Campo Comprido

Delazari afasta comandantes da Polícia Militar

Imediatamente após assistir as imagens veiculadas pela Band TV, cedidas pelo jornalista Anderson Leandro, ferido por um policial militar durante o confronto da desocupação do terreno do Campo Comprido, o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, determinou o afastamento do comandante do Policiamento da Capital, coronel Carlos Alexandre Scheremeta, e do comandante do 13.º Batalhão da PM, major Flavio Correia. O jornalista acompanhava a reintegração registrando imagens para a produtora QuemTV.

Delazari também determinou a instauração imediata de um inquérito policial militar para apurar os abusos cometidos durante o processo de reintegração de posse. O secretário irá solicitar cópia das imagens para identificar o soldado responsável pelo tiro.

“A conduta do policial que atirou contra o jornalista é repudiável, injustificável e inadmissível”, designou o secretário. Delazari informou que quer se encontrar com o cinegrafista e também com representantes do Sindicato dos Jornalistas do Paraná para apresentar, pessoalmente, as providências tomadas pela secretaria. “Foi uma atitude lamentável que deve ser punida rapidamente, para que sirva de exemplo”, disse.

Para onde ir?

Depois de um dia marcado pela tensão, pelo menos 200 pessoas ainda permaneciam em frente ao local da desocupação, no Campo Comprido, por volta das 19h de ontem.

Entretanto, de acordo com a coordenadora da organização não governamental União Nacional por Moradia Popular, Maria da Graça Silva e Souza, a expectativa é que grande parte das cerca de 1.500 famílias despejadas retorne para o local. “Muita gente não tem para onde ir. Algumas famílias foram acomodadas em albergues, mas também têm um futuro incerto”, diz.

Segundo ela, o grupo deve permanecer em frente à área desocupada por pelo menos mais um dia. A coordenadora afirma ainda que o número de feridos é maior do que o que foi divulgado pela Sesp (três).

Ela informa que teriam sido contabilizados 20 feridos na confusão. A assessoria de imprensa da PM informou que um patrulhamento ostensivo continuará presente no local para evitar uma nova tentativa de ocupação.

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) visitou a área ontem e informou que investigará o caso. O presidente da comissão, Cléverson Marinho Teixeira, que esteve no local, fez duras críticas ao fato de alguns populares usarem crianças como “escudo” durante o momento crítico da desocupação. “É extremamente condenável. Trata-se de um episódio que revela que a sociedade chegou ao mais baixo grau de relacionamento humano”, lastimou.

Segundo Teixeira, é preciso haver uma ação mais efetiva das autoridades. “O problema de moradia no Brasil deve ser resolvido de forma coletiva, com uma integração entre os órgãos públicos de todas as esferas”, comentou.

A Comissão de Direitos Humanos abriu um processo administrativo para apurar todos os fatos desde a ocupação da área até a operação de reintegração de posse. Além de representantes das famílias sem teto, o órgão deve ouvir a PM sobre os procedimentos adotados durante a desocupação.

OAB