Polêmica

Dnit propõe estrada para ligar Garuva ao litoral paranaense

Sonho antigo do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) no Paraná, a construção da BR-101 no trecho que ligaria o litoral paranaense a Garuva (SC) pode ter um projeto técnico no ano que vem.

Até agora, o trecho estadual da BR-101 não saiu do papel por preocupações ambientais. São muitas as vozes que já se fazem ouvir na defesa da preservação da natureza local. Por isso, hoje o tráfego é desviado pelas BRs 116 (São Paulo – Curitiba) e 376 (Curitiba – Garuva). Da Serra do Mar até Curitiba, o caminho é pela BR-277.

No entanto, o Dnit avalia a possibilidade da BR-101 sem pressa, admitindo que é um projeto complicado pelas implicações ambientais. O projeto completo abrange trecho ferroviário ligando Antonina até o leito da ferrovia que existe atualmente, além do trecho rodoviário em torno de 120 quilômetros, com ligação da Variante do Alpino, na BR-116, até Garuva.

Com a construção do novo trecho, o Dnit acredita que o litoral paranaense poderia se desenvolver mais rapidamente. Além disso, de acordo com o Dnit, cerca de 60% do transporte de carga pesada que vem de São Paulo poderia ser desviado de Curitiba, com menor custo para os caminhoneiros, já que a extensão percorrida seria menor.

Para acalmar as vozes contrárias, o superintendente regional do Dnit no Paraná, David Gouvêa, garante que o projeto não vai desconsiderar o impacto ambiental, e sim pensar em uma alternativa de aliar a construção da estrada com preservação ambiental. “Ninguém está construindo obra, estamos apenas estudando. Apresentaremos o projeto quando estiver viável em todos os aspectos. Ele será apresentado à sociedade para opinião de todos os envolvidos”, afirmou.

Para atender às preocupações ambientais, o projeto vai ter um custo maior, segundo o Dnit. Inicialmente, o valor estimado para construção do trecho seria de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões.

O trecho ferroviário, por sua vez, possibilitaria triplicar a quantidade de carga transportada e o fluxo dos trens, a partir do momento em que não seria mais necessário esperar um trem descer para que outro subisse. “A engenharia evoluiu e já conseguimos propor soluções técnicas que atendam tanto às necessidades de transporte como às de meio ambiente. Ou abandonamos nosso sonho de progresso ou fazemos uma conjugação de interesses ambientais e progresso. É uma questão de equilíbrio”, define Gouvêa.

Características

Também denominada translitorânea, a BR-101 corta 12 estados brasileiros, do município de Touros (RN) até São José do Norte (RS), num percurso aproximado de 4,5 mil quilômetros.

Sema: parecer contrário

No fim de setembro, o Conselho Estadual da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) deu um parecer contrário à construção da BR-101 no litoral do Paraná, após moção apresentada por entidades ambientais que defendem a preservação da Mata Atlântica, cujo maior remanescente representativo é o trecho da Serra do Mar paranaense. As organizações ambientais lembram que, em 1985, quando houve a primeira tentativa de construção da rodovia no Paraná, a sociedade se manifestou contrária à implantação da obra.

No documento, os ambientalistas também alegaram incapacidade do Estado em manter obras de infra-estrutura bem conservadas, principalmente rodovias, além do impacto que a construção da nova estrada causaria inclusive aos estados vizinhos. “Existem outras alternativas viáveis para a resolução dos problemas do gargalo no sistema rodoviário para transporte de cargas, como a duplicação de alguns trechos da BR-116”, diz a moção.

Entidades questionam projeto

Não tão certos assim da garantia ambiental do projeto do Dnit est&atild,e;o os defensores da preservação da Serra do Mar, como o diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges. “Não existem projetos de sucesso envolvendo construção de rodovias e compromisso de conservação. Essa não é a realidade. Simplesmente viabiliza-se o acesso, que é receita para a destruição”, opina.

Para Borges, o custo-benefício de uma obra como essa deve ser visto além das vantagens do tráfego e da arrecadação possível.

“Não creio que esse estudo que está sendo planejado chegue perto da preocupação com o valor que essa região tem para o Brasil como remanescente de floresta atlântica”, acredita Borges.

A capacidade em manter o projeto também é questionada. “Se hoje mais de 100 quilômetros da BR-116 ainda não estão duplicados, como se aventurar a construir e fazer a manutenção de uma rodovia nova?”, pergunta.

Contrária ao projeto também está a Federação Paranaense de Montanhismo, que defende que os argumentos para dar seguimento à BR-101 não são suficientes. “Uma das alegações é que o traçado melhoraria o acesso às praias e, com isso, mais turistas seriam atraídos. O que precisa melhorar são as praias, que estão todas poluídas. Em Santa Catarina, há praias de mais difícil acesso e isso não impede a freqüência”, compara Andressa Zanlorenzi, vice-presidente da Federação e articuladora do Movimento Sem Estrada.

“Duvido que alguém aceitaria assinar um termo dizendo que ajudou a extinguir a onça parda ou o tatu só para ter mais um acesso ao porto ou às praias”, argumenta Zanlorenzi.

Decreto

Na última sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que regulamenta a Lei da Mata Atlântica, aprovada pelo Congresso Nacional. A nova lei define os critérios de uso e de proteção do bioma, reduzido atualmente a 7,3% de sua vegetação original.

Voltar ao topo