Criança aprova merenda saudável; basta incentivo

Aulas eventuais sobre educação alimentar não mudam hábitos alimentares, seria necessário que o conteúdo fosse transformado em disciplina do currículo escolar para que ocorressem mudanças significativas. A idéia é defendida pela nutricionista do Hospital Pequeno Príncipe e do Centro de Nefrologia Pediátrica do Paraná, Karla P. Doria Fonseca. Durante cerca de 10 anos ela realizou projetos em diversas escolas de Curitiba.

Ela diz que a escola oferecendo só o lanche saudável, sem trabalhar o assunto de forma intensiva, como ocorre na maior parte das escolas públicas, não cria no aluno a consciência necessária sobre o tema. Explica que se trabalhar o conteúdo com uma criança, e depois deixá-lo de lado, com o tempo vai sendo esquecido. “É preciso que ela internalize”. Lembra que durante seus trabalhos, uma criança de 3 anos de idade não deixava o avô comer açúcar por que era diabético. “Quando a criança compreende, ela levanta uma bandeira e a começa a defendê-la. O melhor de tudo é que a escolha foi dela”, diz.

Karla comenta ainda que a criança precisa saber sobre a composição dos alimentos, suas vitaminas e nutrientes. Qual a função de cada um no organismo, onde eles estão e como prepará-los. Os alunos ainda podem ajudar a cortá-los, ao mesmo tempo em que fazem a prova. Assim, conhecem o sabor de uma série de alimentos.

Karla conta que o projeto que desenvolvia tinha três objetivos: prevenir doenças, melhorar o estado nutricional e fazer com que os alunos trabalhassem para mudar os hábitos em casa. Ela lembra que a obesidade está atingindo cada vez mais os adolescentes e as crianças. Com isso, aumenta o número de gente com problemas cardiovasculares, colesterol alto, hipertensão arterial e problemas nas articulações e ossos.

Cantinas terceirizadas

A nutricionista fala ainda que em muitas escolas a cantina é tratada de forma comercial e não segue a filosofia da unidade. Nessas condições, evitar que as crianças comprem alimentos inadequados é quase impossível. “Elas agem pelo prazer imediato, não refletem sobre o que é bom ou ruim”, explica. Mas ela defende ainda que a idéia não é proibir, tirando as guloseimas e salgadinhos da vida das crianças, apenas fazer com que elas comam com moderação.

Na escola Terra Firme ( ensino de educação infantil e fundamental), refrigerantes, salgadinhos e frituras não entram na cantina. Os alunos só encontram lanches como bolos, sanduíches naturais, pão caseiro, pão de centeio e sucos. Só opções saudáveis. Os alimentos que vêm de casa seguem a mesma regra. Gabriel Guimarães de Castro, 9 anos, aluno da terceira série, tinha de lanche uma maçã. Ele explicou que não levava salgadinhos e refrigerante. “Primeiro porque não pode trazer e segundo porque não é saudável”, diz.

A mãe de Bianca Fabbri, 9 anos, foi quem preparou sua lancheira. Nela uma maçã, um caqui, uma “cueca virada” e chá. Repartiu com uma colega. “Eu gosto mais da maçã”, conta.

A turminha do jardim de infância também já aprende a lição. Na sala de aula fizeram os sanduíches que consumiriam na hora do recreio. Com este trabalho, aos poucos, vão experimentando frutas e verduras.

Segundo a diretora da escola, Sandra Cornelsen, uma vez por semana o assunto é trabalho em sala de aula com os alunos. E, agora, todos trazem só alimentos saudáveis. Mas confessa que no começo foi difícil, pois precisou reeducar os pais. Também criticou as escolas que terceirizam as cantinas e não se envolvem na escolha dos alimentos. “Tem que haver algum vínculo com a escola, que precisa dizer se concorda ou não com o cardápio”, diz.

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