"A idéia das pessoas, e até mesmo do mercado, é que quase todo mundo tem um celular, mas isso não é verdade", revela Vercione Souza, gerente regional de marketing da Vivo. Os números ilustram a afirmação: no Paraná, apenas 34,52% da população tem um aparelho, num total de quase 3,5 milhões de unidades. A média nacional não passa de 34,1%. Segundo o gerente, esse número varia muito de região para região e até entre as camadas sociais. "Quem tem mais dinheiro pode ter a impressão de que todos em sua volta têm um celular", acredita. Para se ter uma idéia, em Brasília, com a maior renda per capita do país, a média de celulares é de quase 9 aparelhos em cada 10 habitantes.
Souza explica que, em números absolutos de aparelhos, o Brasil ocupa a 6.ª posição no mundo, mas em termos relativos, estamos bem atrás dos países mais desenvolvidos. "Isso faz com que as pessoas tenham a impressão de que esse mercado não tem mais para onde crescer", diz. Mesmo assim, a popularização da tecnologia no Brasil está sendo meteórica: segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de 1994 até 2004, os acessos móveis cresceram mais 8.000%, um ritmo de evolução experimentado por poucos países em todo o mundo.
E esse crescimento é graças à entrada dos telefones pré-pagos no mercado. "Antes deles, o celular era uma tecnologia cara e elitista. Hoje, o acesso é mais democrático", diz. Além disso, Souza acredita que depois que a pessoa experimenta a tecnologia, não quer mais ficar sem. "O celular acaba fazendo parte do dia-a-dia por causa das facilidades que oferece."
Guerra de facilidades
Como fazer ligações se tornou apenas uma função a mais dos celulares modernos, a guerra para atrair quem ainda não tem um aparelho é travada no campo dos serviços que cada operadora oferece. "A comunicação por voz é só mais uma opção do celular. Todos querem fazer downloads de música e vídeo, tirar fotos e personalizar o celular. Aí entram os serviços que cada empresa oferece", explica Souza. Segundo ele, os clientes da Vivo no Paraná trocam mais de 180 milhões de mensagens por mês, número que supera o de ligações. Além disso, criou um promissor mercado de acessórios, que vai de capas coloridas até cabos para acessar a internet via celular.
Souza acredita que a entrada de mais concorrentes deve ser festejada pelos consumidores, já esse fator colabora para a popularização desses serviços. "Hoje temos quatro operadoras funcionando em Curitiba, o que faz com que os preços baixem e mais serviços sejam disponibilizados", afirma.
Grudados
"Ganhei o primeiro celular quando fiz 15 anos. Ele está sempre ligado e grudado comigo, mesmo quando durmo ou quando estou na aula", conta Ieda Martins, de 17 anos, que já está no seu quarto aparelho. Como muitos outros jovens da mesma idade, a adolescente conta que não lembra como era viver sem o celular, e não vê nenhum mal no uso do aparelho.
Já a psicóloga Rose Endo discorda da jovem. "Para pessoas solitárias, o celular acabou se tornando um companheiro, assim como outras tecnologias, como as salas de bate-papo na internet", aponta. Ela afirma que o celular tem um uso benéfico quando utilizado para os pais localizarem os filhos ou para a comunicação, como um telefone comum. Caso contrário, pode indicar problemas de relacionamento. "Existem pessoas que vão sozinhas a bares e ficam falando ao celular o tempo todo", diz.
Ela também não vê com bons olhos a utilização dos celulares por crianças pequenas. "Não há necessidade de uma criança de seis ou sete anos possuir um celular, a não ser engrossar o mercado consumidor desses aparelhos", acredita.
Dona de um modelo "normal", a psicóloga lembra ainda que, se mal utilizado, o celular pode ser um grande inconveniente. "O aparelho, por vezes, incomoda e é um invasor de privacidade. Ninguém precisa ouvir briga de casal em restaurante por causa de mensagens e nem ouvir o aparelho tocar durante uma aula. É preciso bom senso." (Diogo Dreyer)


