Crianças conhecem o mundo do cinema

Alunos de escolas públicas de Tibagi, na região dos Campos Gerais, iniciaram anteontem um projeto de produção audiovisual, que vai envolver desde o conteúdo até a técnica. Na primeira etapa, as crianças – com idade entre 12 e 16 anos – participam de laboratórios, onde serão utilizadas todas as mídias e tecnologias de ponta. O trabalho termina em agosto, com a realização de um festival, onde serão exibidos os filmes produzidos pelos alunos. A mão-de-obra do curso também será aproveitada no documentário sobre o tropeirismo, que será rodado na região.

A iniciativa do projeto – que vai funcionar através do Centro de Excelência em Educação e Produção Audiovisual – é da Cooperativa Cinema & Mídias Digitais, em parceria com o programa Paraná Tecnologia da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O objetivo é a formação de recursos humanos, desenvolvimento de conteúdo, geração de massa crítica e estímulo das potencialidades de cada indivíduo, o que resulta na formação de público para o cinema brasileiro. O presidente da cooperativa Homero Camargo disse que a idéia é expandir o trabalho para todo o Paraná. “Pode ser usado inclusive o projeto do governo do Estado, do Velho Cinema Novo, para fechar essa teia”, ponderou.

Roteiros

O projeto recebeu investimento de R$ 250 mil. Ele vai envolver, inicialmente, oito crianças – das oitocentas inscritas – que irão cumprir 120 horas de aula. A seleção dos alunos aconteceu através de um concurso de redação, quando os participantes tiveram quinze dias para montar a história que pretendem contar. Os oito trabalhos escolhidos vão virar um curta-metragem, totalmente desenvolvido e dirigido por seus autores. Por meio de uma parceria com a Prefeitura de Tibagi, as crianças que moram na zona rural do município também puderam participar. Os selecionados ficarão morando na cidade por três meses custeados pela prefeitura, participando do curso de cinema e sem perder o conteúdo escolar regular, já que poderão freqüentar as aulas nas escolas centrais.

De acordo com Camargo, nos roteiros criados pelas crianças foi possível perceber a influência da história da região, bem como das novelas e seriados de televisão. “O interessante foi como eles misturaram isso com propriedade”, comentou o produtor.

Documentário

Sob o título Tropeiro: Alma Sem Fronteira, o documentário vai contar a história dos tropeiros e seus moares, que asseguraram a circulação de produtos, mercadorias e informações, sendo responsável pela formação de muitas cidades. O trabalho, que está na fase de desenvolvimento do roteiro, será captado em 16 milímetros e finalizado em processo digital, com aproximadamente uma hora de duração. Camargo ressaltou que o roteiro quer enfatizar, que, em determinado momento, o caminho das tropas cedeu lugar para as ferrovias, mais tarde às rodovias e, mais recentemente, às infovias. A partir da reconstituição de acampamentos típicos e de depoimentos que resgatem oralmente esta história, o documentário pretende traçar um painel vivido e emocionante dessa história e seus cruzamentos. A sede da produção é a cidade de Tibagi. O filme enfatizará as paisagens naturais dos Campos Gerais. O produto será voltado às televisões abertas, em especial às educativas e culturais, à cabo e ao circuito informal – salas de vídeo, escolas associações e outros.

Atividade agrega valores

A Cooperativa Cinema & Mídias Digitais surgiu há cerca de três anos, iniciando um trabalho para difundir a importância do audiovisual, como atividade que agrega valores – por exemplo, a auto-estima, alternativa de renda, formação de mão-de-obra e desenvolvimento das comunidades envolvidas.

Em 2000, a cooperativa realizou, em parceira com produtoras independentes, dois filmes de longa-metragem na cidade de Castro: Os Xeretas, um infanto-juvenil dirigido por Michael Ruman, que fez sua pré-estréia nacional no Paraná (na cidade de Castro), em março de 2001; e Sonhos Tropicais, um épico dirigido por André Sturm, filmado entre outubro e novembro de 2000.

“O projeto da cooperativa sempre foi o envolvimento da comunidade”, ressaltou o presidente da cooperativa, Homero Camargo. Para isso, realizou workshops de produção audiovisual, de onde foram aproveitadas mão-de-obra para cerca de 250 pessoas que atuaram diretamente na produção dos dois filmes rodados em Castro. As duas produções também resultaram na reforma e utilização de um velho cinema, que esteve desativado durante anos na cidade.

Novidades

Hoje sediada em Tibagi, a cooperativa está com vários projetos para 2002. Além do Centro de Excelência em Educação e Produção Audiovisual e documentário sobre tropeirismo, irá editar a revista e um programa digital com o nome Eco dos Campos. Também está previsto o documentário sobre o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que registrou em várias obras os anos que dedicou ao interior do Brasil, entre 1816 e 1822. Pelo Paraná, Saint-Hilaire fez todo o caminho dos Campos Gerais, desde Sengés até a Lapa. (RO)

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