escurecido. O objetivo era despertar a atenção quanto aos males do cigarro e outras drogas.
“O cigarro e a bebida alcoólica, chamadas de drogas lícitas, são os maiores vilões. São, na verdade, a porta de entrada para outros tipos de drogas”, aponta a psicóloga. Ela lembra que o uso da bebida alcoólica está começando cada vez mais cedo. “O álcool tem efeito euforizante, causa bem estar. A gente não esconde essa questão. O problema é que a indústria de bebidas não mostra os riscos também”, critica. Segundo Gilka, de 10% a 15% dos adolescentes que bebem demasiadamente se tornam alcoólatras no futuro.
Gilka revela que existem quatro perguntas que a pessoa que bebe deve fazer: “Você já perguntou para si se precisa diminuir a bebida?” “Alguém já criticou a sua maneira de beber?” “Já se sentiu culpado de ter bebido e deixado de fazer algo ou dado vexame?” “Já teve que tomar algo no dia seguinte, pela manhã, para curar a ressaca?”. Segundo Gilka, quem responde positivamente a duas perguntas já apresenta problemas, enquanto três ou quatro repostas afirmativas são sinal de dependência. De acordo com a psicóloga, são os homens que mais bebem, embora as mulheres estejam se equiparando. Elas, no entanto, bebem escondido.
Com relação ao cigarro, Gilka diz que o uso já não é tão acentuado como na década de 50 e 60, quando os filmes exploravam bastante o seu uso. Também a proibição de propagandas na mídia, segundo ela, tem contribuído para a redução do número de fumantes. Ela se diz favorável à diminuição de pontos de venda das duas drogas lícitas, além do fechamento dos bares às 22h.
Em relação a outros tipos de drogas, como crack, maconha e cocaína, a psicóloga critica o fácil acesso. “A oferta é muito grande e o preço não é tão alto”, diz.
70% alcoólatras
No Programa de Dependência Química do HC são atendidas cerca de 120 pessoas. A maioria delas (70%) é por dependência de alcoolismo, e a faixa etária é de 40 a 45 anos de idade. “A maioria bebe há 20 ou 25 anos”, conta a psicóloga. Já outros tipos de drogas, o consumo maior é entre os 14 e 30 anos de idade. O tratamento dura no mínimo seis meses e é executado por uma equipe multidisciplinar -psiquiatra, psicólogo e assistente social.
Os males que o álcool traz
15% da população adulta bebe de maneira abusiva 20% das famílias estão tendo problemas com o alcoolismo; 50% dos acidentes automobilísticos envolvendo jovens estão ligados ao abuso do álcool; 20% das internações clínicas nos grandes hospitais são ligadas ao alcoolismo; 60% da violência doméstica é causada por abuso do álcool; 50% das faltas ao trabalho são por alcoolismo.
Fonte: Cebrid 2001.
Novos recursos para combater o tráfico
A Secretaria da Justiça e Cidadania anunciou, ontem, Dia Internacional de Combate às Drogas, novos recursos do governo federal para o combate ao tráfico e ao consumo de drogas. O convênio será assinado hoje pelo secretário nacional Antidrogas, general Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, e o secretário estadual da Justiça, Aldo José Parzianello. O acordo prevê a utilização no próprio Estado dos valores arrecadados com a repressão.
Bens ou valores apreendidos em decorrência do tráfico de drogas são incorporados ao Funad (Fundo Nacional Antidrogas). A partir da formalização do convênio, 80% desses recursos, proveniente de apreensões dentro do Estado, permanecerão no Paraná.
O documento será formalizado no encerramento da Previda 2003 (8.ª Semana Estadual de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas), às 16h, na Assembléia Legislativa que deverá contar com a presença do governador Roberto Requião.
Medicamentos
O quinto dia do Previda foi reservado para discutir a utilização sem critérios de medicamentos pela sociedade e o enquadramento do vício como questão exclusivamente médica. De acordo com a médica Marli Perozin, integrante da Coordenadoria Estadual Antidrogas, existe o senso comum de que o dependente deve ser tratado apenas como um doente.
Os debates do Previda têm ocorrido simultaneamente, pela manhã e a tarde, na Secretaria da Justiça e no prédio central da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, a partir das 19h, na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Com o tema “Qualidade de Vida e Saúde”, a palestra de encerramento ocorre hoje, a partir das 9h, na Secretaria.


