Despir um santo para vestir outro?

O vernissage das exposições de Rones Dumke e António Quintas no Museu de Arte Contemporânea (MAC), na última quinta-feira, ganhou ares de protesto: cerca de 40 artistas deram um abraço simbólico no prédio, numa manifestação contra a desativação da sede e a transferência do acervo para o novo Museu de Arte do Paraná, que vai ocupar as instalações do edifício Castelo Branco, no Centro Cívico.

O Estado está tendo problemas para preencher os mais de 28 mil metros quadrados do novo museu (27 mil do prédio original e 1.700 do novo anexo, o “olho” projetado por Oscar Niemeyer. Uma comissão está sendo montada na Secretaria da Cultura para discutir o acervo do novo espaço. A secretaria adianta que serão transferidos os acervos do MAC, do antigo Museu de Arte do Paraná (MAP), que funcionava no Palácio São Francisco, do Banestado e do Badep.

O Palácio São Francisco deve receber o acervo do Museu Paranaense, enquanto que o atual prédio do MAC será cedido para a Escola de Música e Belas Artes – os alunos já estão sendo informados. A classe artística até aprova o novo museu, mas está dividida com relação aos critérios de ocupação do novo espaço e questiona o destino das antigas sedes. Uma reunião envolvendo artistas, representantes da escola e do governo foi marcada para hoje à tarde na Secretaria Estadual da Cultura, para se tentar chegar a um consenso.

João Henrique do Amaral, diretor do MAC, vê a mudança com bons olhos: “Considero absolutamente positiva a ida do nosso acervo para o novo museu. Pelas informações que tenho, o novo espaço vai se ocupar dessa parte museológica maravilhosamente bem. E vem em boa hora, porque a gente já começava a sofrer com a falta de lugar para se expandir”, relata. “O local também vai ser mais didático, oferecerá a possibilidade de se ter uma leitura completa das artes no Paraná, da pré-história à arte contemporânea”. João Henrique só se preocupa com o futuro da sede atual: “É importante que se mantenha este espaço, que é tradicional e muito bem localizado, como uma sala de exposições temporárias abertas ao público”.

“Bizarro”

A artista plástica Dulce Osinski, que expôs recentemente no MAC, não é tão otimista: “Acho no mínimo bizarro, tudo está sendo feito sem nenhuma discussão, ninguém falou com os artistas, os próprios diretores dos museus não sabem de nada…”. E faz algumas restrições: “Vejo com apreensão a descaracterização de um Museu de Arte Contemporânea como o que temos em Curitiba”.

Para ela, o MAC tem dupla função: “Constitui um acervo importante e funciona como um termômetro do que está acontecendo hoje em termos de arte contemporânea”. Sem falar nas instalações: “O prédio foi reformado há poucos anos para abrigar o museu, a Sala Theodoro de Bona é um dos melhores espaços que a gente tem, por isso não é racional que deixe de abrigar exposições. Ele deveria ser um braço do novo museu no coração da cidade”. Sobre a ocupação do prédio do MAC pela Escola de Música e Belas Artes, Dulce declara: “A Belas Artes merece um bom lugar, mas acho uma pena um museu tão central e com tanta tradição virar sala de aula. Principalmente porque foi feito um investimento alto em termos de equipamentos e restauração, seria um desperdício”.

O artista plástico José Antônio de Lima aprova a mudança, mas reclama da localização: “Sempre achei que aquele prédio [o edifício Castelo Branco] deveria se tornar um museu; mas me preocupo com o fluxo do público, pois o curitibano gosta das coisas cômodas, acessíveis, e o MAC tem uma localização ideal. Por outro lado, o pessoal precisa se habituar a procurar os espaços”, considera.

Critérios

A fotógrafa Wilma Slomp aprova a iniciativa, mas se preocupa com os critérios de montagem do acervo: “Acho interessante fazer uma coleção realmente boa da arte contemporânea do Paraná e colocar tudo num museu só. Mas o que deve nortear a escolha é a qualidade, não a quantidade; o acervo do Banestado, por exemplo, é de qualidade bastante discutível”. Por isso ela defende que seja feita uma curadoria de saber nacional e internacional, sem ligações afetivas com os artistas locais. “Curitiba é extremamente antropofágica com a própria arte”, considera. A fotógrafa apóia a idéia de que a sede atual do MAC seja mantida como sala de exposições, “até porque vai haver uma grande concorrência para ocupar o novo museu”. “O MAC é uma coqueluche, não é por que vem aí um museu fantástico que se tem que eliminar outro.” Wilma também se mostra apreensiva com as condições do novo local: “No MAC, só foi colocado o equipamento de climatização na época de inauguração, o ar- condicionado não funciona. Se no novo museu não fizerem dentro das normas técnicas internacionais de museologia, Curitiba vai continuar de fora do circuito internacional de arte”, alerta.

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