Depois dos estragos, paranaenses tentam voltar à rotina

Colocar a casa em ordem. Ontem, esta era a missão de muitos curitibanos e de equipes da Companhia Paranaense de Energia (Copel), do Corpo de Bombeiros e da Prefeitura de Curitiba depois do temporal que caiu na cidade no último domingo. Dois mil domicílios ainda estavam sem energia elétrica no final da tarde de ontem. Não houve outro jeito a não ser esperar pela normalização do serviço.

Segundo dados do Instituto Tecnológico Simepar, a chuva de anteontem chegou a 43,2 milímetros (mm) em Curitiba – a pancada mais forte foi entre 15h e 17h, quando em apenas duas horas choveram 32,4mm. Outros 39mm haviam sido registrados no sábado. Os ventos, em alguns pontos da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), chegaram a 70 quilômetros por hora. Este conjunto de fatores causou destelhamentos e a queda de árvores e galhos. Muitos deles caíram sobre os fios da rede elétrica, o que acarretou na suspensão de fornecimento de energia. No final de semana, a Defesa Civil estadual precisou realizar atendimentos devido à queda de 316 árvores, sendo 89 em Curitiba. Em todo o Paraná, foram registrados 181 destelhamentos, cinco casos oficialmente registrados na capital. A Defesa Civil ainda detectou 25 pontos de alagamento, cinco deles em Curitiba, nos bairros Pinheirinho, CIC e Fazendinha. ?Em todo o estado houve um grande volume de ocorrências, mas não causaram grande destruição?, avisa o capitão Maurício Genero, chefe da divisão de Defesa Civil da Casa Militar, ligado ao governo do estado.

A região norte da capital foi a mais afetada pelo temporal. Além de árvores, houve quedas de placas de publicidade e muros. O maior incidente com grande concentração de pessoas aconteceu no Estádio Durival Brito, conhecido como Vila Capanema, durante a partida entre Paraná e Internacional. Mais de 15 mil pessoas assistiam ao jogo. A partida foi interrompida durante 13 minutos devido à forte chuva. Um córrego localizado atrás do estádio transbordou e alagou o estacionamento ao lado. Muitos carros foram invadidos pela água.

De acordo com o Simepar, a quantidade de chuva registrada durante o final de semana em Curitiba chegou a 63% da média prevista para o mês de novembro, que é de 130mm. O instituto prevê tempo instável para hoje, com possibilidade de garoa. A partir de amanhã, o sol volta a aparecer.

Edificações também foram afetadas

Gisele Rech

As fortes chuvas que atingiram Curitiba afetaram muitas edificações sem manutenção. E embora muitos pensem que as únicas áreas prejudicadas foram as de residências mais simples, se enganam. O destelhamento de casas se somou a vários estragos causados pela chuva até mesmo em coberturas de edifícios.

O coordenador da Comissão de Segurança em Edificações (Cosedi), Hermes Peyerl, diz que desde sábado a equipe dele trabalha para atender ocorrências. ?As pessoas têm a tendência de achar que se a construção é sólida, de alvenaria, não precisa se preocupar com o tempo?, diz.

Após o temporal de domingo, muitas coberturas não resistiram à força da água que entrou nos condutos de alguns prédios, provocando problemas nos focos de luz, encharcando pisos e causando muito estrago para os moradores. Todo o transtorno, segundo ele, poderia ser evitado com um trabalho preventivo, pelo menos uma vez por ano. ?Muito síndico deixa em segundo plano uma revisão detalhada nas calhas, no sistema de canalização da água e até mesmo na dedetização, já que muitas coberturas cedem por estarem infestadas de cupins?, explica o coordenador.

No caso das edificações, ele lembra que é sempre melhor prevenir do que remediar. ?Sai muito mais caro recuperar os estragos e ressarcir os moradores que fazer um trabalho de manutenção?, ensina.

Trabalho dobrado para a administração municipal

Gisele Rech

Lucimar do Carmo/O Estado
Árvores são recolhidas após as fortes chuvas do final de semana.

O dia seguinte ao temporal que resultou na queda de 60 árvores em Curitiba e de 140 chamados para atendimentos em locais onde galhos caíram pelas ruas, foi agitado para 17 equipes que trabalharam na poda, remoção e recolhimento de árvores e galhos. A administração municipal atendeu a 200 ocorrências.

A queda das árvores assustou boa parte da população, temerosa de acidentes graves, como o que matou um homem no sábado, quando uma delas despencou sobre um carro no Bigorilho. Porém para o superintendente da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Paulo Dalmaz, esse foi um acidente em decorrência de um fenômeno fora do normal. ?Não é comum temporais como os que ocorreram sábado e domingo, quando mesmo estruturas rígidas sucumbiram à força de vento?, comentou.

Entretanto, ele não esconde a preocupação da Prefeitura com a situação das árvores da cidade, reconhecendo que muitas delas necessitam de substituição. ?Algumas espécies foram plantadas em locais inadequados para sua estrutura. Outras, já estão em idade avançada. Para derrubá-las ou substituí-las, nós fizemos um censo arbóreo e estamos colocando em prática o que estudamos?, explicou.

Em 2004, o mapeamento arbóreo, com estudo da saúde das árvores e da idade das 300 mil plantadas pela cidade, começou a ser feito em 25 bairros das regiões central e sul de Curitiba, o que corresponde a 33% da cidade. ?Agora estamos na fase de execução de planos baseados no estudo, começando pelos bairros Sítio Cercado e Alto Boqueirão?, explica Dalmaz.

Serviços de energia foram interrompidos

Lígia Martoni

Chuniti Kawamura/O Estado
No Bigorrilho, muitas árvores caíram sobre a rede elétrica.

O temporal e os fortes ventos do final de semana afetaram os serviços de energia em 370 mil domicílios do estado, principalmente na capital e Região Metropolitana (RMC). Tamanha destruição deu bastante trabalho aos técnicos da Copel, que passaram boa parte do dia de ontem reconstruindo trechos da rede elétrica em diversos pontos de Curitiba. Mesmo assim, até o final da tarde, duas mil residências ainda estavam sem energia elétrica. A previsão era de concluir os trabalhos ainda ontem.

Somente em Curitiba, 200 equipes com quase 350 técnicos, além de equipes adicionais de empreiteiras que prestam serviços à concessionária, foram requisitados para os trabalhos. Duzentos e cinco mil domicílios – ou um terço do total de ligações elétricas existentes na cidade, distribuídos por 54 bairros – ficaram desligados por períodos variáveis. Para dois mil deles, entretanto, foram longas horas de espera, uma vez que a falta de energia comprometeu parte do fim de semana e praticamente toda a segunda-feira. Nesses casos, a dificuldade em restabelecer o serviço aconteceu em função da dimensão dos estragos e avarias, informou a Copel.

Os bairros Bacacheri, Boa Vista, Guabirotuba, Juvevê, Alto da Glória, Bigorrilho, Jardim Social, Vista Alegre, Cascatinha, Bom Retiro e Santa Felicidade, que compreendem as regiões norte e oeste, foram os mais afetados devido à queda de muitas árvores sobre a rede elétrica, destruindo postes e arrebentando a fiação. Nos municípios da RMC ao sul da capital, 80 mil consumidores ficaram sem energia elétrica por algum tempo. Ao norte, foram 60 mil.

No litoral, 20 mil consumidores de Antonina, Matinhos, Paranaguá e Morretes tiveram problemas. Em todo o interior, cerca de 360 mil pessoas também sofreram falta de eletricidade. Em todos esses locais, entretanto, o grau de severidade foi bem menor que o registrado em Curitiba e os danos foram restabelecidos ainda no domingo.

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