Cotas na UFPR só valerão para 2.ª fase

Foi aprovado ontem na Universidade Federal do Paraná (UFPR) o sistema de cotas. A partir do vestibular deste ano vão ser destinadas 20% das vagas em todos os cursos para estudantes negros e outras 20% para estudantes de escolas públicas. No entanto, as cotas só valerão para a segunda fase do vestibular. Os estudantes, portanto, vão ter que concorrer com todos os candidatos na primeira fase, onde são testados o domínio dos conteúdos do ensino médio. O sistema será aplicado durante dez anos. Na segunda-feira, o Conselho de Ensino e Pesquisa se reúne mais uma vez para discutir, entre outras questões, o acompanhamento dos estudantes aprovados por cotas durante o curso.

O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, explica que o sistema de cotas vai ser aplicado só na segunda fase porque dessa forma vai se evitar a discriminação dos alunos ao longo do curso. Todos passam por um processo de avaliação dos conhecimentos adquiridos no ensino médio. Dessa forma, é difícil prever se já no próximo vestibular todas as vagas de cotistas vão ser preenchidas, pois vai depender do sucesso na primeira etapa.

Na segunda-feira, os conselheiros vão debater como vai ser o acompanhamento desses estudantes dentro da universidade. “Queremos cuidar da permanência deles”, explica o reitor. Pela proposta, os coordenadores e pró-reitores vão ficar encarregados desse trabalho e os estudantes que necessitarem devem ter aulas de reforço, além de prioridade em bolsas de estudos. Outra questão que vai ser discutida se refere a percentagem de vagas. Não se sabe ainda como ficam as cotas em cursos onde mais de 60% das vagas já são conquistadas por pessoas de escolas públicas. Além disso, há outro ponto polêmico. Se um estudante afrodescendente consegue a vaga por mérito próprio sem o beneficio das cotas, a vaga que ele teria direito dentro do sistema poderia ser repassada a outro estudante negro.

Na UFPR, hoje, 2,7% dos alunos são afrodescendentes. Se todas as vagas destinadas ao grupo forem preenchidas, o número de estudante sobe para 800. Além disso, garantem o ingresso nos cursos mais concorridos como Odontologia e Medicina. Essa possibilidade também é uma vitória para os alunos de escolas públicas, uma vez que eles já ocupam 42% das vagas, mas a maioria em cursos com menos demanda.

Para concorrer dentro do sistema de cotas, os estudantes precisam apenas se declarar negros. A comissão que vai acompanhar os alunos durante o curso pode, posteriormente, verificar se a informação era incorreta. Neste caso, o universitário perderá a vaga. Já os estudantes de escolas públicas precisam comprovar que estudaram todo os ensinos fundamental e médio em escolas municipais ou estaduais.

Conquista

Para a vice-presidente da Associação Cultural de Negritude e Ação Popular, Maria de Lourdes Santa, as cotas representam uma conquista de direitos. “É uma vitória, no entanto sabemos que não resolve o problema da discriminação. Precisamos de mais políticas públicas”, comenta. Para Santa, não haverá dificuldades no preenchimento das vagas. No vestibular do ano passado 1,3 mil estudantes afrodescendentes foram aprovados, mas não conseguiram uma pontuação para ficar com a vaga. Ela estima ainda que no próximo concurso deve aumentar o número de vestibulandos negros.

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