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Dr. Bugiganga de Curitiba vende coisas inimagináveis

A esquina das ruas Pastor Manoel Virgínio de Souza e Engenheiro Alberto M. de Carvalho, no Capão da Imbuia, abriga um espaço onde se encontra de tudo, de pé de pato a cadeira de barbearia, passando por diversos modelos de manequins, móveis, entre outros itens que foram dispensados por uns, mas que têm potencial para conquistar utilidade na vida dos outros. O nome do estabelecimento, Dr. Bugigangas, consagra o talento que o comerciante Valdecir Bueno, 40 anos, foi aprimorando desde a infância em Campo Mourão, quando trabalhou em uma loja de artigos usados.

O negócio, porém, começou em Curitiba despretensiosamente, quando a esposa dele, Giovana, exigiu que ele se “livrasse” de tanta quinquilharia. Na época, o endereço da loja abrigava a academia Pura Adrenalina, que pertencia ao casal. “Adaptei um espaço da academia para os meus objetos, pois queria mostrar para ela que outros dariam valor para aqueles artigos”. A aceitação do público foi tão boa, que o ‘anexo‘ da academia virou o negócio da família. “A academia já não ia bem e a venda de usados deslanchou”, conta.

O comerciante afirma que o convívio com a loja, que fica na parte de baixo do sobrado onde mora a família, permitiu que aos poucos a esposa dele passasse a valorizar o que antes ela queria dispensar. “De se livrar, ela passou a querer levar alguns objetos que vêm para cá”, compara. Além de agradar a esposa, o estabelecimento permite que Bueno acompanhe de perto o crescimento dos filhos.

Ajuda mútua

Além de garantir o sustento da família, o comerciante se orgulha de poder fazer do negócio um meio de ajudar os outros. Ele conta que alguns móveis da loja são feitos por um fornecedor fixo que não tinha onde vender sua produção. Outros artigos vieram de pessoas que precisavam se desfazer de algum bem por conta de dificuldades financeiras. “A pessoa que um dia precisou vender algo para sair do aperto, depois volta querendo agradecer e comprar algo”.

Há também muitas histórias de pessoas que abrem o próprio negócio com equipamentos e mobílias adquiridos no Dr. Bugigangas. “Fica muito mais em conta”, garante. Por R$ 50 já é possível arrematar uma arara para uma loja de roupas. Um freezer cooler de 115 litros pode ser comprado por R$ 500 e, quem quer vender lingerie encontra um cavalete com foto para sinalizar o ponto por R$ 70.

Sem volta

A cadeira de barbearia com sistema hidráulico que chama atenção na loja foi adquirida por um homem que a vendeu e depois se arrependeu. “Ele entregou o material cheio de óleo e sem qualquer cuidado, mas depois que viu a cadeira limpa e exposta na loja percebeu que ela ainda tinha valor”, conta. “Cobrei o dobro do valor e ele ficou inconformado”. Além do valor do trabalho de restauro, Bueno explica que o segredo desse negócio está na noção de valor de cada um e que nada deve ser descartado. “Ele não deu o valor que eu dei para a cadeira. Já errei feio no preço, quis vender por muito mais, algo que não davam o devido valor e vice-versa. A vida é como esse negócio, às vezes se ganha, às vezes não”.

Allan Costa Pinto
Valdecir: “A vida é como esse negócio, às vezes se ganha, às vezes não”.