Correios param por melhores salários

A zero hora de ontem, trabalhadores da área operacional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) de 25 estados mais o Distrito Federal deram início a uma greve por tempo indeterminado. Em todo o País, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios (Sintcom) bloquearam a entrada de centros de triagem, centros de distribuição e de algumas das 5,5 mil agências existentes, impedindo a entrada de funcionários e clientes. No Paraná, onde existem cerca de 470 agências, a greve foi deflagrada após audiências realizadas em Curitiba, Maringá, Londrina, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Goioerê. Na capital, apesar do frio e da chuva, um grupo de trabalhadores ficaram acampados em frente à sede estadual dos Correios, na rua João Negrão.

A principal reivindicação da categoria é um aumento salarial de 47,17%. A percentagem é resultado da soma da reposição da inflação dos últimos doze meses (6,61%), do reajuste real (20%) e da primeira de três parcelas de perdas contabilizadas em anos anteriores. O Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom-PR) informou que, conforme o Dieese, as perdas salariais acumuladas entre 1994 e 2004 chegam a 52,53%.

?Também queremos a elevação do piso salarial da categoria de R$ 448,00 para R$ 932,00?, disse o secretário-geral do Sintcom-PR, Nilson Rodrigues dos Santos. ?Hoje, enquanto alguns diretores ganham cerca de R$ 17 mil, os carteiros em início de carreira ganham apenas R$ 448,00. Isto é injusto, pois os trabalhadores da área operacional são o cartão de visita e dão credibilidade aos Correios. Ao contrário de alguns representantes da cúpula da empresa, eles não se envolvem com desvio de dinheiro e corrupção.?

De acordo com o sindicato, os Correios têm 107,8 mil carteiros, operadores de triagem, atendentes e funcionários administrativos em todo o Brasil. Destes, cerca de 5.600 estão no Paraná. Por dia, segundo dados de 2003, a empresa movimenta cerca de 33 milhões de objetos. Por ano, são cerca de 8,3 bilhões, atendendo a cerca de 45 milhões de residências e estabelecimentos comerciais em território nacional.

Também em 2003, ?a empresa registrou lucro líquido de R$ 288 milhões. No ano seguinte, os Correios tiveram um lucro da ordem de R$ 316,9 milhões. A receita líquida chegou a R$ 6,7 bilhões em 2004, R$ 1,1 bilhão superior a 2003?. O Sintcom mantém uma comissão nacional de negociação em Brasília (DF). O grupo aguarda ser chamado para audiências com representantes da diretoria dos Correios.

Avaliação

No final da manhã de ontem, a assessoria de imprensa dos Correios no Paraná divulgou que a adesão dos trabalhadores à greve no estado está sendo considerada pequena, entre 10% e 15%, e que o funcionamento da maioria das agências, centros de triagem e distribuição se manteve normal. A empresa considera impraticável conceder o reajuste de 47,17%, alegando que ?o custo financeiro da concessão seria três vezes o valor do faturamento total dos Correios em um ano?. A proposta, que não vem sendo aceita pelo Sintcom, é de reajuste de 11,9% (pago em duas parcelas, uma agora e outra em janeiro), abono de R$ 600 e dois vale-cestas básicas extras, um em dezembro e outro em janeiro.

Presença da polícia causa tensão

Rhodrigo Deda, com agências

Em Curitiba, dois carros com policiais federais e seis carros da tropa de choque da Polícia Militar (PM), com aproximadamente 15 integrantes, estiveram na sede estadual da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), a pedido da direção paranaense da empresa por volta das 15h, com o objetivo de liberar o tráfego de um caminhão que estaria carregado com cartas e outros materiais. Com clima tenso, negociações dos sindicalistas com a diretoria local da ECT, a Polícia Federal (PF) e a PM – que contou com a intermediação do vereador Tadeu Veneri (PT) -, concluíram no fim da tarde que os materiais dos Correios só sairão do local se for concedido mandado judicial. Os policiais federais estavam armados com metralhadoras e escopetas.

A regional da ECT no Paraná informou que foi pedido apoio da polícia para que fossem desbloqueadas a entrada da sede, para que as pessoas pudessem trabalhar. Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná (Sintcom-PR), Nilson Rodrigues dos Santos, a entrada de funcionários que estão trabalhando não foi e não será interrompida, mas carros de empresas e táxis serão barrados pelos grevistas.

Gás pimenta

Em São Paulo, a polícia usou gás pimenta para dispersar funcionários dos Correios que tentaram impedir a saída de caminhões do centro operacional da empresa em Moema (zona sul), na manhã de ontem. Um representante do Sintcom-SP, Daniel Reis, foi preso. A manifestação acabou sendo dispersada e os caminhões saíram normalmente. Segundo a direção da empresa, 28% dos funcionários em São Paulo aderiram à paralisação. De acordo com o sindicato da categoria, a adesão é de 85%. A greve é feita principalmente por carteiros e funcionários dos centros de triagem.

No Rio de Janeiro, a greve teve adesão de 20% dos 14 mil servidores da ECT no estado, segundo informou o órgão. Já o comando de greve estima que 60% dos funcionários tenham parado. As 490 agências ficaram abertas, mas, com a paralisação parcial do pessoal das áreas de transporte e distribuição, as entregas de cartas deverão sofrer atrasos.

De manhã, a polícia foi acionada para garantir a saída de caminhões com encomendas da sede dos Correios no Rio, no centro da capital. De acordo com o Sintcom-RJ, a triagem das cartas não está sendo feita. Hoje, haverá passeata pelas ruas do centro, seguida de assembléia. O sindicato espera reunir três mil pessoas.

Em Belo Horizonte, os funcionários da ECT fizeram uma passeata pelas ruas do centro da capital.

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